sexta-feira, 20 de novembro de 2009



CRYSTALINA EVERT








Se você gostou do bate papo com Jason Evert, terá a oportunidade de conhecer Crystalina Evert, sua esposa. No momento em que o vídeo abaixo foi feito, eles eram noivos. O depoimento de Crystalina é bonito, encorajador e cheio de vida.

Como você verá, não importa o seu passado, não importa o que você fez, o que importa, realmente, é quem você deseja ser e o que deseja fazer.


Sonia Rosalia

http://www.youtube.com/watch?v=uv54_kGRKLM

terça-feira, 10 de novembro de 2009

RESGATANDO A CASTIDADE

Sonia Rosalia




Quando, em abril deste ano, os cantores Jonas Brothers anunciaram que usariam um anel de pureza e que manteriam a virgindade até o casamento, as reações foram interessantes. Os jovens fãs aplaudiram a decisão e a coragem dos irmãos. Alguns adotaram o anel, mas, mais importante que isso, adotaram a idéia. Os pais sentiram-se aliviados e felizes, enfim uma boa influência vinda do mundo Pop, no entanto, os sexólogos de plantão não tardaram a dizer que era apenas "modismo", "o jovem é incapaz de escolher a abstinência".

Castidade? Por quê? Para que? Como? É possível?

A verdade é que, além dos palcos, muitos jovens vem se questionando sobre essa virtude: Será, mesmo, que é impossível manter-se casto? Por que aceitar os pensamentos que a sociedade tenta nos impor? Por que aceitar que o jovem adolescente que admira a virgindade tem algum problema de socialização? Por que é necessário "ficar"? Por que é preciso ter um preservativo guardado para uma eventualidade?

Muitos poderiam perguntar: Quais as vantagens em manter a castidade?

Em resposta, convido a todos para que assistam ao vídeo de Jason Evert. A você que tem filhos, sobrinhos e alunos, converse com eles a respeito e repasse se achar interessante.

A você que é jovem, eu o convido a participar de um mundo diferente daquele que alguns adultos tentam lhe impor.

Você, como qualquer ser humano sério, é capaz de ser puro. Você tem inteligência própria. Lute contra a corrente. Você não está sozinho. A juventude que muda o mundo é aquela que luta, que pensa.




Jason Evert - What's Chastity?


segunda-feira, 2 de novembro de 2009


ESPERANÇA EM PANDORA




Paulo Oriente Franciulli





Um filme recente, chamado “Bella”, trata de dois personagens com as seguintes características: uma mulher jovem, com um mau futuro – no mesmo dia em que é despedida, descobre que está grávida e que o pai da criança não querer assumi-la –; e um colega de trabalho, o chef do restaurante, com um mau passado – atropelou acidentalmente e matou uma menina, quando estava em alta como jogador de futebol–. Ambos perderam as esperanças na vida. A moça decide abortar e procurar um emprego; o chef passa a ajudá-la, tentando convencê-la a ter a criança. Uma havia cancelado os sonhos, o outro não conseguia apagar os erros. Graças à amizade que passa a uni-los, ela recupera o sonho, ele obtém a reparação. Ambos voltam a ter esperança.


“Fomos salvos pela esperança” (Rom. 8, 24). Daí tirou o Papa Bento XVI o título da sua segunda encíclica: “Salvos pela esperança”. Isso é algo muito sério. Pressupõe alguém a ser salvo, num estado que exige salvação e algo que realmente salva.

O QUE É A ESPERANÇA?

A esperança é a virtude que tem por objeto o bem futuro, árduo e possível de ser conquistado através do auxílio divino. Esse bem há de ser amado (querido intensamente) por aquele que espera, ou não haverá esperança. Esperar o que não se ama é ter medo.

Ela é virtude porque torna boa a ação do homem e está adequada à reta razão.Teologal porque tem a Deus por causa eficiente primeira (o homem esperançoso apóia-se no seu auxílio) e causa final última (o homem esperançoso alcançará a fruição da bem-aventurança eterna).

O Papa vai além: a esperança cristã só pode ser Deus. Deus caritas est, Deus spes est.

O objeto da esperança é a vida eterna. Esse é o bem a ser amado e buscado. Merece o envolvimento de toda uma existência. Para tentar vislumbrar o significado de vida eterna, podemos “tratar de sair com o nosso pensamento da temporalidade à que estamos sujeitos e augurar de algum modo que a eternidade não seja um contínuo suceder-se dos dias do calendário, mas sim como o momento pleno de satisfação, no qual a totalidade nos abraça e nós abraçamos a totalidade. Seria o momento de submergir no oceano do amor infinito, no qual o tempo – o antes e o depois – já não existe.” (Spe salvi).

Transbordados pela alegria. Coisa que só é possível em Deus e na vida eterna. Aqui na terra não se consegue. Fanny Flagg expressou a efemeridade e a limitação da alegria telúrica numa passagem marcante do seu livro “Welcome to this world, baby girl”. Situa a cena no final da primeira metade do século XX, no interior dos Estados Unidos, a “América profunda”. Descreve uma família, após o jantar. O marido e a mulher conversam, o rádio toca uma música suave, as crianças brincam no alpendre que dá para a rua. Tépida é a noite. Ali e acolá, ao longo da rua, as pessoas conversam em frente às casas, aproveitando as horas de descanso que sucedem a jornada de trabalho e antecedem o sono. A guerra acabou. As feridas cicatrizam. Em dado momento, a esposa se cala, recolhe-se em si mesma e pensa: “Como estou feliz”. Em seguida, uma leve ruga se forma no seu rosto: “Mas, e quando isto acabar?” Porque subitamente tomou consciência de que, mais cedo ou mais tarde, o marido morreria, as crianças cresceriam e iriam embora, a casa ficaria vazia e silenciosa, e a cidade se desfiguraria. Os seus receios acabaram por cumprir-se, um a um. São os dois fardos da alegria antes do Céu: o temor de que acabe e a mistura da dor. A esperança ajuda a mitigar essa consideração. Haverá uma alegria sem fim.


CARACTERÍSTICAS DA ESPERANÇA

A esperança é a virtude que faz caminhar (em direção a uma meta: a outra vida). Todos caminham ou são levados a caminhar pelo tempo que não para. E, do ponto de vista meramente terreno, caminham para o declínio, o fim, a morte. Segundo a triste afirmação de Karen Blixen, a vida é uma máquina de transformar cãezinhos simpáticos e gorduchos em cachorros decrépitos e sarnentos. Eis uma consideração que pode gerar desespero em quem não tem esperança.

O caráter dessa virtude teologal é performativo, isto é, plasma de modo novo a nossa vida. Influencia o nosso modo de pensar, amar, querer, sentir, atuar... estar no mundo. Aposta num futuro que muda o presente. Ajuda a enfrentar o que há de amargo no agora (o que há de doce, também é esperança: “se isso já é tão bom aqui, imagine o Céu!”).

