terça-feira, 2 de novembro de 2021

COMEMORAÇÃO DE TODOS OS FIÉIS DEFUNTOS

 


Para muitas pessoas, o dia de finados é uma data triste, que deveria ser excluída do calendário. Muitos, nesse dia, ficam deprimidos ao recordarem os seus entes queridos que partiram desta vida. Alguns isolam-se, outros viajam para esconder suas mágoas... Porém, poucos conseguem ver que o dia de finados deve ser um momento de reflexão acerca de como anda a nossa conversão. Deve ser um dia de "fecho para balanço", daqueles em que se para tudo, totalizam-se os lucros e os prejuízos e promete-se e permite-se vida nova.

Não podemos esquecer-nos de que um dia estaremos também partindo desta vida. Não podemos ignorar isso pois, como um ladrão na noite, como diz o Evangelho, esse dia chegará. Felizes aqueles que foram "apanhados" em oração, com os Sacramentos em dia.

Muitas pessoas lamentam a "perda" de um pai ou uma mãe e esquecem-se de que eles fizeram apenas uma viagem distante e que estão esperando por nós. Partiram quando o Pai, transbordando de saudades, gritou: - Filho(a), há quanto tempo estás aí! Volta para casa! - e assim foi feito.

Muitos, porém, desses que lamentam a perda de um ente querido, ao invés de serem verdadeiramente santos para, um dia, voltarem a encontrar-se com seus parentes e amigos que partiram desta vida, tomam um outro rumo, ora distanciando-se de Deus e da Sua Igreja ora vivendo uma fé morna, como diz Jesus.

Não percebem que, ao fazer isso, desperdiçam a única oportunidade que têm de rever essas pessoas. É uma pena...

Neste dia 2 de Novembro, que possamos verdadeiramente rever os nossos sonhos, a nossa vida, a nossa fé e, pela glória de Deus, mudar de rumo, se necessário for.

(Fonte: Evangelho Quotidiano)

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

JÓ E O SOFRIMENTO

 


JÓ E O SOFRIMENTO

Jó, diz a Sagrada Escritura, era um homem temente a Deus, que tinha recebido inúmeras bênçãos do Senhor. Era rico, tinha toda sorte de bens e uma numerosa descendência. Os antigos acreditavam que tal riqueza era um prêmio por suas virtudes.

Aí surge Satanás que diz a Deus que Jó deixaria de ser bom caso perdesse os bens. O desafio foi aceito. Primeiro ele perdeu os bens materiais, depois os filhos. Continuou louvando ao Altíssimo. O demônio sugere nova prova: a perda de sua saúde. A doença foi duríssima: ele ficou todo chagado. Perdeu a fé? Não. Continuou a abençoar o Senhor.

Francisco Fernando Carvajal comenta:

“O Livro de Jó propõe “o problema do sofrimento do homem inocente com toda a clareza: o do sofrimento sem culpa. Jó não foi castigado; não havia razão para lhe ser infligida uma pena, e não obstante foi submetido a uma prova duríssima”7. Depois desta prova, Jó sairá fortalecido na sua virtude, que não dependia da sua situação confortável nem dos benefícios que tinha recebido de Deus. Mas “o Livro de Jó não é a última palavra da Revelação sobre este tema. De certo modo, é um anúncio da Paixão de Cristo”8, a única que pode trazer luz ao mistério do sofrimento humano, e de modo especial à dor do inocente.

Tanto amou Deus o mundo, que lhe deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna9. A dor muda radicalmente de sinal com a Paixão de Cristo. “É como se Jó a tivesse pressentido quando disse: Eu sei que o meu Redentor vive, e que no último dia [...] verei na minha própria carne o meu Deus (Jó 19, 25); e que para ela tivesse orientado o seu próprio sofrimento, o qual, sem a Redenção, não teria podido revelar-lhe a plenitude do seu significado. Na Cruz de Cristo, não só se realizou a Redenção através do sofrimento, mas também o próprio sofrimento humano foi redimido. Cristo – sem culpa nenhuma própria – tomou sobre si todo o mal do pecado”10. Os padecimentos de Jesus foram o preço da nossa salvação11. Desde então, a nossa dor pode unir-se à de Cristo e assim participar da Redenção de toda a humanidade. “Esta foi a grande revolução cristã: converter a dor em sofrimento fecundo; fazer, de um mal, um bem. Despojamos o diabo dessa arma...; e, com ela, conquistamos a eternidade”12.

A DOR NUNCA PASSA ao nosso lado deixando-nos como antes. Purifica a alma, eleva-a, aumenta o grau de união com a vontade divina, ajuda-nos a desprender-nos dos bens, do excessivo apego à saúde, faz-nos corredentores com Cristo..., ou, pelo contrário, afasta-nos do Senhor e deixa a alma entristecida e entorpecida para as coisas sobrenaturais. Quando Simão Cireneu foi requisitado para ajudar Jesus a carregar a Cruz, submeteu-se a contragosto. Foi forçado13, escreve o Evangelista. Nos primeiros momentos, só olhava para a Cruz, e a Cruz era um simples madeiro pesado e incômodo. Depois, desviou a vista do madeiro para o réu, aquele homem totalmente singular que ia ser condenado. E então tudo mudou: ajudou Jesus com amor e mereceu o prêmio da fé para si e para os seus dois filhos, Alexandre e Rufo14.

Cada um de nós deve também olhar menos para a cruz e mais para Cristo, no meio das suas provas e tribulações. Compreenderemos então que carregar a Cruz tem sentido quando a levamos junto com o Mestre. “O desejo mais ardente do Senhor é acender nos nossos corações essa chama de amor e de sacrifício que abrasa o seu. E por pouco que correspondamos a esse desejo, o nosso coração converter-se-á num foco de amor que consumirá pouco a pouco essas escórias acumuladas pelas nossas culpas e nos transformará em vítimas de expiação, alegres por conseguirmos, à custa de alguns sofrimentos, uma maior pureza, uma união mais estreita com o Amado; alegres também por completarmos a Paixão do Salvador pelo bem da Igreja e das almas (Col 1, 24) [...]. Aos pés do Crucificado, compreendemos que, neste mundo, não é possível amar sem sacrifício, mas que o sacrifício é doce para quem ama”15.

