terça-feira, 20 de dezembro de 2011

UM DIA DE NATAL

Sonia Rosalia Refosco de Oliveira




Nasceu o Menino em Belém. O céu ficou mais azul. A Estrela brilha me mostrando o caminho a seguir. Lá estou eu. Observo a cena mais linda que alguém poderia esperar. Por um instante não me atrevo a aproximar-me, tenho receio de ferir a beleza daquele momento com o meu pequeno "eu".


De onde estou, no meu cantinho escondido, posso ver a ternura no olhar de José, a doçura de Maria e a paz do Menino Jesus. Sei que sou atrevido, mas não consigo ficar longe. Preciso, sinto necessidade daquela ternura, daquela doçura e porque não dizer, de toda aquela paz. Quero segurar o bebê em meus braços. Mas... sou tão indigno, tão pequeno... O que posso fazer?


Maria Menina, Maria Doçura, Maria Mãe entende o meu olhar e me oferece, com a pureza do sorriso mais sincero, o Menino Jesus. Maria, minha Mãe, deixou-me segura-Lo, acaricia-Lo, beija-Lo.


Agora eu sei que posso encontrar o Menino nos braços de Sua Mãe todas as vezes que, por tristeza minha, vier a perde-Lo. E Ela que me ama loucamente, permitirá segura-Lo em meus braços sempre que dEla eu me aproximar.



E quando Maria estiver cansada, ajudo José a embalar o Menino. E se você quiser vir comigo, venha! Cantaremos canções de ninar e O beijaremos muito até que adormeça!!!



Um Feliz Natal e um Ano Novo repleto das mais grandiosas graças. São os sinceros desejos da equipe Olivereduc.


Abaixo segue um vídeo como presente de Natal a todos os nossos amigos.



terça-feira, 6 de setembro de 2011

O PAPA E A TRISTE DIVISÃO DOS CATÓLICOS












Valter de Oliveira



Em 12 de março de 2009 o Papa Bento XVI enviou aos bispos do mundo carta na qual explicava as razões “da remissão da excomunhão aos quatro bispos consagrados pelo arcebispo Lefebvre” em 1988. Carta necessária porque a atitude do pontífice “por várias razões suscitou, dentro e fora da Igreja Católica, uma discussão de tal veemência como desde há muito não se tinha experiência”.

O objetivo do artigo de hoje não é a discussão sobre o movimento tradicionalista ou da atitude da Santa Sé a propósito dele. Queremos discutir apenas um ponto destacado na carta: a surpresa do Papa que, ao dar um passo no sentido da reconciliação, viu se desencadear contra ele “uma avalanche de protestos cujo azedume revelava feridas que remontavam mais além do momento”. Tudo porque, devido ao episódio Williamson, “o gesto discreto de misericórdia (...) apareceu como algo completamente diverso: como um desmentido da reconciliação entre cristãos e judeus”. A esse propósito o Papa conta como sentiu as críticas:


"Fiquei triste pelo fato de inclusive católicos, que no fundo poderiam saber melhor como tudo se desenrola, se sentirem no dever de atacar-me e com uma virulência de lança em riste."


Quem teria atacado Bento XVI “de lança em riste”? Não sabemos. Não creio ser temerário supor que devem ser pessoas de alta autoridade na Igreja. Tampouco devem ter sido apenas alguns.

O que nos importa aqui, como já dissemos, é como de tais ataques a carta aproveita para mostrar aos católicos a necessidade de nossa união e da compreensão das prioridades da missão do Santo Padre e da Igreja.

A primeira prioridade para o Sucessor de Pedro foi fixada pelo Senhor, no Cenáculo, de maneira inequivocável: «Tu (…) confirma os teus irmãos» (Lc 22, 32). (...) a prioridade que está acima de todas é tornar Deus presente neste mundo e abrir aos homens o acesso a Deus. Não a um deus qualquer, mas àquele Deus que falou no Sinai; àquele Deus cujo rosto reconhecemos no amor levado até ao extremo (cf. Jo13, 1) em Jesus Cristo crucificado e ressuscitado. O verdadeiro problema neste momento da nossa história é que Deus possa desaparecer do horizonte dos homens e que, com o apagar-se da luz vinda de Deus, a humanidade seja surpreendida pela falta de orientação, cujos efeitos destrutivos se manifestam cada vez mais.