O primeiro elemento da esperança é o otimismo (certus an, incertus quando: sei que virá, só não sei quando). Não há esperança pessimista. Porque a essência da esperança é que alcançaremos no futuro uma vida muito melhor que a atual. O que vive de esperança não se instala no presente, antes caminha para o porvir transformador. O otimismo da esperança leva-nos a crescer, que é o melhor modo de aproveitar o tempo. O nosso crescimento é irrestrito, em todos os campos da existência humana.

O segundo elemento da esperança é a convicção de que o advento do futuro depende do atuar humano. A esperança exige uma tarefa, que comporta um compromisso íntimo. Antes de tudo, o que temos de melhorar somos nós mesmos. O futuro só será melhor se cada um de nós crescer. Essa tarefa está cercada de riscos, é uma aventura épica. Uma aventura não isolada, pois há sempre os outros: como ajudantes nossos, ou como destinatários dos nossos esforços. Um dos outros, o Outro, é Deus. Ele nos encarrega da tarefa e está mais interessado no seu êxito do que nós. É o Amigo por excelência, a quem sempre podemos recorrer. Depois estão os outros seres humanos. A esperança cria a solidariedade.

A esperança nos torna virtuosamente destemidos, corajosos. E por quê? Porque a esperança nos faz considerar que o importante é cumprir a Vontade de Deus na nossa vida. Esse cumprimento muitas vezes esbarrará em dificuldades. Algumas dessas dificuldades – como o sofrimento e a dor – nos causam medo . A esperança nos leva a uma gradação com relação ao sofrimento e à dor, na medida em que são queridos por Deus e nos farão bem: aceitar, resignar-se, simpatizar, amar. Isso desarma o medo.

A spes exige de nós paciência e constância (partes da fortaleza): perseverança: Hypomone: saber esperar, suportando pacientemente as provas, condição para obter as coisas prometidas. Contra spem, spe (Rom, 4, 18). É o título do livro-depoimento-contestação de Armando Valladares. Preso político na Cuba de Fidel Castro, o seu caso foi piorando de prisão a prisão. Um homem sem esperança terrena, mas com muita esperança sobrenatural. Embora silenciado pela mídia pró-Cuba, ele venceu.

A esperança supera o mundo bidimensional. Quem faz a opção pela vida animal, tem uma série de deleites, especialmente se tem dinheiro e condições de desfrutar os prazeres, o sossego, o domínio; mas acaba por desiludir-se e ver-se escravo disso. Mais cedo ou mais tarde, cai na aporia (1)

A esperança termina no Céu: aquilo que se vê, não pode ser esperado. O objeto da esperança é a bem-aventurança eterna enquanto possível de ser alcançada. Uma vez alcançada, a esperança cumpre o seu papel e chega ao seu termo. Este é sentido da esperança como a última que morre. Ela é o nosso Virgílio, que nos leva a Beatriz e sai de cena.

A esperança causa alegria. Spe gaudentes Rom 12, 12. Acena-nos com a perpétua felicidade.


OUTRAS VISÕES

A esperança é verde. (2) O verde é a cor da natureza. Na natureza, as criaturas, ao viverem, cumprem um plano e rumam para uma meta. Serena e inexoravelmente. Olhar para o verde descansa e dá paz. O verde é o melhor pano de fundo. A esperança-verde descansa, dá paz e é o melhor pano de fundo da nossa vida: ainda não e todavia já.

A esperança é épica: necessita de heroísmo, de intensidade ou grandeza fora do comum. Ulisses comprometido na volta a Ítaca, onde o espera Penélope. Ambos são heróicos, ambos têm esperança-épica.

A esperança é representada por uma âncora, sinal da firmeza, da segurança. O nosso coração está ancorado no Trono de Deus. A esperança-âncora dá estabilidade à nossa trajetória terrena. Nunca somos tão fortes como quando nos fiamos só de Deus.

ENCONTRANDO A SAÍDA

O homem é redimido pelo amor. A nossa esperança é encontrar um amor perfeito. Não importa o lugar ou as circunstâncias, o importante é que não tenha fim. Os dois personagens de Bella, através de Bella, encontram o amor e a esperança, e servem como metáfora ou imagens do amor e da esperança cristãos.

A última coisa que sai da caixa de Pandora é a esperança.

________

Paulo Oriente Franciulli é Professor de Deontologia Jurídica no IICS Instituto Internacional de Ciências Sociais, São Paulo


Notas do blog

1. (dificuldade, de ordem racional, que parece decorrer exclusivamente de um raciocínio ou do conteúdo dele. – Conflito ente opiniões, contrárias e igualmente concludentes, em resposta a uma mesma questão).
2. “O verde (...) é uma cor tranqüilizadora, refrescante, humana. A cada primavera ...a terra... se reveste de um novo manto verde que traz de volta a esperança e ao mesmo tempo volta a ser nutriz”.
Também na simbologia oriental “é a cor da esperança, da força, da longevidade (...) É a cor da imortalidade simbolizada pelos ramos verdes.
DICIONÁRIO DE SÍMBOLOS, Jean Chevalier, Alain Gheerbrant. 7ª edição, Rio de Janeiro, José Olympio, 1993. p. 939-940.


segunda-feira, 26 de outubro de 2009


BLASFÊMIA E HOMOSSEXUALISMO

Valter de Oliveira






1. O despud
or da cultura da morte.

A Confederação das associações espanholas de defesa dos direitos dos homossexuais (na realidade dos gays, lésbicas, transexuais e bissexuais) de Madri, lançou um “Calendário Laico” que é uma verdadeira bofetada nos católicos e demais cristãos. Nele os santos – e sobretudo Nossa Senhora – aparecem vestidos com trajes de drag queens e adereços sexuais.

O sacrilégio é seguido de uma exigência laicista: seus autores reivindicam que na Espanha laica os feriados santos sejam substituídos por eventos sociais, e que o dia do Natal passe a ser o dia da democracia. (1)

Como se vê – e já comentamos aqui no blog – a mentalidade jacobina da Revolução Francesa, que eliminou o calendário cristão – está mais viva do que nunca. Cada vez mais ousada e totalitária. E nós, cristãos, infelizmente, cada vez mais passivos.


2. Necessidade de Reparação

Diante de tanta sordidez muita coisa temos que fazer. Primeiro, reparação. Deus está sendo barbaramente ofendido. Segundo, rezar mais, porque a luta em defesa da fé e do bem está exigindo cada vez mais de nós. Terceiro, atuar: somos cidadãos e temos que fazer valer nossos direitos. Temos que exigir punição para todos aqueles que não sabem respeitar o próximo. Punição para os falsos defensores do pluralismo democrático que só pensam em impor a degradação humana. Temos elementos legais de sobejo para isso. É só usá-los. E não é só direito nosso. É um dever. Dos leigos, e, principalmente, da Hierarquia Católica. (2) e (5)


3. O processo da cultura da morte

Há quem pense que a cultura da morte seja, apenas, aquela que defende o aborto, a eutanásia, e outros atos que negam e violam a vida humana. É bem mais que isso. É um processo que pretende endeusar o homem rejeitando toda nossa ligação e dependência de um Deus Criador. O que implica na recusa e no ódio à lei natural e divina.