Fonte: Francisco Fernandez Carvajal, Excerto de Falar com Deus, “Jó e o sofrimento”, meditação de 27 de setembro.


domingo, 26 de setembro de 2021

S. BERNARDO DE CLARAVAL E O CONDENADO À MORTE

 


“A narrativa é extraída do Exordium Cisterciense, liv. II, cap. 15.

 

       “Certo dia, quando o abade se encaminhava para a corte de Teobaldo onde uns assuntos o chamavam, deparou-se lhe um grupo de soldados que conduziam o prisioneiro ao cadafalso. Compadecido com a cena, apoderou-se da corda com que era conduzido o condenado, e fez esta estranha proposta aos verdugos: “entregai-me este criminoso e executá-lo-ei com as minhas próprias mãos”. Naquele momento aproximou-se o conde. O seu espanto foi profundo ao ver o santo, que estimava como um pai, entre os assassinos e os oficiais de justiça, mas recrudesceu ao escutar a petição do seu amigo. “Venerável pai, (bradou) que significa isto? Por que pretendeis salvar a vida de um homicida que mereceu a morte centenas de vezes? É um filho de Satanás incorrigível e o melhor serviço que podemos prestar-lhe é privá-lo da vida; os interesses da sociedade exigem a sua morte (1). Estas palavras eram, na verdade, pouco lisonjeiras para o homem, mas o santo não desanimou. “Sei eu este homem é merecedor da morte (replicou), e não tenciono deixa-lo partir sem punição. Ao contrário, penso submete-lo a um castigo severo e perpétuo. Vós suspendê-lo-eis no cadafalso onde em breve se escaparia ao vosso poder; mas por minha parte, amarrá-lo-ei a uma cruz onde viverá em sofrimento durante muitos anos”.

    Teobaldo não formulou mais objeções; talvez conjeturasse que pouca diferença existia entre a vida em Claraval e o cadafalso. Portanto, Bernardo, colocando o seu capuz no malfeitor, ao qual deu o nome de Constantino, levou-o em triunfo para o monastério. Constantino não se mostrou ingrato. Após trinta anos na prática de penitência morreu como um justo e mereceu o título de Abençoado. A sua memória é evocada a 16 de março.

Nota:

1.     Aqui entram duas ideias. Primeiro: sendo ele um assassino contumaz sendo executado não iria cometer novos crimes. Seria um bom serviço para ele porque sua pena na outra vida seria menor. Segundo: seria uma legítima defesa da sociedade que deixaria de ser vítima de futuros crimes.

Fonte:

Luddy, Ailbe J. Bernardo de Claraval, trad. de Eduardo Saló, Lisboa, edit. Asper, s/data. p. 161-152.

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

CRISTO E A GRANDEZA DA MISERICÓRDIA

 




“A misericórdia será o núcleo central da pregação de Cristo e a principal razão dos seus milagres. E, seguindo os seus passos, a Igreja também “cerca de amor todos os afligidos pela fraqueza humana; mais ainda, reconhece nos pobres e sofredores a imagem do seu Fundador pobre e sofredor. Faz o possível por mitigar‑lhes a pobreza e neles procura servir a Cristo”.

 

A misericórdia das obras corporais

 

Que outra coisa podemos nós fazer, se queremos imitar o Mestre e ser bons filhos da Igreja? Temos diariamente diversas oportunidades de pôr em prática os ensinamentos de Jesus a respeito do nosso comportamento perante a dor e a necessidade. É uma atitude compassiva e misericordiosa que não espera por ocasiões excepcionais, como visitar um preso ou um doente, ou socorrer alguém que está à beira de morrer de fome, mas vai‑se exercitando nas pequenas ocasiões do dia e com aqueles que se têm ao lado. (...)

Imitar Jesus na sua atividade misericordiosa para com os mais necessitados significa consolar e acompanhar os que se encontram sós, os doentes, os que passam pelas agruras de uma pobreza envergonhada ou descarada. Faremos nossa a dor que suportam, ajudá‑los‑emos a santificá‑la, e procuraremos solucionar esse estado na medida em que nos for possível. Quanto podemos confortar essas pessoas com uma visita oportuna, com uma conversa simples e amável, bem preparada, procurando dar às nossas palavras e comentários um tom sobrenatural que deixe no doente ou no idoso uma luz de fé e confiança em Deus! Com delicadeza e oportunidade, atrever‑nos‑emos a prestar‑lhes alguns serviços, a arrumar‑lhes a cama, a ler‑lhes um trecho de algum livro ameno e mesmo divertido.

 

A misericórdia das obras espirituais

 

UNGIU‑ME PARA EVANGELIZAR os pobres (...).

 Não há maior pobreza do que a provocada pela falta de fé, nem cativeiro e opressão maiores do que esses que o demônio exerce sobre quem peca, nem cegueira mais completa do que a da alma que ficou privada da graça: “O pecado produz a mais dura das tiranias”, afirma São João Crisóstomo8.

Se a maior desgraça, o pior desastre que existe é afastar‑se de Deus, a nossa maior obra de misericórdia será, em muitas ocasiões, aproximar os nossos familiares e amigos dos sacramentos, fontes de vida, e especialmente da Confissão. Se sofremos com as penas, doenças e desgraças que os afligem, como não nos havemos de doer se vemos que não conhecem Jesus Cristo, que não o procuram ou se afastaram dEle? A verdadeira compaixão, a grande obra de misericórdia começa pelo apostolado.