Conduzir os homens para Deus, para o Deus que fala na Bíblia: tal é a prioridade suprema e fundamental da Igreja e do Sucessor de Pedro neste tempo. Segue-se daqui, como consequência lógica, que devemos ter a peito a unidade dos crentes. De fato, a sua desunião, a sua contraposição interna põe em dúvida a credibilidade do seu falar de Deus.

Em conclusão, se o árduo empenho em prol da fé, da esperança e do amor no mundo constitui neste momento (e, de formas diversas, sempre) a verdadeira prioridade para a Igreja, então fazem parte dele também as pequenas e médias reconciliações. O fato que o gesto submisso duma mão estendida tenha dado origem a um grande rumor, transformando-se precisamente assim no contrário duma reconciliação é um dado que devemos registrar. Mas eu pergunto agora: Verdadeiramente era e é errado ir, mesmo neste caso, ao encontro do irmão que «tem alguma coisa contra ti» (cf. Mt 5, 23s) e procurar a reconciliação? Não deve porventura a própria sociedade civil tentar prevenir as radicalizações e reintegrar os seus eventuais aderentes – na medida do possível – nas grandes forças que plasmam a vida social, para evitar a segregação deles com todas as suas consequências? Poderá ser totalmente errado o fato de se empenhar na dissolução de endurecimentos e de restrições, de modo a dar espaço a quanto nisso haja de positivo e de recuperável para o conjunto?


Em suma, temos ao nosso redor bilhões de homens a quem temos o dever de levar a Boa Nova. Nós o fazemos? Ou nos perdemos em lutas menores (ainda que importantes) e nos enrijecemos em nossas posições? Será que usamos corretamente o grande dom da liberdade que nos é dado por Deus? Quando absolutizamos nossos grupos ou tendências não corremos o risco de cair, queiramos ou não, na tentação sectária? O Papa, que nos convida a “arrastar para fora as mesquinharias”, explica-nos um texto de São Paulo:

Amados Irmãos, nos dias em que me veio à mente escrever-vos esta carta, deu-se o caso de, no Seminário Romano, ter de interpretar e comentar o texto de Gal 5, 13-15. Notei com surpresa o caráter imediato com que estas frases nos falam do momento actual: «Não abuseis da liberdade como pretexto para viverdes segundo a carne; mas, pela caridade, colocai-vos ao serviço uns dos outros, porque toda a lei se resume nesta palavra: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Se vós, porém, vos mordeis e devorais mutuamente, tomai cuidado em não vos destruirdes uns aos outros».

O Papa continua:

Sempre tive a propensão de considerar esta frase como um daqueles exageros retóricos que às vezes se encontram em São Paulo. E, sob certos aspectos, pode ser assim. Mas, infelizmente, este «morder e devorar» existe também hoje na Igreja como expressão duma liberdade mal interpretada. Porventura será motivo de surpresa saber que nós também não somos melhores do que os Gálatas? Que pelo menos estamos ameaçados pelas mesmas tentações? Que temos de aprender sempre de novo o recto uso da liberdade? E que devemos aprender sem cessar a prioridade suprema: o amor?"


É bem verdade que se pode dizer que em nome da liberdade muitos erros são defendidos e propagados, inclusive no seio da Igreja. Temos também a obrigação da vigilância. Entretanto temos que ter também o bom senso de saber aglutinar tudo o que há de bom dentro da Santa Igreja de Cristo para defende-la e temos que afervorar o espírito apostólico. Em vários meios, mesmo fora da Igreja, há uma incontável multidão que, apesar das dificuldades, anseia pela verdade e pelo bem plenos. Multidão que quer não apenas ouvir belas palavras, quer ver exemplos de amor e coerência. Ela nada terá, como diz o Papa, enquanto olharmos apenas para nós mesmos. Não esqueçamos: estão nos pedindo pão. Não lhes demos pedras.