Eis o que nos diz a respeito Gonzalo Redondo, no tomo XIII da História Universal da Universidade de Navarra: (3)

“O neomarxismo recolhe o tema da libertação total do homem; um tema herdado da Ilustração. (...) que entende que a vulgar oposição proletários/capitalistas deve ser substituída pela do saber/poder”.

Depois de explicar que isso vai ser defendido especialmente pela Escola marxista de Frankfurt, Redondo diz que, graças a ela “se produziu a integração do marxismo e do freudismo no âmbito da psicologia social. Aceitaram-se as técnicas da psicoanálise com um fim político: promover a revolução através da transformação da consciência moral e da estrutura da personalidade do indivíduo. A libertação sexual se converteu em um elemento da propaganda e das técnicas subversivas.”

“O homem chave desta postura dentro da escola de Frankfurt foi Wilhelm Reich (1897-1957), um médico psicoanalista, amigo de Freud e Fromm. (...) optou por uma antropologia que implicava o rechaço de toda moral sexual repressiva. Para Reich a sexualidade (...) não necessitava o controle de nenhuma moralidade. Conseqüências lógicas desta opção antropológica eram a defesa da homossexualidade e do amor livre e o menosprezo do matrimônio e de seu caráter indissolúvel.”

A unidade dos marxistas na luta pela cultura da morte é claramente apontada por Gonzalo Redondo quando nos diz que “a política defendida pelo Deutscher Reichsverband für Proletarische Sexual-Politik, uma organização cultural do partido comunista alemão, (...) militou em defesa da legalização do aborto e da tolerância pública da homossexualidade, e que preconizava uma liberação da legislação sobre o divórcio, a venda de contraceptivos, a educação sexual nas escolas, assim como a organização oficial e gratuita da planificação familiar.”

Como se vê a bandeira marxista de 1930 virou moeda corrente. Hoje as idéias de Reich são aceitas tranquilamente pelos mais variados partidos. Só se muda a radicalidade dos projetos.

Isso não é dito apenas por seus críticos. É dito e defendido por eles mesmos. E não é de hoje. A literatura marxista sobre o assunto é enorme. Os partidos, ONGs e movimentos sociais que a propagam não escondem isso de ninguém. Basta querer se informar.(4)


4. A ingenuidade cristã


O que aqui foi dito não é de domínio do grande público. Este é simplesmente a vítima do processo marxista feito em conluio com os laicistas liberais. O que não implica em dizer que não tenham nenhuma responsabilidade pelo crescimento da maré materialista neo-pagã.

A tática marxista é de conhecimento da intelectualidade católica; leiga e clerical. Intelectualidade da qual amplos setores devem ser responsabilizados por omissão ou conivência. Ou ingenuidade.

Ingenuidade, por exemplo, em aceitar o jogo do adversário. Em não perceber que ele manipula e muda o significado de palavras e expressões como dignidade, direitos humanos, liberdade, igualdade, democracia, cidadania. Em não ter sagacidade para perceber que os neo-marxistas, ao sugerir “descriminalizações”, só queriam “companheiros de viagem” para mudar as leis e implantar a cultura da morte.

Pena que os pseudo-otimistas não percebam.



Notas:

1. Conforme noticiado pela mídia o presidente Lula não aceitou colocar no acordo feito com a Santa Sé a manutenção do Natal como feriado...

2. A ousadia da cultura da morte não se limita àquela que já foi a gloriosa Espanha. É um processo mundial. No Brasil mesmo a parada gay tem usado e abusado da blasfêmia. A mídia não destaca muito. E os cristãos estão preocupados com outras coisas...

3. REDONDO, Gonzalo. História Universal, tomo XIII, Las Libertades y las Democracias, Ediciones Universidad de Navarra (EUNSA), Pamplona, 1989.págs 63,64.

4. Artigo do site do PSTU, de um professor da USP, confirma totalmente o que é dito pelo livro da Universidade de Navarra. Vamos comenta-lo em próximo artigo.


5. Notícia de "O Estado de São Paulo" afirma que "Alguns fiéis já se sentem ofendidos. O grupo católico Religião e Liberdade, disse à BBC Brasil que o calendário é uma "ofensa clara e inconstitucional".

Citando o Código Penal, o vice-presidente da associação, Raúl Mayoral, alega que a publicação vulnera o artigo que prevê penas de oito a doze meses de prisão para quem ofenda os sentimentos dos membros de uma confissão religiosa.

Para os representantes da Plataforma Hazte oír (Faz-te ouvir), uma das organizadoras dos protestos nas ruas de Madri contra o aborto e contra o casamento entre gays, o calendário laico ataca os ícones e valores católicos, mas não surpreende.

"Estamos fartos de ver estes tipos de agressões. Essa inquisição rosa é constante porque os homossexuais espanhóis aproveitam qualquer oportunidade para soltar qualquer barbaridade em nome da liberdade de expressão", disse à BBC Brasil Nicolás Susena, coordenador da plataforma.

"Depois de ver cartazes na parada do orgulho gay com fotos do Papa Bento XVI e a frase 'cuidado com o pastor alemão' o que vamos esperar desta gente? É revoltante e me dá vergonha de ser espanhol numa sociedade deste nível." (O Estado de São Paulo, 19 de outubro de 2009)

segunda-feira, 12 de outubro de 2009



SÃO LUÍS IX, REI DA FRANÇA

Parte II


Valter de Oliveira




1245. O Concílio de Lion, na França, convocado por Inocêncio IV conclama os cristãos para nova cruzada. Mais uma vez iria se tentar a libertação da Terra Santa. Na mesma assembléia o Papa excomunga o imperador Frederico II. O resultado foi trágico. A luta entre o Papado e o Império irá crescer ainda mais.


Papa Inocêncio IV preside Concílio em 1245

Com efeito, diz François Michaud, a crise que já era grae foi aprofundada. A "cólera que animava o imperador e o Papa passou para o espírito do povo: corria-se às armas em todas as províncias da Alemanha e da Itália". Nesse clima talvez não tivéssemos tido uma nova cruzada caso não tivesse surgido "um monarca poderoso e respeitado": Luis IX, rei da França. (1)

Como isso se deu?

Um ano antes Luis havia caído gravemente enfermo. Espalhou-se a notícia que ele havia morrido. Toda a França estava imersa em profunda dor. Entretanto, continua Michaud, parece que o Céu não conseguiu resistir às orações e lágrimas do povo. Milagrosamente o rei voltou à vida, e a primeira coisa que fez foi "pedir a cruz e anunciar sua determinação de libertar a Terra Santa". Determinação que foi combatida por clérigos e nobres do círculo real. Seus argumentos foram infrutíferos. Restava uma última cartada: anunciar o fato à rainha Branca.

"Então a rainha sua mãe ouviu dizer que a palavra lhe tinha voltado, e ela mostrou por isso alegria tão grande quanto pôde. E quando soube que ele se tinha feito cruzado, assim que ele mesmo o contou, mostrou tão grande tristeza como se o visse morto".