Quanto bem não faz a mãe que ensina o catecismo aos seus filhos, e talvez aos amigos dos seus filhos! Que enorme recompensa não reservará o Senhor aos que dedicam com generosidade o seu tempo a um trabalho de formação doutrinária cristã, aos que aconselham um livro adequado que ilustra a inteligência e desperta os afetos do coração! É abrir aos outros o caminho que conduz a Deus; não há outra necessidade maior que esta.

Cada dia é mais necessário pedir ao Senhor um coração misericordioso para todos, pois na medida em que a sociedade se desumaniza, os corações tornam‑se duros e insensíveis, e cada qual tende a viver exclusivamente para si próprio. A justiça é uma virtude fundamental, mas só a justiça não basta; é necessária, além dela, a caridade. Por muito que melhore a legislação trabalhista e social, sempre será necessário proporcionar aos outros o calor de um coração humano, fraternal e amigo, que se abeira compassivamente dos homens como filhos de Deus que são, pois, a misericórdia “não se limita a socorrer os necessitados de bens econômicos; o seu primeiro propósito é respeitar e compreender cada indivíduo como tal, na sua intrínseca dignidade de homem e de filho do Criador”11.

A misericórdia leva‑nos a perdoar prontamente e de todo o coração, mesmo quando aquele que nos ofende não manifesta o menor arrependimento. O cristão não guarda rancores na alma; não se sente inimigo de ninguém. Devemos esforçar‑nos por estimar mesmo os que são infelizes por culpa própria, ou em consequência da sua própria maldade. O Senhor só quer saber se esta ou aquela pessoa é infeliz, se sofre, “pois isso basta para que seja digna do teu interesse. Esforça‑te por protegê‑la contra as suas más paixões, mas desde o momento em que sofre, sê misericordioso. Amarás o teu próximo, não por ele o merecer, mas por ser o teu próximo”

 

Extraído de “Falar com Deus”, Francisco Fernandez Carvajal, meditação de 30 de agosto.

O subtítulos foram acrescentados pelo site.


domingo, 29 de agosto de 2021

CONHECER E IMITAR A VIDA DOS SANTOS




Dois rios de luz

O padre Francisco Faus, usando uma metáfora luminosa, afirma que há dois rios de luz, "que são também os dois pilares inabaláveis onde poderemos apoiar-nos com plena confiança na vida e na morte.

- E quais são esses dois rios?

- O primeiro é formado pelos santos , pela corrente ininterrupta dos santos que, ao longo de toda a história, jamais faltaram na Igreja e que refletem com as suas vidas o "rosto de Cristo". Eles são como tochas acesas pelo Espírito Santo, que, pela sua fidelidade mantém brilhando no mundo a "sinalização divina". Resplandecem como o sol (Mt 13, 43), são as luminárias no mundo (Fil 2, 15), e demonstram que o amor é mais forte do que o mal.

Estou convencido de que hoje, mais ainda do que em outras épocas, todas as pessoas de boa vontade - a começar pelos católicos - precisam conhecer e imitar a vida dos santos, precisam ler muitas vidas de santos: serão para todos janelas abertas a panorâmicas desconhecidas, empolgantes, onde verão reverberar a verdade e a bondade de Deus, que infelizmente desconhecem. Não duvide de que a verdade cristã está com os santos, na vida dos santos. No mais humilde deles há mais verdade que nos livros de mil teólogos tíbios ou envaidecidos".

Logo após Padre Faus cita uma homilia de Bento XVI sobre os santos, pronunciada por ele em 1994

"O admirável não é que nessa Igreja - que somos nós - haja pecados. . O admirável é que, apesar de tudo, a Palavra de Deus tenha continuado presente nela através dos séculos, que os Sacramentos permaneçam sempre os mesmos e se renovem uma e outra vez na sua força e frescor incorruptíveis. O admirável é que desse vigor da Palavra de Deus, e apesar de todo o bloqueio que lhe opomos, tenha nascido sempre de novo a renovação da Igreja e do mundo, que em todas as gerações tenham surgido santos. Também hoje os há; e, se não abrirmos os olhos apenas para a suspeita mas também para o bem, poderemos encontrá-los ao nosso redor",

- E o segundo rio?


- O segundo rio é o Magistério autêntico da Igreja (...)"

Falaremos dele no próximo post.

Bibliografia: FAUS, Francisco. Otimismo cristão, hoje: diálogo com um pessimista. São Paulo, Quadrante, 2008, p. 46,47.


sexta-feira, 9 de abril de 2021

A PESCA MILAGROSA E O APOSTOLADO

 

Os Apóstolos partiram de Jerusalém e foram à Galileia, como o Senhor lhes havia indicado. Estão junto do lago, no mesmo lugar ou perto daquele em que um dia Jesus os encontrara e os convidara a segui-lo. Agora voltaram à sua antiga profissão, àquela que tinham quando o Senhor os chamara. Jesus acha-os novamente entregues às suas lides. Estavam juntos Simão Pedro, Tomé, chamado Dídimo, Natanael, que era de Caná da Galileia, os filhos de Zebedeu e outros dois discípulos3. É a hora do crepúsculo. As outras barcas já saíram para a pesca. Disse-lhes Simão Pedro: Vou pescar. Responderam-lhe eles: Nós também vamos contigo. Partiram e entraram na barca. Naquela noite, porém, nada apanharam.

Ao romper da aurora, Jesus apareceu na praia. Jesus ressuscitado vai em busca dos seus discípulos para fortalecê-los na fé e na amizade que lhe dedicam, e para continuar a explicar-lhes a grande missão que os espera. Mas os discípulos não o reconheceram. Estão a uns duzentos côvados, a uns cem metros. Dessa distância, no lusco-fusco, não se distinguem bem os traços de um homem, mas pode-se ouvi-lo se levantar a voz.