O Papa termina invocando Nossa Senhora da Confiança.

“É ela quem nos conduz a Cristo” . Lembremo-nos disso. É Ele a fonte do verdadeiro amor e da verdadeira paz, que está sempre, docemente, misericordiosamente, esperando por nós.



sábado, 16 de julho de 2011

NOSSAS MISÉRIAS E NOSSAS GRANDEZAS






Valter de Oliveira




Quando eu era jovem fiz uma meditação – baseada nos Exercícios Espirituais de S. Inácio de Loyola – sobre a humildade. Lembro-me ainda hoje de uma frase de S. Bernardo:


“Que éramos? Nada. Que somos? Vaso de imundícies. Que seremos? Pasto de vermes”.


Mais ou menos na mesma época tive várias aulas sobre o Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, escrito por S. Luis de Montfort. O objetivo era fazermos a Consagração à Virgem como a propunha o grande santo que ensina que, para sermos fiéis filhos de Maria temos que “despojar-nos do que há de mau em nós. E não é pouca coisa.

“Toda a nossa herança é orgulho e cegueira no espírito, endurecimento no coração, fraqueza e inconstância na alma, concupiscência, paixões revoltadas e doenças no corpo. Somos, naturalmente, mais orgulhosos que os pavões, mais apegados à terra que os sapos, mais feios que os bodes, mais invejosos que as serpentes, mais glutões que os porcos, mais coléricos que os tigres e mais preguiçosos que as tartarugas, mais fracos que os caniços, e mais inconstantes do que um catavento. Tudo que temos em nosso íntimo é nada e pecado, e só merecemos a ira de Deus e o inferno eterno”. (1)

Hoje, passados mais de 40 anos, ainda me recordo vivamente dessas leituras. Um leitor moderno talvez as julgue exageradas e pessimistas. Eram santos que teriam uma visão negativista do homem e do mundo...

Entretanto, um outro homem de Deus, bem próximo de nós, S. Josemaria Escrivá, homem de otimismo e bom humor nos diz:

“Teu maior inimigo és tu mesmo”

E ainda:

“Se és tão miserável, como estranhas que os outros tenham misérias?”

Finalmente:

“Não te aflijas por verem as tuas faltas. A ofensa a Deus e a desedificação que podes ocasionar, isso é o que deve afligir.

-De resto, que saibam como és e te desprezem. – Não tenhas pena de ser nada, porque assim Jesus tem que por tudo em ti”. (2).

Toda essa miséria, tão profunda, aflora ainda mais em nós cada vez que nos envolvemos em certas questões que exigem de nós verdadeiro espírito cristão para agirmos com prudência e fortaleza, justiça e caridade. Às vezes são momentos de crise. Uma crise “não deve ser escamoteada, seja ela de que nível for, sob pena de continuarmos escravos da menoridade. (...) Crise tem o significado de alteração. Seu sentido mais pleno é o da purificação”. (3)

Aí vemos como é difícil ser o que deveríamos ser.

Razão para pessimismo?

Nem de longe. Ferir-se faz parte da luta. Nosso despreparo não nos exime dela.

Nesses momentos, apesar de tudo, é preciso lembrar das palavras do primeiro Papa:

“... vós sois a Geração Eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo escolhido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”. (4)

Em suma, somos nada, pouca coisa que Deus quer fazendo grandes coisas.

Afinal, somos filhos de Deus. De um Deus Menino que se encarnou por nós e nos ama infinitamente. Que não se cansa de nós. Que nos quer sempre a seu lado.

A gratidão para com Deus exige que abramos nossas almas. Assim nosso nada passa a ser tudo. E tudo passa a ser razão de alegria!


