“A
narrativa é extraída do Exordium Cisterciense, liv. II, cap. 15.
“Certo dia, quando o abade se
encaminhava para a corte de Teobaldo onde uns assuntos o chamavam, deparou-se
lhe um grupo de soldados que conduziam o prisioneiro ao cadafalso. Compadecido
com a cena, apoderou-se da corda com que era conduzido o condenado, e fez esta
estranha proposta aos verdugos: “entregai-me
este criminoso e executá-lo-ei com as minhas próprias mãos”. Naquele
momento aproximou-se o conde. O seu espanto foi profundo ao ver o santo, que
estimava como um pai, entre os assassinos e os oficiais de justiça, mas
recrudesceu ao escutar a petição do seu amigo. “Venerável pai, (bradou) que significa isto? Por que pretendeis salvar
a vida de um homicida que mereceu a morte centenas de vezes? É um filho de
Satanás incorrigível e o melhor serviço que podemos prestar-lhe é privá-lo da
vida; os interesses da sociedade exigem a sua morte (1). Estas palavras
eram, na verdade, pouco lisonjeiras para o homem, mas o santo não desanimou. “Sei eu este homem é merecedor da morte
(replicou), e não tenciono deixa-lo partir sem punição. Ao contrário, penso
submete-lo a um castigo severo e perpétuo. Vós suspendê-lo-eis no cadafalso
onde em breve se escaparia ao vosso poder; mas por minha parte, amarrá-lo-ei a
uma cruz onde viverá em sofrimento durante muitos anos”.
Teobaldo não formulou mais
objeções; talvez conjeturasse que pouca diferença existia entre a vida em
Claraval e o cadafalso. Portanto, Bernardo, colocando o seu capuz no malfeitor,
ao qual deu o nome de Constantino, levou-o em triunfo para o monastério. Constantino
não se mostrou ingrato. Após trinta anos na prática de penitência morreu como
um justo e mereceu o título de Abençoado. A sua memória é evocada a 16 de
março.
Nota:
1.
Aqui entram duas ideias. Primeiro: sendo ele um
assassino contumaz sendo executado não iria cometer novos crimes. Seria um bom
serviço para ele porque sua pena na outra vida seria menor. Segundo: seria uma
legítima defesa da sociedade que deixaria de ser vítima de futuros crimes.
Fonte:
Luddy, Ailbe J. Bernardo
de Claraval, trad. de Eduardo Saló, Lisboa, edit. Asper, s/data. p. 161-152.
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