Tendes alguma coisa que comer?, pergunta-lhes o Senhor. Não, responderam-lhe. Disse-lhes ele: Lançai a rede à direita da barca e achareis. E Pedro obedece. Lançaram-na, pois, e já não podiam arrastá-la por causa da grande quantidade de peixes. João confirma a certeza interior de Pedro. Inclinando-se para ele, diz-lhe: É o Senhor! Pedro, que se contivera até aquele momento, salta como que impelido por uma mola. Não espera que as barcas cheguem à praia.

Na ausência de Cristo, tinham trabalhado inutilmente em plena noite, por conta própria; tinham perdido o tempo. Pela manhã, já com luz, quando Jesus está presente, quando é Ele que ilumina com a sua palavra, quando é Ele que orienta a faina, as redes chegam à margem cheias de peixes.

Acontece o mesmo em cada um dos nossos dias. Na ausência de Cristo, o dia se faz noite; e o trabalho, estéril: não passa de mais uma noite, de uma noite vazia na vida. Para obtermos frutos, não bastam os nossos esforços; necessitamos de Deus. Ao lado de Cristo, quando o temos presente, os nossos dias enriquecem-se. A dor e a doença convertem-se num tesouro que perdura além da morte; e a convivência com os que nos rodeiam torna-se um mundo de possibilidades de fazer o bem.

O drama de um cristão começa quando deixa de ver Cristo na sua vida; quando a tibieza, o pecado ou a soberba nublam o seu horizonte; quando faz as coisas como se Jesus não estivesse a seu lado, como se Ele não tivesse ressuscitado. Devemos pedir muito à Virgem que nos ajude a reconhecer o seu Filho no meio dos acontecimentos da vida; que possamos dizer muitas vezes: É o Senhor!


Extraído de "Falar com Deus" - Francisco Fernández Carvajal, meditação de 09 de abril de 2021. 

domingo, 4 de abril de 2021

MEDITAÇÃO DE D. JAVIER ECHEVARRÍA - DOMINGO DE PÁSCOA

 DOMINGO DA RESSURREIÇÃO: JESUS VENCEU

Passado o Sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé, compraram perfumes para irem embalsamar Jesus. Partindo no primeiro dia da semana, de manhã cedo, chegaram ao sepulcro quando o sol já era nascido . Assim começa São Marcos a narração do sucedido naquela madrugada de há dois mil anos, na primeira Páscoa cristã.

Jesus tinha sido sepultado. Aos olhos dos homens, a Sua vida e a Sua mensagem tinham terminado com o mais rotundo fracasso. Os Seus discípulos, confusos e atemorizados, tinham-se dispersado. As próprias mulheres que vão fazer um gesto piedoso, perguntam umas às outras: quem nos tirará a pedra da entrada do sepulcro? "No entanto, faz notar S. Josemaria, continuam... Tu e eu, como andamos de vacilações? Temos esta decisão santa, ou temos de confessar que sentimos vergonha ao contemplar a decisão, a intrepidez, a audácia destas mulheres?".

Cumprir a Vontade de Deus, ser fiéis à lei de Cristo, viver coerentemente a nossa fé, pode parecer às vezes muito difícil. Apresentam-se obstáculos que parecem insuperáveis. No entanto, não é assim. Deus vence sempre.

A epopeia de Jesus de Nazaré não termina com a Sua morte ignominiosa na Cruz. A última palavra é a da Ressurreição gloriosa. E os cristãos, no Baptismo, morremos e ressuscitamos com Cristo; mortos para o pecado e vivos para Deus. «Oh Cristo! – dizemos com o Santo Padre João Paulo II – como não Lhe agradecer pelo dom inefável que nos ofereces esta noite! O mistério da Tua Morte e Ressurreição infunde-se na água baptismal que acolhe o homem velho e carnal e o torna puro com a própria juventude divina» (Homilia, 15-IV-2001).

Hoje a Igreja, cheia de alegria, exclama: este é o dia que o Senhor fez: alegremo-nos e rejubilemos! Grito de júbilo que se prolongará durante cinquenta dias, ao longo do tempo pascal, como um eco das palavras de São Paulo: posto que ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto, onde está Cristo sentado à direita de Deus. Ponde todo o coração nos bens do céu, não nos da terra; porque morreram e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus .

É lógico pensar – e assim o considera a Tradição da Igreja – que Jesus Cristo, uma vez ressuscitado, apareceu em primeiro lugar à Sua Santíssima Mãe. O facto de que não apareça nos relatos evangélicos, com as outras mulheres, é – como assinala João Pulo II – um indício de que Nossa Senhora já se tinha encontrado com Jesus.

«Esta dedução ficaria confirmada também – acrescenta o Papa – pelo dado de que as primeiras testemunhas da ressurreição, por vontade de Jesus, foram as mulheres, as que permaneceram fiéis ao pé da Cruz e, portanto, mais firmes na fé» (Audiência, 21-V-1997). Só Maria tinha conservado plenamente a fé, durante as horas amargas da Paixão; por isso é natural que o Senhor Lhe aparecesse em primeiro lugar.

Temos que permanecer sempre junto da Virgem, mas mais ainda no tempo de Páscoa, e aprender d'Ela. Com que ânsias tinha esperado a Ressurreição! Sabia que Jesus tinha vindo salvar o mundo e que, portanto, devia padecer e morrer; mas sabia também que não podia ficar sujeito à morte, porque Ele é a Vida.

Uma boa forma de viver a Páscoa consiste em esforçarmo-nos por fazer os outros participantes da vida de Cristo, cumprindo com primor o mandamento novo da caridade, que o Senhor nos deu na véspera da Sua Paixão: nisto conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros . Cristo ressuscitado repete-no-lo agora a cada um. Diz-nos: amai-vos de verdade uns aos outros, esforçai-vos todos os dias por servir os outros, estai pendentes dos mais pequenos pormenores, para fazer a vida agradável aos que convivem convosco.