Notas:

1. S. Luis Maria Grignion de Montfort. Tratado da Verdadeira Devoção a Nossa Senhora, XI edição. Vozes, Petrópolis, 1981, p.84)

2. S. Josemaria Escrivá. Caminho, 225, 446, 597. Quadrante, São Paulo, 1995.

3. PAIVA, Vanildo de. Filosofia, Encantamento e Caminho, São Paulo, Paulus, 2002. p.38,39.

4. I Pedro 2:9

quinta-feira, 7 de julho de 2011

There Be Dragons - Official Trailer [HD]





Assinado por José Miguel Cejas
Data: 28 de março de 2011





No filme de Roland Joffe There Be Dragons, o cinema apresenta, pela primeira vez, a vida de São Josemaría Escrivá, fundador do Opus Dei. Apesar de não ser um filme biográfico sobre sua figura, o espectador se questiona até que ponto o personagem do filme reflete claramente o verdadeiro personagem. Perguntamos a Constantine Anchel, pesquisador do Centro de Documentação e Estudos Josemaria Escrivá de Balaguer, da Universidade de Navarra.

Charlie Cox como Josemaría


- Josemaría Escrivá é o único personagem real entre os protagonistas do filme There Be Dragons. Embora seja um filme de ficção, você acha que o roteiro de Roland Joffe reflete seu caráter e sua atuação durante os anos abrangidos pelo filme?
Charlie Cox e São Josemaría Escrivá


- Há outros personagens do filme que têm algum suporte histórico neste filme de ficção, por exemplo, os pais de Josemaría e alguns dos primeiros membros do Opus Dei, como Isidoro Zorzano, Juan Jiménez Vargas e Pedro Casciaro. Este filme reflete uma série de traços da personalidade de Escrivá, embora, é claro, ele foi muito mais rico e mais profundo do ponto de vista espiritual e humano. Na minha opinião, Joffe, como roteirista e diretor, está mais preocupado em mostrar o sentido da história e da figura do jovem fundador que para mostrar com detalhe este ou aquele evento. Nesse sentido, a visão oferecida corresponde fielmente à personalidade e aos ensinamentos de São Josemaria: o significado do perdão, o seu zelo pelas almas, etc. Evidentemente, é um drama épico, e não um filme biográfico sobre sua figura. Tem muitos aspectos que não são apresentados, mas isto é um filme. Não é um livro de história.

Rara equanimidade

- No filme temos a impressão de que São Josemaria não toma partido com a divisão que produziu a guerra civil. Qual atitude manteve, realmente, o fundador diante da Segunda República e ante a rebelião militar e a guerra?

- Sua atitude foi sempre verdadeiramente sacerdotal. Na Segunda República sua atitude foi muito semelhante à de muitos outros espanhóis de diferentes tendências. No começo estava a expectativa, mas o aspecto anticlerical de muitas das leis promulgadas desde o início do primeiro governo da República desgostou-o profundamente, como a tantos católicos. Esta situação é agravada pela inação das autoridades diante de muitas das atrocidades que ocorreram contra a Igreja. Por exemplo, no dia 13 maio de 1931, em Madri, diante do perigo da massa popular incendiar o edifício do Patronato dos Enfermos onde morava, teve que mudar de casa com sua mãe e irmãos para um apartamento que estava próximo na rua Viriato, como conta em seu diário íntimo (1). Perante estes fatos, o seu conselho era o mesmo que repetiu muitas vezes ao longo de sua vida: "rezar, perdoar, compreender e desculpar." Nesse sentido, o filme There be dragons reflete muito bem sua insistência na necessidade da compreensão e do perdão. Manteve essa mesma postura durante a guerra civil: ninguém que conviveu com ele durante os turbulentos anos se lembrou de ter ouvido qualquer comentário sobre isso, nem mesmo uma avaliação do papel político e militar de Franco. Por exemplo, José Luis Rodríguez-Candela, que dividiu moradia com o fundador da Legação de Honduras durante vários meses, deixou escrito: “Era assombrosa a sua equanimidade para julgar fatos que por sua gravidade afetavam profundamente a todos”. E acrescentava: “Nunca se pronunciou com ódios nem com rancor ao avaliar qualquer pessoa (...). Doía-lhe o que estava acontecendo (...). E quando os outros celebravam vitórias, dom Josemaria permanecia calado”. Todos se lembram de que desejava com todas as suas forças o fim da guerra e o fim das mortes e do ódio, e sempre pediu perdão e reconciliação. Um de seus biógrafos, Vázquez de Prada, conta que uma vez foi vê-lo uma pessoa cujos parentes foram assassinados pelos comunistas num matagal, na bifurcação de uma estrada. Explicou a dom Josemaria que queria erguer uma grande cruz naquele lugar, em memória dos seus familiares mortos. “Você não deve fazer isso”, disse, "porque te move o ódio, não a cruz de Cristo, mas a cruz do diabo "(2). Outra testemunha privilegiada daquela época foi Pedro Casciaro, um membro do Opus Dei, que era filho de um presidente provincial da Frente Popular. Casciaro conta em seu livro de memórias que Escrivá “Nunca conversava sobre política: queria e rezava pela paz e pela liberdade das consciências, desejava, com seu coração grande e aberto a todos, que todos voltassem e se aproximassem de Deus" ( 3).