São Luís embarca para as Cruzadas

O historiador francês pergunta: "Por que essa dor tão grande e tão espetacular? Duas angústias muito fortes se unem nela. Uma é simplesmente, ela o confessa, seu amor materno. Reverá ela algum dia o filho tão amado?"(...) Outra continua o autor, refere-se aos deveres do rei: "O afastamento para uma cruzada é compatível com "os deveres do soberano e as obrigações que lhe impõe a salvação do reino? (2)

Luis ficou comovido. Chorando, lançou-se nos braços da mãe. Depois, "retomando um ar calmo e sereno, disse: "Meus amigos, vós sabeis que minha resolução já é conhecida de toda a cristandade (...) Escrevi a todos os reis da Europa (...). Anunciei aos cristãos da Palestina que iria socorrê-los em pessoa (...). Que me propondes agora? Mudar projetos tão publicamente proclamados e nada fazer do que eu prometi (...); enganar ao mesmo tempo as esperanças da Igreja, dos cristãos da Palestina e de minha fiel nobreza?"

"No entretanto, como pensais que eu não estava em uso da razão quando tomei a cruz de além-mar, eu vo-la devolvo: ei-la a cruz que vos causa tantas apreensões e que eu recebi, como dizeis, num momento de delírio. Mas, hoje que estou plenamente no uso de minha razão, eu vo-la peço de novo e vos declaro que não tomarei nenhuma espécie de alimento antes que ela me seja restituída" (3)

E depois de convocar os ouvintes a apoiá-lo, lembrando que Deus velaria por seus filhos e pelo reino, que confiava na regência de sua mãe, que já salvara o Estado de tantos perigos, S. Luis completa:

"Deixai-me então manter todas as promessas que fiz diante de Deus e dos homens e não vos esqueçais de que há obrigações que são sagradas para mim e que devem ser sagradas para vós: o juramento de um cristão e a palavra de um rei".

Michaud completa: "Assim falou Luis IX. A Rainha Branca e o Bispo de Paris e os outros conselheiros do rei, ficaram em religioso silêncio; só pensaram em secundar o monarca em seus projetos e em apressar a execução de um empreendimento que parecia vir de Deus." (4)

Passou-se um certo tempo. As lutas entre o Papa e o Imperador continuavam. Luis quase teve êxito em levar a paz aos dois contendores. Ambos reconheciam a grandeza, o equilíbrio e o senso de justiça do rei franco. Entretanto, tais qualidades não foram suficientes para que se reconciliassem.

Com a crise na Europa a França era o único país onde todos se ocupavam seriamente da cruzada. A piedade e o zelo de Luís reanimavam a todos. Nobres e plebeus, clérigos e leigos, deram exemplos comoventes de desprendimento e de grandeza. O amor dos franceses por seu rei era impressionante. Comove-nos ainda hoje, após sete séculos.

É o que veremos no próximo artigo.


Notas:


1. MICHAUD, Joseph François. História das Cruzadas, Vol. IV, Ed. das Américas, São Paulo, 1956, p. 333

2 LE GOFF. Jacques. São Luís. Record, Rio de Janeiro, 1999. p. 632

3. MICHAUD, op. cit. p. 342

4. MICHAUD, op. cit. p. 343

segunda-feira, 5 de outubro de 2009



A MAIOR FALTA DO APÓSTOLO É O MEDO


João Paulo II

“Permanecem na minha memória as palavras pronunciadas pelo cardeal Stefan Wyszinski no dia 11 de maio de 1946 (...): “Ser bispo traz em si alguma coisa da Cruz, por isso a Igreja põe a Cruz no peito do bispo. Na Cruz é preciso morrer para si mesmo: sem isso não há plenitude de sacerdócio” (...)


“A esses pensamentos o cardeal voltou ainda numa outra ocasião: “Para um bispo a falta de fortaleza é o início da derrota” (1)


Também são suas estas palavras:

A maior falta do apóstolo é o medo. O que desencadeia o medo é a falta de confiança na força do Mestre; é esta que oprime o coração e aperta a garganta. O apóstolo para então de professar. Permanece apóstolo? Os discípulos que abandonaram o Mestre aumentaram a coragem dos algozes. Quem se cala perante os inimigos de uma causa, os fortalece. O temor do apóstolo é o primeiro aliado dos inimigos da causa. “Obrigar a calar através do medo” é o primeiro passo da estratégia dos ímpios.(2)

O terror utilizado em toda ditadura é calculado em base ao medo dos apóstolos. O silêncio possui sua eloqüência apostólica apenas quando não afasta o rosto de quem nele bate. Assim, calando, fez Cristo. Mas com aquele gesto demonstrou a própria fortaleza. Cristo não se deixou aterrorizar pelos homens. Saindo ao encontro da multidão disse, com coragem: “Sou eu” (3).


Realmente, não se pode voltar as costas à verdade, parar de anuncia-la, esconde-la, mesmo se se trata de uma verdade difícil, cuja revelação traz consigo uma grande dor. “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jó 8,32): aí está nossa tarefa e, ao mesmo tempo, nosso suporte! Aí não há espaço para cedências nem para um recurso oportunista à diplomacia humana. É preciso dar testemunho da verdade, mesmo a preço de perseguições, até a custo de sangue, como fez o próprio Cristo e como outrora fez também meu santo predecessor em Cracóvia, o bispo Stanislao di Szczepanów.


Seguramente encontraremos provações. Não há nada de extraordinário nisso, faz parte da vida de fé. Ás vezes as provas são leves, às vezes muito difíceis ou absolutamente dramáticas. Na provação podemos nos sentir sozinhos, mas a graça divina, a graça de uma fé vitoriosa não nos abandona nunca. Por isso podemos confiar que superaremos vitoriosamente toda provação, até a mais dura.” (4)


Notas:

1. Stefan Wyszynski, Zapiski wiezienne. Parigi: 1982, p. 251.
2. Os destaques são do blog claraval.
3. Stefan Wyszynski, Zapiski. Id., p.94.
4. João Paulo II. Levantai-vos! Vamos! São Paulo, Editora Planeta, 2004, p.185-187.


segunda-feira, 21 de setembro de 2009



SÃO LUÍS IX, REI DA FRANÇA




Valter de Oliveira



“Luis IX é o homem modelo da Idade Média: é um legislador, um herói e um santo.” (Chateaubriand)

“O mais célebre dos santos leigos do século XIII.” (Le Goff)




Na aurora de minha juventude entusiasmei-me com os santos da Igreja: ricos e pobres, nobres e plebeus, homens e mulheres. Admirei a fortaleza e o espírito de obediência de S. Inácio, a pobreza singela e alegre de S. Francisco, a grandeza da Teresa doutora, a pequena via da carmelita de Lisieux, o exemplo de vida e os textos encantadores de S. Bernardo. E comovi-me como nunca ao conhecer a gesta de S. Luís.

