“A misericórdia será o núcleo central da pregação de Cristo e a principal razão dos seus milagres. E, seguindo os seus passos, a Igreja também “cerca de amor todos os afligidos pela fraqueza humana; mais ainda, reconhece nos pobres e sofredores a imagem do seu Fundador pobre e sofredor. Faz o possível por mitigar‑lhes a pobreza e neles procura servir a Cristo”.
A misericórdia das obras corporais
Que outra coisa podemos
nós fazer, se queremos imitar o Mestre e ser bons filhos da Igreja? Temos
diariamente diversas oportunidades de pôr em prática os ensinamentos de Jesus a
respeito do nosso comportamento perante a dor e a necessidade. É uma atitude
compassiva e misericordiosa que não espera por ocasiões excepcionais, como
visitar um preso ou um doente, ou socorrer alguém que está à beira de morrer de
fome, mas vai‑se exercitando nas pequenas ocasiões do dia e com aqueles que se
têm ao lado. (...)
Imitar
Jesus na
sua atividade misericordiosa para com os mais necessitados significa consolar e
acompanhar os que se encontram sós, os doentes, os que passam pelas agruras de
uma pobreza envergonhada ou descarada. Faremos nossa a dor que suportam, ajudá‑los‑emos
a santificá‑la, e procuraremos solucionar esse estado na medida em que nos for
possível. Quanto podemos confortar essas pessoas com uma visita oportuna, com
uma conversa simples e amável, bem preparada, procurando dar às nossas palavras
e comentários um tom sobrenatural que deixe no doente ou no idoso uma luz de fé
e confiança em Deus! Com delicadeza e oportunidade, atrever‑nos‑emos a prestar‑lhes
alguns serviços, a arrumar‑lhes a cama, a ler‑lhes um trecho de algum livro
ameno e mesmo divertido”.
A misericórdia das obras espirituais
UNGIU‑ME PARA EVANGELIZAR os pobres (...).
Não há maior pobreza
do que a provocada pela falta de fé, nem cativeiro e opressão maiores do que
esses que o demônio exerce sobre quem peca, nem cegueira mais completa do que a
da alma que ficou privada da graça: “O pecado produz a mais dura das tiranias”,
afirma São João Crisóstomo8.
Se a maior desgraça, o
pior desastre que existe é afastar‑se de Deus, a nossa maior obra de
misericórdia será, em muitas ocasiões, aproximar os nossos familiares e amigos
dos sacramentos, fontes de vida, e especialmente da Confissão. Se sofremos com
as penas, doenças e desgraças que os afligem, como não nos havemos de doer se
vemos que não conhecem Jesus Cristo, que não o procuram ou se afastaram dEle? A
verdadeira compaixão, a grande obra de misericórdia começa pelo apostolado.
Quanto bem não faz a mãe
que ensina o catecismo aos seus filhos, e talvez aos amigos dos seus filhos!
Que enorme recompensa não reservará o Senhor aos que dedicam com generosidade o
seu tempo a um trabalho de formação doutrinária cristã, aos que aconselham um
livro adequado que ilustra a inteligência e desperta os afetos do coração! É
abrir aos outros o caminho que conduz a Deus; não há outra necessidade maior
que esta.
Cada dia é mais necessário
pedir ao Senhor um coração misericordioso para todos, pois na medida em que a
sociedade se desumaniza, os corações tornam‑se duros e insensíveis, e cada qual
tende a viver exclusivamente para si próprio. A justiça é uma virtude
fundamental, mas só a justiça não basta; é necessária, além dela, a caridade.
Por muito que melhore a legislação trabalhista e social, sempre será necessário
proporcionar aos outros o calor de um coração humano, fraternal e amigo, que se
abeira compassivamente dos homens como filhos de Deus que são, pois, a
misericórdia “não se limita a socorrer os necessitados de bens econômicos; o
seu primeiro propósito é respeitar e compreender cada indivíduo como tal, na
sua intrínseca dignidade de homem e de filho do Criador”11.
A misericórdia leva‑nos a
perdoar prontamente e de todo o coração, mesmo quando aquele que nos ofende não
manifesta o menor arrependimento. O cristão não guarda rancores na alma; não se
sente inimigo de ninguém. Devemos esforçar‑nos por estimar mesmo os que são
infelizes por culpa própria, ou em consequência da sua própria maldade. O
Senhor só quer saber se esta ou aquela pessoa é infeliz, se sofre, “pois isso
basta para que seja digna do teu interesse. Esforça‑te por protegê‑la contra as
suas más paixões, mas desde o momento em que sofre, sê misericordioso. Amarás o
teu próximo, não por ele o merecer, mas por ser o teu próximo”
Extraído de “Falar
com Deus”, Francisco Fernandez Carvajal, meditação de 30 de agosto.
O subtítulos
foram acrescentados pelo site.
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