- No filme há uma perseguição contra a Igreja Católica, com assassinatos de padres e leigos. Qual foi a atitude de São Josemaria ante esses fatos?

- Sentia uma dor profunda, sempre cheia de perdão. Quando era um refugiado numa casa da rua Sagasta deram-lhe a notícia, como anotou em seu diário Manuel Sainz-los Terreros - do assassinato de um amigo especial, Don Pedro Poveda, fundador do Teresiano, o que lhe causou uma grande dor . Sua reação foi sempre profundamente sobrenatural.

O perdão e a reconciliação

- O filme é uma história de perdão e reconciliação. Será que São Josemaría teve uma maneira especial de viver estas virtudes em eventos na sua vida?

- Sim, porque, como muitos fundadores e pessoas que desbravaram novos caminhos na vida da Igreja, ele sofreu inúmeras incompreensões nos primeiros anos do Opus Dei, especialmente no início dos anos quarenta, na atmosfera rarefeita de sociedade espanhola após a guerra. Sua resposta a esses equívocos foi sempre o perdão. O cardeal Julian Herranz, que conviveu com ele durante muitos anos, relata em seu livro de memórias Deus e audácia que um dia, após sair de uma recepção num lugar de Roma, se encontrou com uma pessoa que o tinha difamado durante anos. Estava chovendo e são Josemaría se aproximou para perguntar se ele tinha meios para ir para sua casa. Esta pessoa disse que não, e o fundador se ofereceu para levá-lo de carro, junto com outro conhecido. Quando o deixaram em casa, esse conhecido disse friamente: - Não o entendo, Padre, esse senhor é uma das pessoas que mais o tem caluniado... E leva-o a sua casa, tão feliz! - Sim, sinto-me feliz, respondeu, porque Deus me deu a oportunidade de viver a caridade de Cristo (3).

- Há momentos no filme que aparece Josemaria mergulhado na dúvida. Foi assim mesmo? Por qual motivo?

- Suponho que se refere aos momentos de dúvida na ermida de Pallerols, na fuga pelos Pireneus. São Josemaria, novamente, naqueles momentos teve as mesmas dúvidas que já havia experimentado em Madri, antes de iniciar essa jornada. O que devia fazer? Manter-se em Madri, onde vivia sua mãe, seus irmãos e alguns membros do Opus Dei, ou tentar passar ao outro lado, onde pudesse exercer livremente o seu ministério sacerdotal, e onde também havia outros membros do Opus Dei para atendê-los espiritualmente? Mais que a incerteza que supunha essa saída clandestina, o que lhe preocupava era saber se estava cumprindo ou não a vontade de Deus. Naquelas circunstâncias, fez algo que nunca fez: pediu um sinal a Deus.

E reconheceu esse “sinal” em uma rosa de madeira estofada (ou dourada, segundo o site: http://www.pt.josemariaescriva.info/artigo/festa-do-encontro-da-rosa), que provavelmente vinha de um retábulo da Virgem, que encontrou entre os destroços daquela ermida (4). No meu parecer, Joffe conseguiu expressar esse episódio com grande vivacidade, numa das sequências mais bonitas e bem-sucedidas do filme.