A primeira vez que li exemplos de sua vida foi em um antigo manual escolar de Jules Isaac e André Alba. Depois, por ocasião da leitura da História das Cruzadas, de Joseph François Michaud. Agora tenho finalmente em mãos sua biografia contada por Jacques Le Goff, que custou ao grande historiador 15 anos de pesquisa... É dela que retiro a seguinte descrição do rei:

“Por sua estatura ele ultrapassava todo mundo dos ombros para cima, a beleza de seu corpo tinha a harmonia de suas proporções, (...) seu rosto plácido e sereno exteriormente tinha qualquer coisa de angélico, seu olhos de pomba emitiam raios graciosos, sua face era simultaneamente branca e brilhante, a brancura precoce de seus cabelos (e de sua barba) pressagiava sua maturidade interior e mesmo a venerável sabedoria da velhice. Tudo isso é talvez superficial de ser louvado porque é apenas ornamento do homem exterior. As qualidades interiores vêm da santidade, e a elas é que é preciso ligar-se e venerar. É a isso que se é compelido a mais amar no rei, e interiormente somos movidos no sentido da alegria só pelo aspecto exterior do rei”.

Esta é a imagem do rei que se fixou muito cedo logo depois de sua morte e de sua canonização.É uma imagem idealizada (...) mas em parte é corroborada pelas impressões ao natural de Joinville (...). Um último traço também é marca da época: a referência à alegria que raiava do rosto do rei. É bem um rei franciscano de feição sorridente que transmite uma mensagem não de tristeza, mas de alegria.” (1)

Transcrevo a seguir dois exemplos de sua vida. Foram os primeiros que conheci.

S. Luis e o pecado

“O que preferiríeis: ser leproso ou ter cometido um pecado mortal?" pergunta um dia S. Luís a seu amigo Joinville (2).

“E eu, diz este, que nunca lhe menti, respondi-lhe que preferiria ter cometido trinta pecados mortais a ser leproso.” –“Falais levianamente e como um tonto, respondeu o rei; porque lepra alguma é tão feia quanto o pecado mortal. Quando o homem morre está curado da lepra do corpo; mas quando aquele que cometeu um pecado mortal morre, não está seguro de que seu arrependimento foi suficiente para lhe obter o perdão de Deus. Assim, peço-vos, disse ele, que tomeis a peito, pelo amor de Deus e de mim, preferir que vosso corpo sofra de lepra ou de qualquer doença que deixar o pecado mortal entrar na vossa alma...”

Natural que quem tinha tal aversão ao pecado sabia perfeitamente que nós o evitamos por amor a Deus. E sabia que a virtude mais necessária é a caridade.


O amor de S. Luís aos pobres


É ainda Joinville quem nos conta a seguinte história:

“Havia, numa abadia próxima de Paris, um monge leproso. A lepra havia-lhe roído os olhos, destruído o nariz, fendido os lábios. Um dia S. Luís foi visitar o infeliz e o encontrou a comer carne de porco: “O rei saudou este doente, perguntou-lhe como estava, ajoelhou-se diante dele, começou a cortar a carne, e quando acabou de cortá-la em pedaços, punha-os na boca do doente...” Em seguida, mandou vir perdizes de sua cozinha. “O bom rei cortou as asas de uma perdiz e salgava os pedaços e depois punha-os na boca do doente. Mas como os lábios estavam feridos, o doente sangrava porque o sal lhe entrava por eles: então o bom rei punha sal nos pedaços de carne, para que tivessem gosto; depois tirava os grãos de sal para que não entrassem nas fendas dos lábios do doente”. Após o que deu-lhe de beber, “e quando isto foi feito, o bom rei pediu ao doente que rezasse a Nosso Senhor por ele.”


Muita gente pode não entender como é que um rei, tão cioso em aplicar a justiça, tão leal e jovial com os amigos, tão compassivo com os pobres, decidiu fazer uma cruzada. Ele a fez com uma grandeza imensa. Sua decisão de faze-la foi inquebrantável. No modo de anunciá-la ao povo mostrou seu senso de dever e de justiça.

É o que veremos na próxima semana.

Notas:

1. LE GOFF, Jacques. São Luís. Record, Rio de Janeiro, 1999, p. 460

2. Joinville foi um grande amigo de S. Luis. Escreveu a biografia do rei.

3. ISAAC, Jules; ALBA, André. A Idade Média. Curso de História. Editora Mestre Jou, São Paulo, 1967. p.94-95.

3. ISAAC/ALBA. op.cit. p. 97-98.


terça-feira, 15 de setembro de 2009

Vídeo sobre a Igreja Católica


Recebemos esse vídeo e gostaríamos de compartilhá-lo com os amigos do blog Claraval.



Aos que desejarem acessar o vídeo original (sem legendas)

segunda-feira, 7 de setembro de 2009



DIA NACIONAL EM FAVOR DA FAMÍLIA





Relato do Casal Toninho e Silvana
Coordenadores da Pastoral Familiar da Comunidade São Marcos


Tema: “Família, agente principal na defesa e no cuidado da vida”
Lema: “Família, Igreja doméstica, caminho para o discipulado”

A Comunidade São Marcos realizou no último dia 16 de Agosto de 2009, o 18º DIA nacional em favor da Família. Este foi o segundo ano consecutivo em que todo o trabalho de uma semana inteira, foi concentrado num único dia.

A abertura oficial iniciou-se com a Celebração da Santa Missa, presidida por Dom Joaquim Justino Carreira, Bispo auxiliar da Região Episcopal Sant’Ana, que em sua homilia ressaltou a importância da Igreja Doméstica, para que educadas nas Leis de Deus, as famílias possam ser promotoras da vida em todos os segmentos da sociedade.
























Palestra do prof. Valter de Oliveira

Seguindo as programações, tivemos em nossa companhia os convidados e palestrantes: Dra. Alice Teixeira Ferreira, Dr. Aleksandro Clemente, Professor Valter de Oliveira e família, que participaram e compartilharam conosco desta grande alegria, de celebrarmos juntos o 18º dia nacional em favor da família São Marcos. Tivemos também a palestra do casal Francisco e Madalena, a peça teatral apresentada pelos alunos da catequese, o vídeo do testemunho de Gianna Gensen, (1) sobrevivente de um aborto, narrado pela Sra. Márcia, e os testemunhos das mães Maria Lídia e Ana Lucia sobre a defesa da vida.

Palestrantes e equipe de organizadores.

A banda “Fonte de Luz” animou e fez o nosso Dia da Família mais alegre. Todo mundo cantou, dançou, celebrou e rezou louvando a Deus. Nossos agradecimentos ao casal Jefferson e Aline e a toda banda pela ajuda!

Ao final do evento, foram sorteados um GRILL e um MICRO SYSTEM PHILIPS entre os participantes.

Tivemos participação recorde de mais de 350 pessoas entre adultos e crianças. Contamos com o apoio da Pastoral da Juventude que ficou encarregada pela recepção dos convidados e recreação das crianças. Tudo ficou sob responsabilidade do casal coordenador geral João Carlos e Lívia, e do casal apresentador Paulo e Cida, que souberam conduzir com muita competência toda a programação. A equipe da Pastoral Familiar se encarregou da organização geral do evento, e aproveita para agradecer o empenho e dedicação de todas as pessoas que se doaram e trabalharam para que tudo ocorresse conforme os nossos objetivos.

