sábado, 28 de março de 2020

ANIVERSÁRIO DE ORDENAÇÃO SACERDOTAL DE S. JOSEMARÍA ESCRIVÁ






No dia 28 de Março de 1925, Josemaria Escrivá foi ordenado sacerdote na capela do Seminário. No dia 30, celebrou a Missa Nova na Basílica do Pilar, em sufrágio pela alma do pai. Só estavam presentes a mãe, os irmãos e alguns amigos. Desde aquele momento a Santa Missa reafirmou-se como verdadeiro centro da sua vida.

O Natal de 1917-18 foi extremamente frio. O termômetro estabilizou nos 14º negativos por vários dias e a cidade ficou quase paralisada. E num desses dias, a seguir a um forte nevão, um fato aparentemente irrelevante transformou o horizonte da sua vida. Foram umas pegadas na neve: As pegadas de um carmelita, que caminhava de pés descalços por amor a Deus.
Com os irmãos Santiago e Carmen


Ao ver aquelas pegadas, Josemaria experimentou na alma uma profunda inquietação divina, que suscitou nele um forte desejo de entrega. Outros a fazer tantos sacrifícios por Deus e ele - interrogou-se -… não seria capaz de lhe dar nada?

«O Senhor foi-me preparando apesar de mim, com coisas aparentemente inocentes, das quais se valia para meter na minha alma essa inquietação divina. Por isso, entendi muito bem aquele amor, tão humano e tão divino, de Teresa do Menino Jesus, que se comove quando, ao folhear um livro, depara com uma estampa com a mão ferida do Redentor. Também a mim me aconteceram coisas deste gênero, que me comoveram e me levaram à comunhão diária, à purificação, à confissão... e à penitência».

Pode surpreender que um motivo de tão pouca importância – umas pegadas na neve – baste para que um adolescente tome uma decisão tão grande: dedicar a sua vida inteira a Deus; mas é essa a linguagem com que Deus costuma chamar os homens, e assim são as respostas, os sinais de fé, das almas generosas que procuram a Deus com sinceridade. Não foi uma simples reação, emotiva e passageira. «Comecei a pressentir o Amor, a dar-me conta de que o coração me pedia qualquer coisa de grande e que fosse amor. Eu não sabia o que Deus queria de mim, mas era, evidentemente, uma escolha. O que quer que fosse viria depois».

S. Josemaria seminarista

A partir daquele dia foi crescendo na sua alma, de forma cada vez mais impetuosa, a necessidade de conhecer e ter mais intimidade com Cristo na oração e nos sacramentos, especialmente na Eucaristia. Começou a assistir diariamente à Santa Missa.

Decidiu ser sacerdote: pareceu-lhe que era o melhor caminho para estar inteiramente disponível para essa Vontade de Deus que tinha intuído na sua alma —«algo que estava por cima de mim e em mim»—, e cujo alcance último desconhecia.

E depois? Depois… ... «viria o que teria de vir».

Falou com o pai. A José Escrivá custava-lhe a decisão do filho, e mais ainda naquelas circunstâncias familiares, - com efeito, foi a única vez que Josemaria o viu chorar – mas como bom pai cristão aconselhou-o a que falasse da sua inquietação com um sacerdote da cidade, para se certificar se essa era a vontade de Deus. O sacerdote confirmou a José Escrivá a vocação do filho. E, apesar de aquela decisão fosse para eles, de uma perspetiva puramente humana, o que é costume chamar-se "Um sacrifício”, os pais de Josemaria apoiaram o chamamento de Deus com grande sentido sobrenatural.

«Di-lo por aí, ensinava São Josemaria, não é um sacrifício para os pais, que Deus lhe peça os seus filhos; nem, para aqueles que o Senhor chama, é um sacrifício segui-lo. É, pelo contrário, uma honra imensa, um orgulho grande e santo, que Deus manifestou num momento concreto, mas que estava na sua mente desde toda a eternidade».