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Notas
(1) Notas íntimas, n. 202, 20-V-1931, já citada em Vázquez de Prada, A., O Fundador do Opus Dei. A vida de Josemaría Escrivá de Balaguer, vol. I, Rialp, Madrid (1997), p. 359.

(2) Vázquez de Prada, A., O Fundador do Opus Dei. A vida de Josemaría Escrivá de Balaguer, vol. II, Rialp, Madrid (2002), p. 383.

(3) Herranz, J., Deus e audácia, Rialp, Madrid (2011).

(4) Vázquez de Prada, cit., A., vol. II, cap. X.


Padre, soy judía



O video que motivou Roland Joffé a dirigir o filme "There Be Dragons"
(duração: 2:15 min)


O senhor tinha ideias sobre o modo de apresentar a guerra civil espanhola ou sobre alguns personagens, como São Josemaría Escrivá?

Roland Joffé: Eu não sabia muito sobre Josemaría antes de que me pedissem para gravar o filme. Foi assim que aconteceu: um dia, um dos produtores do filme veio à Holanda para me convencer de que o fizesse. Trazia livros e materiais, incluído um DVD sobre Josemaría. Tivemos uma refeição muito agradável e, regressando a casa, a pé, pensava: “Não tenho vontade de fazer este filme. Tenho outro projeto ambientado na Índia e trabalhei muito para alcançá-lo”. Então eu pensava em rejeitá-lo. Era uma noite de verão, de modo que saí ao jardim, com uma taça de vinho na mão, pus o DVD no leitor e me sentei diante do computador para escrever uma breve carta que dizia: “Querido X, muito obrigado. Aprecio que tenha empreendido toda esta viagem, mas penso que verdadeiramente você deveria buscar em outro lugar”. Enquanto isso, o DVD continuava funcionando. Um momento da narração chamou minha atenção: Josemaría se dirigia a uma multidão, no Chile, talvez, ou na Argentina, não estou seguro do lugar, e uma jovem levanta a mão e diz: “Tenho uma pergunta, sou judia”. E Josemaría responde: “Sim, diga-me, por favor”. Ela acrescenta: “Meu mais fervente desejo é me converter ao catolicismo”. Josemaría: “É?” Ela continua dizendo: “Mas sou menor de idade e meus pais não me permitem”. Josemaría responde prontamente: “Seja muito boa com seus pais. Tenha paciência e reze. Não demonstre nenhum gesto de revolta. Está claro? Ame muito os seus pais [...] e jamais uma palavra de crítica a eles. Ame-os com toda alma. E demonstre-o com os fatos. De acordo? Será uma boa filha de Cristo se for uma boa filha de seus pais”. Ao ver esse momento do vídeo, dizia-me: “Que momento maravilhoso! Que momento inesperado, e sobretudo vindo de uma organização da qual todo o mundo esperaria que dissesse o contrário”. Estava lhando para meu computador e dizia: “Espere um momento”. Desliguei o DVD. Deixei de escrever a carta. Pus o chapéu de diretor de cinema e escrevi uma cena, em que Josemaría aparece com um homem, a ponto de morrer, a quem já conhecia, que lhe diz que é judeu e que seu sonho era se converter. Escrevi a cena do começo ao fim, sem deixar de pensar: “tenho realmente vontade de ver isso num filme. Mas não verei nunca, se não fizer o filme, verdade? Ou marcarei esta cena em outro filme?” No lugar da primeira carta, escrevi: “Querido X, estou verdadeiramente interessado neste projeto, com a condição de dispor de toda a liberdade de criação para fazê-lo como quiser, e se você aceitar o fato de que não sou muito brilhante e que farei o melhor possível, mas que tenho de seguir minha própria verdade. Se você estiver de acordo, gostaria verdadeiramente de realizar este projeto”. Isso é mais ou menos o que aconteceu. Eu não tinha nenhuma ideia preconcebida sobre Josemaría. Tinha escutado algo sobre ele, mas sobretudo foi essa passagem do DVD que suscitou meu interesse em realizar o filme.