A Comunidade São Marcos, através dos Padres José Radici e Spirito Sevega, agradecem a todos que participaram deste 18º Dia Nacional em favor da família e ressaltam a importância deste evento, que proporcionou a todas as famílias participantes, um momento de reflexão sobre os temas, palestras e depoimentos apresentados. Todos os temas falaram sobre A FAMÍLIA, agente principal da defesa e cuidado da vida e A FAMÍLIA, Igreja doméstica, caminho para o discipulado.

“Todos os temas, foram muito bem escolhidos” disseram! Parabéns Comunidade São Marcos!

Coordenação Pastoral Familiar
Toninho & Silvana


NOSSOS AGRADECIMENTOS


O Blog Claraval, em nome de toda família Oliveira, não poderia deixar de manifestar sua alegria pelo belo trabalho realizado pela Comunidade São Marcos em favor da Família.

Sentimo-nos honrados por ter participado deste evento que, do princípio ao fim, cumpriu com sua proposta de defender a Família e colocá-la como agente principal na defesa da vida.

Durante a Santa Missa, o sermão de Dom Joaquim foi de grande profundidade e deixou vários pontos para reflexão. O padre José, de uma delicadeza sem par, esteve sempre presente e solícito para com todos, um verdadeiro anfitrião.

Dentre todos os organizadores que trabalharam impecavelmente, quero ressaltar o trabalho incansável dos jovens que cuidaram primorosamente das crianças. Como mãe, sei que não foi fácil e que sem a participação desses jovens, o evento não teria tido o sucesso que teve.

Desde os primeiros contatos com o casal Toninho e Silvana, pudemos perceber que estávamos trabalhando com pessoas muito sérias e desejosas de fazer participar a outros, a importância da Família dentro da sociedade.

Antes do evento, Valter teve um encontro com todos os organizadores e com os outros palestrantes. Voltou muito animado e encantado com as pessoas que conheceu. Desde então, fez o possível para que toda nossa família pudesse conhecê-los também. Nada fácil para quem tem 7 filhos com idades entre 26 e 4 anos. Normalmente, todos têm suas atividades programadas, mas Valter estava tão empolgado que moveu a todos, inclusive nosso futuro genro.

Queremos agradecer ao padre José Radici e a todos os organizadores deste 18º Dia da Família pelo convite, pela delicadeza com que fomos tratados e pela chance de termos novos amigos.

Deixamos aqui, o vídeo feito por nosso filho Paulo que, infelizmente, não pôde estar presente no dia, mas não poderia deixar de contribuir com essa importante iniciativa da Comunidade São Marcos.

Parabéns a todos e nosso muito obrigado!

Sonia, Valter e família



Apresentação sobre a Família

Produzido por Paulo Henrique de Oliveira

NOTAS

1. O leitor pode ver esse vídeo comovente em nosso blog, postado no dia 31 de maio de 2009. Vale a pena conferir!

sábado, 29 de agosto de 2009


LAICISMO, CULTURA E COMBATE A SÍMBOLOS RELIGIOSOS



Valter de Oliveira



Tem aumentado no Brasil, e no mundo, ações de minorias que combatem o uso de símbolos religiosos em órgãos ou espaços do Estado. Nada de crucifixos, por exemplo, em tribunais, escolas, hospitais ou quaisquer outras repartições públicas. Razões? Basicamente duas:


1. O Estado é laico.

2. Não se pode aceitar um privilégio católico. Seria uma ofensa a pessoas de outra fé.

Assim, dizem alguns, juridicamente a presença dos símbolos religiosos estaria ferindo a Constituição do Brasil.

Por adotar tal modo de pensar a Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão, no dia 31 de julho passado, propôs uma ação civil pública para obrigar a União a retirar os símbolos religiosos dos órgãos federais no Estado de São Paulo.

Aqui quero enfatizar um ponto abordado por intelectuais católicos e líderes religiosos que escreveram artigos em defesa de símbolos religiosos: o divórcio existente entre as idéias e as pretensões dos laicistas e a cultura de um país. No caso, com a cultura brasileira. Com efeito, quando leio seus textos ou artigos mais me convenço do absurdo que propõem; mais percebo que vivem desvinculados da sociedade, da cultura do povo. São “elitistas” que se arvoram em defensores de um modelo de estado impregnado de ateísmo e, a partir daí, querem impor uma ditadura legalista sobre toda a sociedade. Vamos aos fatos
.

É verdade que o Estado brasileiro é laico, como acontece com a maior parte dos Estados no mundo contemporâneo. Agora, meu caro leitor, pergunte a seus amigos e vizinhos o que é laicismo. E peça a eles para explicar a diferença entre laicismo e laicidade. Errarei se afirmar que a maioria não saberá responder?

Garanto-lhe que mais de 90% de brasileiros tampouco sabem. Não é tema de conversa de povo. É papo de intelectual. Papo de minoria.(1) Só que, no caso, temos uma minoria que quer nos fazer acreditar que seu modo de pensar é o desejado pelo povo. Ou que julga que interpreta corretamente o que é bom para a sociedade.

Observem um dos pontos alegados para se acabar com símbolos religiosos em locais públicos: seriam ofensivos para pessoas de outras religiões. Como sabem? Fizeram algum plebiscito?

O que vemos em nossa sociedade, o que sentimos em nosso povo, é um verdadeiro pluralismo e respeito por várias formas de expressão religiosa. Está ligado ao modo como recebemos todos os povos, como vemos as outras culturas e, portanto, até religiões. Somos o país do sincretismo. Não é verdade que umbandistas vão lavar as escadarias do Senhor do Bonfim em nossa querida Bahia? Que muitas pessoas que se dizem espíritas, casam na Igreja e batizam seus filhos? Não temos judeus e muçulmanos participando de reuniões em igrejas católicas? Sentem-se ofendidos diante das imagens religiosas?

Um Estado, seja ele religioso ou laico, não pode estar desvinculado da cultura de seu povo. A não ser que esta violasse princípios fundamentais da lei natural. Como o direito à vida, por exemplo.(2)

Alguém em sã consciência acredita que o Estado de um país muçulmano não deve levar em conta a fé de seu povo? Ou que seria boa política o Estado de Israel abolir o descanso aos sábados por respeito a cristãos ou a ateus?

O que vemos no mundo é não só os Estados respeitarem suas culturas, mas ainda aceitar que organismos internacionais também os levem em conta. É o caso da Cruz Vermelha Internacional.

A Cruz Vermelha é uma instituição que nasceu no Ocidente. E escolheu a cruz como seu símbolo. E é respeitada por todos os Estados laicos.(3)

E não me consta que alguém haja reclamado porque os países muçulmanos criaram o Crescente Vermelho.

Ambas as instituições estão preocupadas com a vida de seres humanos. Sem qualquer forma de discriminação. Todos reconhecem seus insignes serviços.