Mas voltemos ao encontro de Jesus com a Sua Santíssima Mãe. Que contente estaria a Virgem, ao contemplar aquela Humanidade Santíssima – carne da Sua carne e vida da Sua vida – plenamente glorificada! Peçamos-Lhe que nos ensine a sacrificarmo-nos pelos outros sem o fazermos notar, sem esperar sequer que nos agradeçam; que tenhamos fome de passar inadvertidos, para assim possuir a vida de Deus e comunicá-la a outros. Hoje dirigimos-Lhe o Regina Caeli, saudação própria do tempo pascal. Rainha do céu alegrai-vos, aleluia. / Porque Aquele que mereceste trazer em vosso ventre, aleluia. / Ressuscitou como disse, aleluia. / Rogai por nós a Deus, aleluia. / Alegrai-vos e exultai, ó Virgem Maria, aleluia. / Porque o Senhor ressuscitou verdadeiramente, aleluia.


https://opusdei.org/pt-pt/article/textos-do-prelado-para-a-semana-santa/#domingo-pascoa


sábado, 3 de abril de 2021

MEDITAÇÕES DE D. JAVIER ECHEVARRÍA - SÁBADO SANTO

 SÁBADO SANTO: SILÊNCIO E CONVERSÃO


Hoje é dia de silêncio na Igreja: Cristo jaz no sepulcro e a Igreja medita, admirada, o que fez por nós este Senhor nosso. Guarda silêncio para aprender do Mestre, ao contemplar o Seu corpo destroçado.

Cada um de nós pode e deve unir-se ao silêncio da Igreja. E ao considerar que somos responsáveis por essa morte, esforçamo-nos para que guardem silêncio as nossas paixões, as nossas rebeldias, tudo o que nos afaste de Deus. Mas sem estarmos meramente passivos; é uma graça que Deus nos concede quando lhe pedimos diante do Corpo morto do Seu Filho, quando nos empenhamos em tirar da nossa vida tudo o que nos afaste d'Ele.

O Sábado Santo não é um dia triste. O Senhor venceu o demónio e o pecado e dentro de poucas horas vencerá também a morte com a Sua gloriosa Ressurreição. Reconciliou-nos com o Pai celestial; já somos filhos de Deus! É necessário que façamos propósitos de agradecimento, que tenhamos a segurança de que superaremos todos os obstáculos, sejam do tipo que forem, se nos mantemos bem unidos a Jesus pela oração e os sacramentos.

O mundo tem fome de Deus, embora muitas vezes não o saiba. As pessoas desejam que se lhes fale desta realidade gozosa – o encontro com o Senhor – e para isso estão os cristãos. Tenhamos a valentia daqueles dois homens – Nicodemos e José de Arimateia – que durante a vida de Jesus Cristo mostravam respeitos humanos, mas que no momento definitivo se atrevem a pedir a Pilatos o corpo morto de Jesus, para lhe dar sepultura. Ou a daquelas mulheres santas que, quando Cristo é já um cadáver, compram aromas e vão embalsamá-lo, sem terem medo dos soldados que guardam o sepulcro.

À hora da debandada geral, quando toda a gente se sentiu com direito a insultar, a rir-se e a zombar de Jesus, eles vão dizer: dá-nos esse Corpo, que nos pertence. Com que cuidado o desceriam da Cruz e iriam olhando para as Suas Chagas! Peçamos perdão e digamos, com palavras de S. Josemaria Escrivá: subirei com eles ao pé da Cruz, apertarei o Corpo frio, cadáver de Cristo, com o fogo do meu amor..., retirar-lhe-ei os cravos com os meus desagravos e mortificações..., envolvê-Lo-ei com o pano novo da minha vida limpa e enterrá-Lo-ei no meu peito de rocha viva, donde ninguém m'O poderá arrancar, e aí, Senhor, descansai!

Compreende-se que colocassem o corpo morto do Filho nos braços da Mãe, antes de lhe dar sepultura. Maria era a única criatura capaz de Lhe dizer que entende perfeitamente o Seu Amor pelos homens, pois não foi Ela a causa dessas dores. A Virgem Puríssima fala por nós; mas fala para nos fazer reagir, para que experimentemos a Sua dor, feita uma só coisa com a dor de Cristo.

Retiremos propósitos de conversão e de apostolado, de nos identificarmos mais com Cristo, de estar totalmente pendentes das almas. Peçamos ao Senhor que nos transmita a eficácia salvadora da Sua Paixão e Morte. Consideremos o panorama que se nos apresenta pela frente. As pessoas que nos rodeiam, esperam que os cristãos lhes descubram as maravilhas do encontro com Deus. É necessário que esta Semana Santa – e depois todos os dias – sejam para nós um salto de qualidade, pedir ao Senhor que se meta totalmente nas nossas vidas. É preciso transmitir a muitas pessoas a Vida nova que Jesus Cristo nos conseguiu com a Redenção.

Socorramo-nos de Santa Maria: Virgem da Soledade, Mãe de Deus e Mãe nossa, ajuda-nos a compreender – como escreve S. Josemaria – que é preciso fazer da nossa vida a vida e a morte de Cristo. Morrer pela mortificação e penitência, para que Cristo viva em nós pelo Amor. E seguir então os passos de Cristo, com afã de corredimir todas as almas. Dar a vida pelos outros. Só assim se vive a vida de Jesus Cristo e nos fazemos uma só coisa com Ele .

https://opusdei.org/pt-pt/article/textos-do-prelado-para-a-semana-santa/#sabado


sexta-feira, 2 de abril de 2021

MEDITAÇÃO DE D. JAVIER ECHEVARRÍA - SEXTA-FEIRA SANTA

 SEXTA-FEIRA SANTA: CRISTO NA CRUZ

Hoje queremos acompanhar Cristo na Cruz. Recordo umas palavras de S. Josemaria Escrivá, numa Sexta-feira Santa. Convidava-nos a reviver pessoalmente as horas da Paixão; da agonia de Jesus no Horto das Oliveiras até à flagelação, a coroação de espinhos e a morte na Cruz. Dizia: Ligada a omnipotência de Deus por mão humana, levam o meu Jesus de um lado para outro, entre insultos e empurrões da plebe .

