segunda-feira, 21 de setembro de 2009



SÃO LUÍS IX, REI DA FRANÇA




Valter de Oliveira



“Luis IX é o homem modelo da Idade Média: é um legislador, um herói e um santo.” (Chateaubriand)

“O mais célebre dos santos leigos do século XIII.” (Le Goff)




Na aurora de minha juventude entusiasmei-me com os santos da Igreja: ricos e pobres, nobres e plebeus, homens e mulheres. Admirei a fortaleza e o espírito de obediência de S. Inácio, a pobreza singela e alegre de S. Francisco, a grandeza da Teresa doutora, a pequena via da carmelita de Lisieux, o exemplo de vida e os textos encantadores de S. Bernardo. E comovi-me como nunca ao conhecer a gesta de S. Luís.

A primeira vez que li exemplos de sua vida foi em um antigo manual escolar de Jules Isaac e André Alba. Depois, por ocasião da leitura da História das Cruzadas, de Joseph François Michaud. Agora tenho finalmente em mãos sua biografia contada por Jacques Le Goff, que custou ao grande historiador 15 anos de pesquisa... É dela que retiro a seguinte descrição do rei:

“Por sua estatura ele ultrapassava todo mundo dos ombros para cima, a beleza de seu corpo tinha a harmonia de suas proporções, (...) seu rosto plácido e sereno exteriormente tinha qualquer coisa de angélico, seu olhos de pomba emitiam raios graciosos, sua face era simultaneamente branca e brilhante, a brancura precoce de seus cabelos (e de sua barba) pressagiava sua maturidade interior e mesmo a venerável sabedoria da velhice. Tudo isso é talvez superficial de ser louvado porque é apenas ornamento do homem exterior. As qualidades interiores vêm da santidade, e a elas é que é preciso ligar-se e venerar. É a isso que se é compelido a mais amar no rei, e interiormente somos movidos no sentido da alegria só pelo aspecto exterior do rei”.

Esta é a imagem do rei que se fixou muito cedo logo depois de sua morte e de sua canonização.É uma imagem idealizada (...) mas em parte é corroborada pelas impressões ao natural de Joinville (...). Um último traço também é marca da época: a referência à alegria que raiava do rosto do rei. É bem um rei franciscano de feição sorridente que transmite uma mensagem não de tristeza, mas de alegria.” (1)

Transcrevo a seguir dois exemplos de sua vida. Foram os primeiros que conheci.

S. Luis e o pecado

“O que preferiríeis: ser leproso ou ter cometido um pecado mortal?" pergunta um dia S. Luís a seu amigo Joinville (2).

“E eu, diz este, que nunca lhe menti, respondi-lhe que preferiria ter cometido trinta pecados mortais a ser leproso.” –“Falais levianamente e como um tonto, respondeu o rei; porque lepra alguma é tão feia quanto o pecado mortal. Quando o homem morre está curado da lepra do corpo; mas quando aquele que cometeu um pecado mortal morre, não está seguro de que seu arrependimento foi suficiente para lhe obter o perdão de Deus. Assim, peço-vos, disse ele, que tomeis a peito, pelo amor de Deus e de mim, preferir que vosso corpo sofra de lepra ou de qualquer doença que deixar o pecado mortal entrar na vossa alma...”

Natural que quem tinha tal aversão ao pecado sabia perfeitamente que nós o evitamos por amor a Deus. E sabia que a virtude mais necessária é a caridade.


O amor de S. Luís aos pobres


É ainda Joinville quem nos conta a seguinte história:

“Havia, numa abadia próxima de Paris, um monge leproso. A lepra havia-lhe roído os olhos, destruído o nariz, fendido os lábios. Um dia S. Luís foi visitar o infeliz e o encontrou a comer carne de porco: “O rei saudou este doente, perguntou-lhe como estava, ajoelhou-se diante dele, começou a cortar a carne, e quando acabou de cortá-la em pedaços, punha-os na boca do doente...” Em seguida, mandou vir perdizes de sua cozinha. “O bom rei cortou as asas de uma perdiz e salgava os pedaços e depois punha-os na boca do doente. Mas como os lábios estavam feridos, o doente sangrava porque o sal lhe entrava por eles: então o bom rei punha sal nos pedaços de carne, para que tivessem gosto; depois tirava os grãos de sal para que não entrassem nas fendas dos lábios do doente”. Após o que deu-lhe de beber, “e quando isto foi feito, o bom rei pediu ao doente que rezasse a Nosso Senhor por ele.”


Muita gente pode não entender como é que um rei, tão cioso em aplicar a justiça, tão leal e jovial com os amigos, tão compassivo com os pobres, decidiu fazer uma cruzada. Ele a fez com uma grandeza imensa. Sua decisão de faze-la foi inquebrantável. No modo de anunciá-la ao povo mostrou seu senso de dever e de justiça.

É o que veremos na próxima semana.

Notas:

1. LE GOFF, Jacques. São Luís. Record, Rio de Janeiro, 1999, p. 460

2. Joinville foi um grande amigo de S. Luis. Escreveu a biografia do rei.

3. ISAAC, Jules; ALBA, André. A Idade Média. Curso de História. Editora Mestre Jou, São Paulo, 1967. p.94-95.

3. ISAAC/ALBA. op.cit. p. 97-98.


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