Agiriam corretamente os pacientes atendidos por essas instituições se protestassem contra elas pelo uso de símbolos religiosos?

Seria ótimo se certos “intelectuais” tivessem um pouco mais de contato com o povo. Teriam mais bom senso.

Por não tê-lo, por estarem dissociados de seus povos é que governos laicistas – e semelhantes – resolveram exterminar quem se opôs a eles. Como o fizeram os jacobinos durante o Terror nos tempos de Robespierre.

Mas, esse é um tema para outro artigo...


Camisa do Barcelona tem Cruz estampada no símbolo










Jogadores do Inter de Milão


Fica a pergunta: A quem incomoda?


NOTAS

1. O que não significa, obviamente, que não tenha importância.

2. Os ingleses, ao dominar a Índia, proibiram que viúvas fossem cremadas vivas por ocasião do funeral de seus maridos.

3. A Cruz Vermelha foi idealizada pelo suíço Henry Dunant e fundada em 1863.


segunda-feira, 27 de julho de 2009



DEUS TRABALHA EM SUA EMPRESA?

Floriano Serra





Que padrão de relacionamento, que critérios de decisão e de promoção, que nível de motivação, que qualidade de vida pode-seesperar de uma cultura organizacional na qual não se cultiva a bondade, a solidariedade, a fraternidade, o respeito e o amor ao próximo, sentimentos básicos da espiritualidade?

Em muitas empresas, existem indivíduos que não acreditam em Deus ou porque são ateus ou porque trabalham tanto pra ficarem ricos que não têm tempo de pensar nessas coisas... E eles mal imaginam que devem a esse Deus ignorado o privilégio do livre arbítrio – ou seja, o direito que lhes dá até a opção de descrer d’Ele.

Começo a achar que esses indivíduos tendem a se tornar exceção em muito pouco tempo. A cada dia que passa, ouço e leio entrevistas de grandes empresários de sucesso, famosos cientistas, artistas, governantes, líderes políticos, esportistas vencedores e trabalhadores simples atestando a crença n’Ele.

Para ficarmos apenas no campo corporativo, percebo que, atualmente, muitas organizações começam seu dia de trabalho reunindo seus empregados para, juntos, fazerem alguma forma de oração, pedindo sabedoria e justiça nas decisões e harmonia nas relações.

Por essas considerações, fico feliz quando tomo conhecimento de depoimentos importantes, como o do biólogo americano Francis Collins, um dos cientistas mais notáveis da atualidade. Diretor do Projeto Genoma, Collins foi um dos responsáveis pelo mapeamento do DNA humano, em 2001 e não esconde de ninguém que, apesar do seu comprometimento com a ciência, não abre mão da fé religiosa, razão pela qual é muito criticado no meio cientifico.

Para reagir à ironia dos seus colegas cientistas, Collins lançou recentemente nos Estados Unidos o livro “The Language of God” (A Linguagem de Deus), no qual, em 300 páginas, narra como aos 27 anos deixou de ser ateu e como, ao converter-se ao cristianismo, passou a enfrentar sérias dificuldades no seio da comunidade acadêmica.

No seu livro e nas entrevistas, Collins defende aquilo que cada vez mais se torna óbvio: ciência e religião não são incompatíveis, mas sim complementares. Segundo ele, a ciência deve permanecer em silêncio nos assuntos espirituais porque estes transcendem a ela. Ele lança um questionamento: “Passo à beira de um rio, vejo uma pessoa se afogando e decido ajudá-la, mesmo pondo em risco minha própria vida. De onde vem esse impulso, nunca explicado pela teoria da evolução?”.

Lembro que em S.Paulo, há poucas semanas, um rapaz se jogou no rio Tietê para salvar uma criança que ele nem conhecia. Também recentemente, em Nova York, outro homem se jogou nos trilhos do metrô para salvar um outro, que também não conhecia. De onde vem esse impulso de incrível compaixão e solidariedade senão da parte divina do ser humano, originada na crença num Deus de bondade?

Em algumas empresas, em nome de paradigmas e valores no meu entender equivocados e até ultrapassados, cria-se uma barreira às condutas e manifestações espirituais, transformando o ambiente de trabalho numa atividade exclusivamente física, como se os profissionais fossem constituídos apenas de matéria física. Nessas empresas, é tabu falar-se em Deus.

Posso estar enganado, mas essa postura insensível certamente se reflete no modelo de gestão ali adotado pelos dirigentes e certamente recomendado aos líderes. Uma pena... Que padrão de relacionamento, que critérios de decisão e de promoção, que nível de motivação, que qualidade de vida pode-se esperar de uma cultura organizacional na qual não se cultiva a bondade, a solidariedade, a fraternidade, o respeito e o amor ao próximo, sentimentos básicos da espiritualidade?

Jamais podemos esquecer que, em qualquer empresa, o mesmo poder que pode demitir é o mesmo que pode promover. O mesmo poder que pode realizar sonhos é o mesmo que pode provocar pesadelos. O mesmo que pode criar alegria e união na equipe é o mesmo que pode gerar medo, tristeza e inimizades.

Certamente, a escolha de como usar o poder que lhe é concedido, é do Líder, conforme a Visão, a Missão e os Valores da empresa a que serve. Basta usar o mesmo livre arbítrio já citado. Mas, atenção: a inspiração para essa escolha, se não estiver embasada e iluminada pela crença em Deus, certamente correrá o risco de apontar para o caminho da tirania, do egoísmo e da insensibilidade.

Por essas e outras, até mesmo pela sobrevivência da organização, convém que Deus trabalhe na sua empresa – como, graças a Deus (desculpem o trocadilho...), trabalha na minha.

Com certeza Ele nunca será visto nem tocado pelos “colegas”. Não importa. Importante é que os “colegas” sejam tocados por Ele, em cada passo das suas atividades diárias.


Floriano Serra é psicólogo clínico e organizacional, consultor, palestrante e presidente da SOMMA4 Consultoria em Gestão de Pessoas e do IPAT - Instituto Paulista de Análise Transacional. Foi diretor de Recursos Humanos em empresas nacionais e multinacionais, recebendo vários prêmios pela excelência em Gestão de Pessoas. É autor de uma dezena de livros, como "A Empresa Sorriso" e "A Terceira Inteligência", e mais de 200 artigos sobre o comportamento humano - pessoal e profissional, publicados em websites, jornais e revistas, inclusive no Exterior.

E-mail: florianoserra@somma4.com.br
florianoserra@terra.com.br

Publicado no Portal da Família em 17/02/2008

sábado, 18 de julho de 2009


O MONGE E O PÁSSARO


Michel Zink




Era uma vez um monge. Segundo o costume daqueles tempos, seus pais tinham-no consagrado a Deus desde a nascença e enviado ao mosteiro quando ainda era criança. Agora, encontrava-se no limiar da velhice. Não se arrependia de ter passado a vida toda no mesmo convento, entre o coro e o dormitório, entre a sala do capítulo e o refeitório, entre o acolhimento aos peregrinos na hospedaria e a cópia de manuscritos no scriptorium. Tinha sido um monge feliz, o que quer dizer um bom monge. A sua fé era confiante, a sua consciência pura. Esperava em paz que Deus, a quem servira neste mundo, o acolhesse no outro.