domingo, 22 de maio de 2011


BRASIL, 5 DE MAIO DE 2011:
O DIA DA VERGONHA


A decisão do STF sobre as uniões homossexuais e a responsabilidade dos católicos


Valter de Oliveira



5 de maio foi um dia de alegria para os defensores da cultura da morte, de vergonha para o Brasil e nossas instituições políticas, de luto para todos os que acreditam nos Dez Mandamentos e no Evangelho de Cristo.

Neste artigo não quero discutir os aspectos jurídicos e políticos da decisão do Supremo Tribunal Federal. Tampouco analisar o desrespeito pela constituição na decisão dos ministros da Suprema Corte. Estes já foram objeto de análise em artigos e blogs. Alguns, começo a colocar em meus sites para conhecimento dos amigos leitores. Hoje, o que quero discutir aqui é a responsabilidade dos católicos na luta em defesa dos valores da fé cristã.

1. Um pouco de história

Desde o século XIX os Papas vem alertando os católicos para a atuação de homens, grupos, partidos, que tinham por objetivo criar uma sociedade radicalmente anticristã e atéia. Também nas fileiras revolucionárias encontramos inúmeros textos que confirmam a preocupação da Igreja. Basta ler os textos dos teóricos do laicismo e dos autores marxistas, sempre contrários à família e à moral “burguesa” e defensores ardentes do amor livre. Mais recentemente todos os seus seguidores dedicaram-se com empenho e muito dinheiro a advogar toda sorte de degradação moral. Mas, para isso, tiveram a habilidade de mudar o valor das palavras e infestaram o linguajar filosociológico de eufemismos. O impuro virou puro, o indigno passou a ser considerado nobre. Tudo o que antes era tido por vergonhoso e que degrada o homem passou a ser defendido em nome da justiça, da igualdade, da não discriminação, do pluralismo, da civilização, e, por incrível que pareça, até da dignidade humana... Não foram essas palavras abundantemente usadas por nossos ministros na votação do último dia 5?

2. Um exemplo: a palavra discriminação

Sobre o uso desta palavra podemos ler no Lexicon, publicado pelo Pontifício Conselho para a Família:

“Provavelmente um dos instrumentos lingüísticos usados com maior regularidade é a pós-moderna “discriminação”, que se tornou hoje o termo pejorativo por excelência. Sua utilização pressupõe uma suposta culpa, uma não inocência. As palavras qualificativas “justo” e “injusto” são sempre ignoradas” (1) (artigo Manipulação da linguagem p. 575.”)

Discriminar, etimologicamente, significa separar, rejeitar, e também elencar, selecionar. Nossos pais ensinavam-nos a evitar certas companhias, tidas como prejudiciais a um sadio crescimento. Tal atitude não era considerada discriminatória, muito pelo contrário.

Com a manipulação da linguagem começou-se a utilizar a palavra nas mais diversas situações e muita gente não viu todos os perigos para a vida moral e social no seu uso... indiscriminado...

Discriminação é apenas uma palavra disseminada pelos ideólogos totalitários e anticristãos do “politicamente correto”. Todas utilizadas para fazer uma baldeação ideológica na opinião pública. Técnica e estratégia perfeitamente conforme a revolução marxista gramsciana.

3. O papel da elite católica

Lamentavelmente nossa elite católica não viu ou não quis ver como essas palavras foram sendo utilizadas por todos os que não aceitam a influência cristã na sociedade. Basta ver que até aqueles que lutam pela fé, criticaram o STF, mas fizeram questão de afirmar que são contra a discriminação!... Caíram na armadilha revolucionária. Deixaram os adversários fazer as regras do jogo.

Digamos que líderes católicos, leigos ou religiosos, não têm a obrigação de conhecer os meandros da política e as complexidades das ideologias. Discordo. Homens e mulheres de fé não podem ser alienados. E todos têm obrigação de, no mundo temporal, exercer a mais plena cidadania.