Cada um de nós há de ver-se no meio daquela multidão, porque foram os nossos pecados a causa da imensa dor que se abate sobre a alma e o corpo do Senhor. Sim, cada um leva Cristo, convertido em objeto de chacota, de um lado para o outro. Somos nós que, com os nossos pecados, reclamamos aos gritos a Sua morte. E Ele, perfeito Deus e perfeito Homem, deixa fazer. Tinha-o predito o profeta Isaías: maltratado, não abriu a boca; como cordeiro levado ao matadouro, como ovelha muda diante dos tosquiadores .

É justo que sintamos a responsabilidade dos nossos pecados. É lógico que estejamos muito agradecidos a Jesus. É natural que procuremos a reparação, porque à nossas manifestações de desamor, Ele responde sempre com um amor total. Neste tempo de Semana Santa, vemos o Senhor como que mais próximo, mais semelhante aos Seus irmãos os homens... Meditemos umas palavras de João Paulo II: Quem crê em Jesus leva a Cruz em triunfo, como prova indubitável de que Deus é amor... Mas a fé em Cristo jamais se dá por descontada. O mistério pascal, que revivemos durante os dias da Semana Santa, é sempre atual (Homilia, 24-III-2002).

Peçamos a Jesus, nesta Semana Santa, que desperte na nossa alma a consciência de sermos homens e mulheres verdadeiramente cristãos, para que vivamos cara a Deus e, com Deus, cara a todas as pessoas.

Não deixemos que o Senhor leve sozinho a Cruz. Acolhamos com alegria os pequenos sacrifícios diários.

Aproveitemos a capacidade de amar, que Deus nos concedeu, para concretizar propósitos, mas sem ficarmos num mero sentimentalismo. Digamos sinceramente: Senhor, nunca mais! Nunca mais! Peçamos com fé que nós e todas as pessoas da terra descubramos a necessidade de ter ódio ao pecado mortal e de aborrecer o pecado venial deliberado, que tantos sofrimentos causou ao nosso Deus.

Que grande é o poder da Cruz! Quando Cristo é objeto de escárnio e de zombaria para todo o mundo; quando está no Madeiro sem desejar arrancar os cravos; quando ninguém daria um cêntimo pela Sua vida, o bom ladrão – um como nós – descobre o amor de Cristo agonizante e pede perdão. Hoje estarás comigo no Paraíso . Que força tem o sofrimento, quando se aceita junto de Nosso Senhor! É capaz de retirar – das situações mais dolorosas – momentos de glória e de vida. Esse homem que se dirige a Cristo agonizante, encontra a remissão dos seus pecados, a felicidade para sempre.

Nós temos que fazer o mesmo. Se perdemos o medo à Cruz, se nos unimos a Cristo na Cruz, receberemos a Sua graça, a Sua força, a Sua eficácia. E encher-nos-emos de paz.

Ao pé da Cruz descobrimos Maria, Virgem fiel. Peçamos-Lhe, nesta Sexta-feira Santa, que nos empreste o Seu amor e a Sua fortaleza, para que também nós saibamos acompanhar Jesus. Dirigimo-nos a Ela com umas palavras de S. Josemaria Escrivá, que ajudaram milhões de pessoas. Diz: minha Mãe – tua, porque és seu por muitos títulos – que o teu amor me ate à Cruz do teu Filho; que não me falte a Fé, nem a valentia, nem a audácia, para cumprir a vontade do nosso Jesus .

quinta-feira, 1 de abril de 2021

MEDITAÇÃO DE D. JAVIER ECHEVARRÍA - QUINTA-FEIRA SANTA

 QUINTA-FEIRA-SANTA: INSTITUIÇÃO DA EUCARISTIA

A liturgia de Quinta-feira Santa é riquíssima de conteúdo. É o dia grande da instituição da Sagrada Eucaristia, dom do Céu para os homens; o dia da instituição do sacerdócio, nova prenda divina que assegura a presença real e atual do Sacrifício do Calvário em todos os tempos e lugares, tornando possível que nos apropriemos dos seus frutos.

Aproximava-se o momento em que Jesus ia oferecer a Sua vida pelos homens. Era tão grande o Seu amor, que na Sua Sabedoria infinita encontrou modo de ir e de ficar, ao mesmo tempo. S. Josemaria Escrivá, ao considerar o comportamento dos que se vêm obrigados a deixar a família e a casa, para ganhar o sustento noutras paragens, comenta que o amor do homem recorre a um símbolo: os que se despedem trocam uma recordação, talvez uma fotografia... Jesus Cristo , perfeito Deus e perfeito Homem, não deixa um símbolo, mas a realidade: fica Ele próprio. Irá para o Pai , mas permanecerá com os homens Sob as espécies do pão e do vinho está Ele, realmente presente: com o seu Corpo, o seu Sangue, a sua Alma e a Sua Divindade .

Como corresponderemos a esse amor imenso? Assistindo com fé e devoção à Santa Missa, memorial vivo e atual do Sacrifício do Calvário. Preparando-nos muito bem para comungar, com a alma bem limpa. Visitando com frequência Jesus oculto no Sacrário.

Na primeira leitura da Missa, recorda-se-nos o que Deus estabeleceu no Velho Testamento, para que o povo israelita não esquecesse os benefícios recebidos. Descendo a muitos detalhes: desde como devia ser o cordeiro pascal, até aos pormenores que tinham que cuidar para recordar o trânsito do Senhor. Se isso se prescrevia para comemorar uns factos, que eram apenas uma imagem da libertação do pecado operada por Jesus Cristo, como deveríamos comportar-nos agora, quando fomos verdadeiramente resgatados da escravidão do pecado e feitos filhos de Deus!