Uma única inquietude o atormentava. Um monge leva uma vida regular, isto é, uma vida submetida a regras e uma vida em que cada dia, compassado pelas horas do ofício divino da manhã até a noite, de matinas a completas, é idêntico àquele que o precedeu e àquele que o seguirá. Idêntico? Bem, não propriamente. O ano litúrgico flui, alternando os tempos de penitência com os tempos de alegria: ao tempo do Advento sucede o tempo de Natal, ao tempo da Quaresma o tempo Pascal. Assim a liturgia desenrola a imagem da vida de Cristo e modela a vida do cristão. Mas o ano termina, e outro ano igual começa.

Essa regularidade, essa monotonia, esse retorno dos dias e dos anos não pesavam ao nosso monge, pois nunca conhecera nada diferente. Sabia, sobretudo, que esta vida tem um final, e vivia na espera da outra, da verdadeira. E aí estava a inquietação que o roía. Os eleitos, no Paraíso, cantam os louvores de Deus, como o fazem os monges neste mundo, mas nada mais têm a esperar; fazem-no por toda a eternidade. E o nosso monge temia que a eternidade acabasse por pesar-lhe: por mais feliz que se possa ser no seio de Deus, tinha medo de aborrecer-se ali.

Certa manhã, na hora do recreio que se segue à reunião do capítulo, foi, conforme o seu hábito, passear um pouco na floresta que confinava com o mosteiro. Era o tempo Pascal, que coincide com a primavera: o ar era vivo e leve, odorífero sem estar carregado de nenhum perfume em particular. As folhas tenras das árvores, a erva, o musgo, tudo estava fresco, claro e alegre. O monge sentou-se ao pé de um freixo cujas pequenas folhas alongadas traçavam sobre a terra o rendilhado de uma sombra ligeira. Minúsculas violetas escondiam-se entre as ervas. Um pouco adiante, onde plantas mais altas e mais escuras assinalavam uma depressão úmida, talvez uma fonte, havia anêmonas e, mais além, narcisos.

O monge encostou-se ao tronco da árvore e pensou mais uma vez na questão que o preocupava. Sabia muito bem que não tinha razão em levantá-la. Tinha escrúpulos e censurava-se por fazê-lo. Mesmo assim, porém, teria agradecido muito a Deus que o tranqüilizasse, dando-lhe ao menos um indício do que o esperava no paraíso.

Como permanecia ali perfeitamente imóvel, um pássaro que se tinha calado à sua aproximação, voltou a cantar. O seu canto era tão puro, tão modulado, tão melodioso, que o monge esqueceu as suas cavilações para escutá-lo. Pareceu-lhe nunca ter ouvido nada tão belo. Todas as melodias do oficio divino e das horas monásticas, as antífonas e os responsórios, os tropos e as seqüências, os hinos e os salmos que cantava no coro com os seus irmãos; todas essas melodias que, cada uma à sua maneira, subiam da nota base à terceira ou à quinta, desdobravam os seus melismas em torno da dominante, e de¬pois desciam suavemente até a inicial, como se seguissem as arcadas da abóbada da igreja ou do claustro; todas essas me¬lodias que para ele encarnavam a beleza e a paz – todas elas pareceram-lhe de repente insípidas em comparação com as poucas notas que formavam o canto daquele pássaro.


Ao cabo de um instante, pensou que era hora de voltar ao mosteiro, se não queria atrasar-se para o oficio de terça. Levantou-se, e o pássaro calou-se. Mal chegou à entrada do mosteiro, qual não foi a sua surpresa quando viu que o irmão porteiro, que ele cumprimentara uns instantes antes ao sair, tinha sido substituído por outro monge, e um monge que ele não conhecia! Esse novo porteiro também não o conhecia, pois olhou-o surpreso, perguntando-lhe o que desejava. Confundido, um pouco irritado, o nosso monge respondeu-lhe que só queria entrar, e entrar depressa para não chegar tarde ao oficio divino. O outro olhava-o sem parecer compreendê-lo.

– Mas – acabou por dizer –, não sois desta abadia.

– Como assim? Como não sou desta abadia! Sou... E disse o seu nome.

A surpresa do porteiro transformou-se em suspeita.

– Não há ninguém aqui com esse nome.

O monge começou a pensar que a brincadeira se estava alongando demais. Levantou a voz e exigiu que se chamasse o abade. O outro acabou por ceder. Mas, quando o abade chegou, o monge também não o reconheceu: não era o seu abade! Começou a ter medo. Balbuciando um pouco, repetiu que tinha saído apenas para um breve passeio, que talvez se tivesse atrasado por uns instantes para escutar um pássaro, mas que se apressara a voltar para não se atrasar para o oficio – como se tais explicações pudessem esclarecer aquela situação incompreensível. O abade desconhecido olhava-o e escutava-o em silêncio.

– Há cem anos – disse por fim –, havia nesta abadia um monge que tinha o vosso nome. Certo dia, mais ou menos a esta hora e nesta estação, saiu do mosteiro. Nunca mais regressou e nunca ninguém tornou a vê-lo.

Então o monge compreendeu que Deus o escutara. Se cem anos lhe tinham parecido um instante no arroubamento em que o mergulhara o canto do pássaro, a eternidade não seria senão um instante no arroubamento em Deus. Confessou ao abade a inquietação que experimentara durante tanto tempo, e, sentindo cair sobre si o peso de toda aquela centúria, morreu em paz entre os seus braços.


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(*) Adaptado do sermão 18, para o terceiro domingo depois da Páscoa, das Homilias de Maurice de Sully.

Nascido por volta de 1120, numa família modesta de Sully-sur-Loire, Maurice tornou-se em 1160 bispo de Paris, onde empreendeu a construção da catedral de Notre-Dame. Excelente administrador da sua diocese, compôs um compêndio de sermões ou homilias que foi usado durante séculos como ajuda para a pregação. Há uma versão latina e uma francesa desse sermonário. Usamos Maurice de Sully and the Medieval Vernacular Homily. With the Text of Maurice´s French Homilias from a Sens Cathedral Chapter Ms., ed. C.A. Robson, Oxford, Basil Blackwell, 1952, págs. 124-127.

Conto medieval, selecionado e reescrito por Michel Zink, que oferece ao leitor moderno uma pequena demonstração da fé viva, generosa e fervente praticada na vida de cada dia do homem da Idade Média.


Michel Zink
Nascido em 1945, é Doutor em Letras. Foi professor da Universidade de Toulouse e da Sorbonne, e atualmente leciona Literatura Francesa Medieval no Collège de France. Foi também professor visitante das Universidades de Berkeley, Constança, John Hopkins, Nápoles, Penn, Roma, Santiago de Compostela e Yale.


Fonte: O Jogral de Nossa Senhora. Quadrante, São Paulo: 2001. Págs. 68-71.
Tradução: Quadrante