segunda-feira, 22 de junho de 2020

UM CASAL EM UM PAÍS SOVIÉTICO. UMA HISTÓRIA DE AMOR. UMA HISTÓRIA DE FÉ



SÉRIE TESTEMUNHOS

Mari nasceu na Estônia, durante o regime comunista, e não sabia nada de Deus, nem do cristianismo. Um dia decidiu ir à Missa do Galo na catedral católica e sua vida mudou. Como contar ao seu namorado? Veja aqui "as surpresas de Deus". 


Parte 1. 



Conheci Teet em 1964, quando tinha cinco anos, na escola primária de Tallin. Estudamos no mesmo instituto e, à medida que fomos crescendo, ficamos amigos. Ambos apaixonados por música e por muitas outras questões das quais não se podia falar em voz alta durante o período soviético. 

Depois da escola primária e da secundária, voltamos a nos encontrar no Conservatório. Como a maioria dos estônios, ele é um homem reservado, aparentemente tímido, tranquilo e sereno; porém, quando começa a tocar, desenvolve toda sua energia vital e se converte num tsunami.

Eu sou muito mais expansiva/ e, talvez por isso, nomearam-me, aos dezessete anos, secretária do Konsomol da Juventudes Comunistas de Tallin. Não é que fosse uma comunista convencida; simplesmente agradavam-me as atividades que ali se organizavam, como o ping-pong, a ginástica e as excursões, às quais Teet costumava vir. Então era praticamente obrigatório pertencer a essas juventudes ou a algum tipo de organização oficial, para obter uma bolsa de estudos no futuro.  

FOI UMA MUDANÇA INEXPLICÁVEL. AQUELA ILUMINAÇÃO NÃO RESPONDIA NEM À MINHA EDUCAÇÃO, NEM AO MEU TEMPERAMENTO, NEM À MINHA HISTÓRIA.

Além da música, gostávamos de ver monumentos da Cidade Velha. Passear por ali é como abrir um livro de História da Arte. Há vestígios das diversas ocupações que sofremos ao longo dos séculos: da ocupação alemã, da sueca, com a torre da igreja de São Olaf, da russa, com a catedral ortodoxa e suas cúpulas aceboladas... E um dia, nos finais de dezembro de 1976, enquanto passeávamos, Teet me propôs:

-"Po que não vamos à Missa do Galo da Igreja Católica para vermos como é?"

-"Muito bem - disse. E combinamos encontrar-nos na porta da igreja, que está no centro da cidade velha, às seis da tarde. 

Catedral São Pedro e São Paulo

Ao vê-la por dentro levei uma decepção. Era de tamanho mediano, de estilo neogótico. Estava bem cuidada, mas não tinha nenhuma obra de arte de qualidade. Quase todos os fiéis eram lituanos ou poloneses, muitos deles idosos. Salvo Teet e eu, não havia nenhum jovem. 

Eu tinha uma informação superficial e cheia de preconceitos sobre o cristianismo do qual não sabia praticamente nada. E sobre o catolicismo, menos. Tinha ouvido em casa que meu pai tinha sido batizado na igreja ortodoxa e minha mãe na Luterana. Eu, naturalmente, não estava batizada. 

E, (mesmo assim) num determinado momento, durante aquela Missa, pensei: 

-"Este é meu lugar. Quero ser católica!"

Levava presa em meu vestido uma pequena insígnia de metal com a foice e o martelo; arranquei-a de forma dissimulada e a joguei fora.

Foi uma mudança inexplicável. Aquela - como chamá-la - iluminação imprevista não correspondia nem à minha educação, nem ao meu temperamento, nem à minha história pessoal, nem ao ambiente no qual havia crescido. Não foi uma emoção estética: havia visto igrejas muito mais bonitas em Tallin. A música que soava, tão importante em minha vida, não tinha nada de particular. 

Não foi uma emoção, nem um transe. Deus me concedeu uma luz interior profundíssima e uma clareza inefável que me acompanhou desde então, junto com esta certeza:

- "Este é o meu lugar. Quero ser católica!". 

Não sabia nada do catolicismo, salvo que estava chamada a pertencer a ele. Ao terminar, Teet e eu regressamos juntos a casa, como de costume. 

- "O que você achou?"

- "Bem - disse, dissimulando - Interessante.

E continuamos falando de outras coisas.

Não disse nada a Teet, nem a meus pais, naturalmente. E não é que desconfiasse deles, nem de Teet: desejava casar-me com ele o mais cedo possível, mas durante aquele tempo havia uma série de questões das quais somente se falava pouco antes do casamento, quando uma pessoa estava muito segura da outra. 

CONTINUA AMANHÃ. 








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