Na elite clerical temos dois problemas. Um setor simplesmente aderiu ao ideário revolucionário. São todos os que se apaixonaram pela Teologia da Libertação.

Outros decidiram empurrar a doutrina católica, especialmente a que se refere aos valores familiares, para baixo do tapete. A moral cristã, claramente especificada, desapareceu de muitos sermões. Receio de desagradar os fiéis e parecer retrógrados? Ou falta de fé e convicção?

4. Um exemplo: a questão do aborto nas últimas eleições

Na reta final das eleições do ano passado um grupo de bispos e um punhado de valorosos leigos ousou advertir os fiéis sobre os perigos de um eventual governo Dilma e das intenções do PT em avançar em seu trabalho de descristianização da sociedade. O que aconteceu? A cúpula da CNBB criticou os defensores da vida que teriam falado em nome da entidade. Outros bispos silenciaram. Um terceiro grupo, ligado à Teologia da Libertação, saiu em defesa de Dilma e do PT, pretensos defensores dos pobres e da justiça social.

A questão apavorou todos os laicistas. Do governo e da oposição. Ficaram com medo de perder a opinião pública.

Nossa elite perdeu a oportunidade de colocar a questão nos devidos termos. Não soube exigir nem do governo e nem da oposição um compromisso com os valores familiares. Não soube denunciar o projeto da cultura da morte, que é internacional, apoiado pela ONU, grandes capitalistas e todos os partidos pró-marxistas. Bobamente ficou discutindo o passado de Dilma.


A decisão do STF, do dia 5, é uma bofetada na face da elite católica omissa: dos “conservadores” tímidos e eternamente “otimistas” que acreditam que no diálogo científico com nossa oligarquia podem fazer com que os políticos não sigam sua própria ideologia e interesses(2); dos “piedosos” de sacristia cuja visão não ultrapassa os muros das paróquias, dos “progressistas” que dizem que abominam as estruturas do pecado e se associam eufóricos à oligarquia mundial que promove a globalização de Sodoma e Gomorra.

Gostaríamos de lembrar a todos, especialmente aos que se empenharam para a vitória política do ideário petista, que a maior parte dos ministros do STF foi indicada por Lula. E confirmada por seus aliados oligárquicos do Senado.

A partir de agora os que têm autoridade na Igreja vão ter que se defrontar com algumas situações concretas. O que farão, por exemplo, diante de casais gays que quiserem matricular seus filhos adotivos em escolas católicas? Casais gays poderão assistir missa de mãos dadas? E se a lei exigir que os senhores celebrem “casamentos” homossexuais? Diante de questões como essa a quem seguirão: S. Thomas More ou o episcopado cismático da Inglaterra de Henrique VIII.?

No Brasil e no mundo o Tsuname revolucionário avança. Ele não vai se contentar com a vitória obtida no dia da vergonha. As últimas muralhas do Estado de Direito e da decência foram derrubados. Novas minorias vão exigir seus “direitos”. Pedófilos e escravos da bestialidade (ou devemos chamá-los de bestialafetivos?) já receberam o sinal verde dos ilustres magistrados.

Magistrados que mais uma vez podem passar por cima do Legislativo e começar a penalizar católicos “intolerantes” como nós.

Todos eles morrerão. Não demorará muito. Espero que um dia se lembrem que são apenas pó. E que ao transpor os umbrais da morte estarão face a face com Cristo.

Que a Virgem interceda por nossas almas!

Notas:

1. Lexicon, Termos ambíguos e discutidos sobre família, vida e questões éticas. Pontifício Conselho para a Família. Edições CNBB, 1ª edição, 2007.

2. Com isso não quero dizer que um trabalho sério com os detentores do poder não pode e não deva ser realizado. Digo apenas que a classe política desde Maquiavel tem sua própria ética. No geral não mudarão de caminho a não ser por receio de perder sua influência. Até eles reconhecem isso. Uma pinça precisa ter dois lados. Não apenas um.