Em 1918 começou os estudos eclesiásticos no Seminário de Logronho, como aluno externo, como era costume fazerem os seminaristas que viviam nessa cidade; e dois anos depois, em 1920, entrou para o Seminário de São Carlos, de Saragoça.
O Arcebispo de Saragoça, Cardeal Soldevila, que foi assassinado pouco tempo depois por ódio à fé, apercebeu-se logo do dom de gentes, das qualidades espirituais e morais do jovem Josemaria. Via nele um jovem responsável, alegre, com muito bom humor; e em 1922, deu-lhe o cargo de inspetor do seminário. Em 1923, com autorização dos superiores, conseguiu realizar um velho desejo do seu pai e começou também a fazer o curso de Direito na Universidade Civil de Saragoça.

O jovem seminarista ia todos os dias à Basílica do Pilar, muito próxima e confiava a Nossa Senhora os seus anseios e a sua inquietação íntima. "Meio cego, estava sempre à espera do porquê. Por que me faço sacerdote? O Senhor quer alguma coisa, mas que será? E repetia: Domine, ut videam! Ut sit! Que seja isso que tu queres e que eu ignoro. Domina, ut sit!"

Basílica do Pilar 


Passava longos tempos de oração junto do Sacrário na capela do Seminário. Por vezes, durante a noite. "Um dia - contava - pude ficar na igreja depois de fechadas as portas. Dirigi-me à Virgem Maria, com a cumplicidade de um daqueles bons sacerdotes, já falecido, subi os poucos degraus que os meninos do coro conhecem tão bem e, aproximando-me, beijei a imagem da nossa Mãe. Sabia que não era esse o costume, que beijar o manto era permitido apenas às crianças e às autoridades. No entanto tive e tenho a certeza que à minha Mãe do Pilar agradou que, por uma vez, eu fizesse uma exceção aos costumes estabelecidos na sua catedral".

No dia 27 de novembro de 1924, recebeu uma notícia inesperada: era chamado com urgência a Logronho, pois o pai tinha falecido subitamente. "O meu pai morreu esgotado - recordava anos mais tarde - tinha um sorriso nos lábios...". José Escrivá, que tanto o ajudara com a sua generosidade e os seus conselhos, não estaria presente na ordenação sacerdotal do seu filho Josemaría, que guardou dele, sempre vivo, o exemplo de honradez e de espírito de sacrifício. Após a sua morte, passou a ser cabeça de família, com graves problemas econômicos por resolver. 

28 de março de 1925.  Josemaría Escrivá foi ordenado sacerdote na capela do Seminário. no dia 30 celebrou a Missa na Basílica do Pilar, em sufrágio pela alma do pai. Só estavam presentes a mãe, os irmãos e alguns amigos. Desde aquele momento a Santa Missa reafirmou-se como verdadeiro centro da sua vida. Ao longo de sua existência, Deus ir-lhe-ia dando luzes decisivas para a sua missão, durante a celebração da Eucaristia. "Luta por conseguir que o Santo Sacrifício no Altar seja o centro e a raiz da tua vida interior, de maneira que toda a jornada se converta num culto - prolongamento da Missa que ouviste e preparação para a seguinte -, que vai transbordando em jaculatórias, em visitas ao Santíssimo, no oferecimento do teu trabalho profissional e da tua vida familiar...".

Do livro: São Josemaría Escrivá, Miguel Dolz.
Fonte: Spedeus.blogspot.com   - 28 de março de 2020. 












sexta-feira, 27 de março de 2020

A ARRISCADA SEGURANÇA DO CRISTÃO




"Qui habitat in adiutorio Altissimi, in protectione Dei coeli commorabitur.   Habitar sob a proteção de Deus, viver com Deus: esta é a arriscada segurança do cristão. Precisamos persuadir-nos de que Deus nos ouve, de que está com os olhos postos em nós; assim se inundará de paz o nosso coração. Mas viver com Deus é indubitavelmente correr um risco, porque o Senhor não se satisfaz compartilhando: quer tudo. E aproximar-se um pouco mais dEle significa  estarmos dispostos a uma nova conversão, a uma nova retificação, a escutar mais atentamente as suas inspirações, os santos desejos que faz brotar na alma, e a pô-los em prática.