É esta a razão pela qual a Igreja nos inculca um grande esmero em tudo o que se refere à Eucaristia. Assistimos ao Santo Sacrifício todos os Domingos e festas de guarda, sabendo que estamos a participar numa ação divina?

São João relata que Jesus lavou os pés aos discípulos, antes da Última Ceia. Temos que estar limpos, na alma e no corpo, para nos aproximamos a recebê-Lo com dignidade. Para isso deixou-nos o sacramento da Penitência.

Comemoramos também a instituição do sacerdócio. É um bom momento para rezar pelo Papa, pelos Bispos, pelos sacerdotes e para pedir que haja muitas vocações no mundo inteiro. Pedi-lo-emos melhor na medida em que tenhamos mais convívio com esse nosso Jesus, que instituiu a Eucaristia e o Sacerdócio. Vamos dizer com total sinceridade, o que repetia S. Josemaria Escrivá: Senhor, põe no meu coração o amor com que queres que Te ame .

Na cena de hoje não aparece fisicamente a Virgem Maria, embora se encontrasse em Jerusalém naqueles dias; encontramo-la de manhã ao pé da Cruz. Mas já hoje, com a Sua presença discreta e silenciosa, acompanha muito de perto o Seu Filho, em profunda união de oração, de sacrifício e de entrega. João Paulo II assinala que, depois da Ascensão do Senhor ao Céu, participaria assiduamente nas celebrações eucarísticas dos primeiros cristãos. E acrescenta o Papa: aquele corpo entregue como sacrifício e presente nos sinais sacramentais, era o mesmo corpo concebido no Seu seio! Receber a Eucaristia devia significar, para Maria, como se acolhesse de novo no Seu seio o coração que tinha batido em uníssono com o Seu (Ecclesia de Eucharistia, 56).

Também agora a Virgem Maria acompanha Cristo em todos os sacrários da terra. Pedimos-Lhe que nos ensine a ser almas de Eucaristia, homens e mulheres de fé segura e de piedade rija, que se esforçam por não deixar Jesus sozinho. Que saibamos adorá-Lo, pedir-Lhe perdão, agradecer os Seus benefícios, fazer-Lhe companhia.

quarta-feira, 31 de março de 2021

MEDITAÇÃO DE D. JAVIER ECHEVARRIA - QUARTA-FEIRA

 QUARTA-FEIRA SANTA: JUDAS ATRAIÇOA JESUS

Na Quarta-feira Santa recordamos a triste história de Judas que foi Apóstolo de Cristo. Assim o relata São Mateus no seu Evangelho: Um dos doze, que se chamava Judas Iscariotes, foi ter com os príncipes dos sacerdotes e disse-lhes: "Que me quereis dar e eu vo-Lo entregarei?". Eles prometeram dar-lhe trinta moedas de prata. E desde então, buscava oportunidade para O entregar .

Porque recorda a Igreja este acontecimento? Para que nos demos conta de que todos podemos comportar-nos como Judas. Para que peçamos ao Senhor que, da nossa parte, não haja traições, nem afastamentos, nem abandonos. Não somente pelas consequências negativas que isto poderia trazer às nossas vidas pessoais, que já seria muito, mas porque poderíamos arrastar outros, que necessitam da ajuda do nosso bom exemplo, do nosso alento, da nossa amizade.

Nalguns locais da América, as imagens de Cristo crucificado mostram uma chaga profunda na face esquerda do Senhor. E dizem que essa chaga representa o beijo de Judas. Tão grande é a dor que os nossos pecados causam a Jesus! Digamos-Lhe que desejamos ser-Lhe fiéis; que não queremos vendê-Lo – como Judas – por trinta moedas, por uma ninharia, que é isso que são todos os pecados: a soberba, a inveja, a impureza, o ódio, o ressentimento... Quando uma tentação ameace arrojar-nos pelo chão, pensemos que não compensa trocar a felicidade dos filhos de Deus, que é o que somos, por um prazer que acaba logo a seguir e deixa o sabor amargo da derrota e da infidelidade.

Temos que sentir o peso da Igreja e de toda a humanidade. Não é formidável saber que qualquer de nós pode ter influência no mundo inteiro? No lugar onde estamos, realizando bem o nosso trabalho, cuidando da família, servindo os amigos, podemos ajudar na felicidade de tantas pessoas. Como escreve S. Josemaria Escrivá, com o cumprimento dos nossos deveres cristãos, temos que ser como a pedra caída no lago. – Produz, com o teu exemplo e com a tua palavra, um primeiro círculo... e depois outro, e outro... e outro, e outro. .. Até chegar aos lugares mais remotos.

Vamos pedir ao Senhor que não O atraiçoemos mais; que saibamos recusar, com a Sua graça, as tentações que o demónio nos apresenta, enganando-nos. Temos que dizer que não, decididamente, a tudo o que nos afaste de Deus. Assim não se repetirá na nossa vida a desgraçada história de Judas.

E se nos sentimos débeis, corramos ao Santo Sacramento da Penitência! Ali espera-nos o Senhor, como o pai da parábola do filho pródigo, para nos dar um abraço e nos oferecer a Sua amizade. Sai continuamente ao nosso encontro, ainda que tenhamos caído baixo, muito baixo. É sempre tempo de regressar a Deus! Não reajamos com desânimo, nem com pessimismo. Não pensemos: que vou eu fazer, se sou um cúmulo de misérias? Maior é a misericórdia de Deus! Que vou eu fazer, se caio uma e outra vez pela minha debilidade? Maior é o poder de Deus, para nos levantar das nossas quedas!

Grandes foram os pecados de Judas e de Pedro. Os dois atraiçoaram o Mestre; um entregando-O nas mãos dos perseguidores, outro renegando-O três vezes. E, no entanto, que diferente reação teve cada um deles! Para os dois guardava o Senhor torrentes de misericórdia.