Desde a nossa primeira decisão consciente de vivermos integramente a doutrina de Cristo, não há dúvida de que avançamos muito no caminho da fidelidade à sua Palavra. Mas não é verdade que ainda restam coisas por fazer? Não é verdade que resta sobretudo tanta soberba? É preciso, sem dúvida, uma nova mudança, uma lealdade mais plena, uma humildade mais profunda, de modo que, diminuindo o nosso egoísmo, Cristo cresça em nós, já que illum oportet crescere, me autem minui, é preciso que Ele cresça e eu diminua.


Não é possível ficarmos imóveis. Temos que avançar em direção à meta apontada por São Paulo:  Não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. A ambição é alta e nobilíssima: a identificação com Cristo, a santidade. Mas não existe outro caminho, se desejamos ser coerentes com a vida divina que Deus fez nascer em nossas almas pelo Batismo. Avançar é progredir na santidade; e negar-se ao desenvolvimento normal da vida cristã é retroceder. Porque o fogo do amor de Deus precisa ser alimentado, crescer cada dia, ganhar raízes na alma: e o fogo mantém-se vivo quando se queimam coisas novas. Por isso, se não aumenta, leva caminho de extinguir-se. Lembremo-nos das palavras de Santo Agostinho: "Se disseres basta, estás perdido. Procura sempre mais, caminha sempre, progride sempre. Não permaneças no mesmo lugar, não retrocedas, não te desvies". 


S. Josemaria Escrivá. É Cristo que passa. homilias. São Paulo, Quadrante, Segunda edição, 1976, ponto 58. 

terça-feira, 24 de março de 2020

CAMINHAR PARA CRISTO


CRISTO, PEDRO E A BARCA AGITADA PELAS ONDAS (1)
Lições para enfrentarmos nossas dificuldades. Especialmente nos dias de hoje.

Cristo fizera um milagre portentoso: a multiplicação dos pães e dos peixes. Provavelmente os apóstolos ficaram assombrados e inundados de alegria.
S. Josemaría Escrivá
“Depois de despedir a multidão, Jesus pediu aos Apóstolos que passassem à outra margem do lago, enquanto Ele dedicava um tempo à oração” (2)
“Para eles, especialistas como eram, a travessia não apresentava uma particular dificuldade”. (...)
“Pouco a pouco, a barca foi se afastando da terra, e chegou um momento em que ficou muito lenta. Quando caiu a noite, já a boa distância da margem, a barca era agitada pelas ondas, pois o vento era contrário [3]: não podiam voltar atrás, mas tampouco parecia que avançavam; tinham a impressão de que as ondas e o vento – as dificuldades – tinham assumido o controle e o único que lhes restava era tentar manter-se flutuando”.
“Assustaram-se. Como parecia longínquo agora o milagre que tinham contemplado poucas horas antes! Se ao menos o Senhor estivesse com eles…, mas Ele tinha ficado em terra. Sim, tinha ficado, mas não os tinha deixado sós, não os esquecera: embora eles não o soubessem, contemplava do monte a sua dificuldade, o seu esforço e a sua fadiga” [4].
“É fácil que no início da vida interior se experimente com certa clareza o próprio progresso: aos olhos de quem começa a adentrar-se no mar, a margem se afasta rapidamente. Passa o tempo e, embora se continue lutando e avançando, não se percebe de modo tão patente. Sentem-se mais as ondas e o vento, a margem parece ter ficado fixa num mesmo ponto. É o momento da fé. É o momento de fomentar a consciência de que o Senhor não se desentendeu de nós. É o momento de recordar que as dificuldades – o vento e as ondas – formam, inevitavelmente, parte da vida, dessa existência que temos que santificar e com a qual lidamos sabendo que estamos muito acompanhados por Jesus Cristo”.
“A experiência da proximidade de Deus e do poder da sua graça não nos exime da tarefa de enfrentar as dificuldades. Não podemos pretender que a parte sensível dessa experiência seja permanente; não podemos pretender que, uma vez que estamos perto de Deus, os problemas não nos pesem. E tampouco podemos cair no erro de vê-los como uma manifestação de que o Senhor se afastou de nós, ainda que seja só um pouco e por um breve tempo”.
As dificuldades são precisamente a ocasião de mostrar até que ponto amamos Deus, até que ponto somos bons, com a aceitação serena dos inconvenientes que não pudemos ou não soubemos superar”.

Notas: Os destaques em negrito e as partes em itálico são do blog.