Pedro arrependeu-se, chorou o seu pecado, pediu perdão e foi confirmado por Cristo na fé e no amor; com o tempo, chegaria a dar a vida por Nosso Senhor. Judas, pelo contrário, não confiou na misericórdia de Cristo. Até ao último momento teve abertas as portas do perdão de Deus, mas não quis entrar por elas mediante a penitência.

Na sua primeira encíclica, João Paulo II fala do direito de Cristo a encontrar-Se com cada um de nós naquele momento chave da vida da alma, que é o momento da conversão e do perdão Redemptor hominis , 20). Não privemos Jesus desse direito! Não retiremos a Deus Pai a alegria de nos dar o abraço de boas-vindas! Não contristemos o Espírito Santo, que deseja devolver às almas a vida sobrenatural!

Peçamos a Santa Maria, Esperança dos cristãos, que não permita que desanimemos diante dos nossos erros e pecados, quiçá repetidos. Que nos alcance do Seu Filho a graça da conversão, o desejo eficaz de recorrer – humildes e contritos – à Confissão, sacramento da misericórdia divina, começando e recomeçando sempre que for preciso.


terça-feira, 30 de março de 2021

MEDITAÇÃO DE D. JAVIER ECHEVARRÍA - TERÇA-FEIRA

 TERÇA-FEIRA SANTA: COMO É A NOSSA FÉ?

O Evangelho da Missa termina com o anúncio de que os Apóstolos deixariam Cristo sozinho durante a Paixão. A Simão Pedro que, cheio de presunção, afirmava: darei a minha vida por Ti, o Senhor respondeu: darás a tua vida por Mim? Em verdade, em verdade te digo: Não cantará o galo sem que Me tenhas negado três vezes.

Poucos dias passados cumpriu-se a previsão. No entanto, poucas horas antes, o Mestre tinha-lhes dado uma lição clara, como que para os preparar para os momentos de obscuridade que se avizinhavam.

Sucedeu no dia a seguir à entrada triunfal em Jerusalém. Jesus e os Apóstolos tinham saído muito cedo de Betânia e, com a pressa, talvez não tivessem comido nada. O caso é que, como relata São Marcos, o Senhor sentiu fome. E vendo de longe uma figueira que tinha folhas, aproximou-se para ver se encontrava alguma coisa nela; mas quando lá chegou não encontrou senão folhas, porque não era tempo de figos. Então disse à figueira: "Nunca mais ninguém coma fruto de ti!". Os discípulos ouviram-n'O .

Ao entardecer regressaram à aldeia. Devia ser já uma hora avançada e não repararam na figueira amaldiçoada. Mas no dia seguinte, Terça-feira, ao voltar de novo a Jerusalém, todos contemplaram aquela árvore antes frondosa, que tinha os ramos despidos e secos. Pedro fê-lo notar a Jesus: Mestre, olha, a figueira que amaldiçoaste secou. Jesus respondeu lhes : " Tende fé em Deus Em verdade vos digo que qualquer de vós que diga a este monte: arranca-te e atira-te ao mar, sem duvidar no seu coração, mas acreditando que se fará o que diz, ser-lhe-á concedido" .

Durante a Sua vida pública, para realizar milagres, Jesus pedia uma só coisa: fé. A dois cegos que Lhe suplicavam a cura, tinha-lhes perguntado: a creditais que posso fazer isso? – Sim, Senhor, responderam-Lhe. Então tocou-lhes nos olhos dizendo: faça-se em vós conforme a vossa fé. E abriram-se-lhes os olhos . E os Evangelhos contam que, em muitos lugares, não realizou prodígios, porque faltava fé às pessoas.

Também nós temos de nos interrogar: como é a nossa fé? Confiamos plenamente na palavra de Deus? Pedimos na oração o que necessitamos, seguros de o obter se for para o nosso bem? Insistimos nas súplicas o tempo que for preciso, sem desanimarmos?

S. Josemaria Escrivá comentava esta cena do Evangelho. «Jesus – escreve – aproxima-se da figueira: aproxima-se de ti e aproxima-se de mim. Jesus, com fome e sede de almas. Da Cruz clamou: sitio ! ( Jo 19, 28), tenho sede. Sede de nós, do nosso amor, das nossas almas e de todas as almas que Lhe devemos levar, pelo caminho da Cruz, que é o caminho da imortalidade e da glória do Céu».

Aproximou-se da figueira e não encontrou nela senão folhas (Mt 21, 19). Isto é lamentável. É isto que acontece na nossa vida? Acontece que tristemente falta fé, vibração de humildade e não aparecem sacrifícios nem obras?

Os discípulos maravilharam-se diante do milagre, mas de nada lhes serviu; poucos dias depois negariam o seu Mestre. A fé deve informar a vida inteira. «Jesus Cristo põe esta condição», prossegue S. Josemaria: «que vivamos da fé, porque depois seremos capazes de remover os montes. E há tantas coisas que remover... no mundo e, em primeiro lugar, no nosso coração. Tantos obstáculos à graça! Fé, pois; fé com obras, fé com sacrifício, fé com humildade».

Maria, com a sua fé, tornou possível a obra da Redenção. João Paulo II afirma que no centro deste mistério, no mais vivo deste assombro da fé, se encontra Maria, Mãe soberana do Redentor Redemptoris Mater , 51). Ela acompanha constantemente todos os homens pelos caminhos que conduzem à vida eterna. A Igreja, escreve o Papa, contempla Maria profundamente arraigada na história da humanidade, na eterna vocação do homem segundo o desígnio providencial que Deus predispôs eternamente para ele; vê-a maternalmente presente e participante nos múltiplos e complexos problemas que acompanham hoje a vida dos indivíduos, das famílias e das nações; vê-a a socorrer o povo cristão na luta incessante entre o bem e o mal, para que "não caia" ou, se cair, "se levante" ( Redemptoris Mater , 52).

Maria, Mãe nossa: consegue-nos, com a tua poderosa intercessão, uma fé sincera, uma esperança segura, um amor ardente.


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