segunda-feira, 12 de outubro de 2009



SÃO LUÍS IX, REI DA FRANÇA

Parte II


Valter de Oliveira




1245. O Concílio de Lion, na França, convocado por Inocêncio IV conclama os cristãos para nova cruzada. Mais uma vez iria se tentar a libertação da Terra Santa. Na mesma assembléia o Papa excomunga o imperador Frederico II. O resultado foi trágico. A luta entre o Papado e o Império irá crescer ainda mais.


Papa Inocêncio IV preside Concílio em 1245

Com efeito, diz François Michaud, a crise que já era grae foi aprofundada. A "cólera que animava o imperador e o Papa passou para o espírito do povo: corria-se às armas em todas as províncias da Alemanha e da Itália". Nesse clima talvez não tivéssemos tido uma nova cruzada caso não tivesse surgido "um monarca poderoso e respeitado": Luis IX, rei da França. (1)

Como isso se deu?

Um ano antes Luis havia caído gravemente enfermo. Espalhou-se a notícia que ele havia morrido. Toda a França estava imersa em profunda dor. Entretanto, continua Michaud, parece que o Céu não conseguiu resistir às orações e lágrimas do povo. Milagrosamente o rei voltou à vida, e a primeira coisa que fez foi "pedir a cruz e anunciar sua determinação de libertar a Terra Santa". Determinação que foi combatida por clérigos e nobres do círculo real. Seus argumentos foram infrutíferos. Restava uma última cartada: anunciar o fato à rainha Branca.

"Então a rainha sua mãe ouviu dizer que a palavra lhe tinha voltado, e ela mostrou por isso alegria tão grande quanto pôde. E quando soube que ele se tinha feito cruzado, assim que ele mesmo o contou, mostrou tão grande tristeza como se o visse morto".

São Luís embarca para as Cruzadas

O historiador francês pergunta: "Por que essa dor tão grande e tão espetacular? Duas angústias muito fortes se unem nela. Uma é simplesmente, ela o confessa, seu amor materno. Reverá ela algum dia o filho tão amado?"(...) Outra continua o autor, refere-se aos deveres do rei: "O afastamento para uma cruzada é compatível com "os deveres do soberano e as obrigações que lhe impõe a salvação do reino? (2)

Luis ficou comovido. Chorando, lançou-se nos braços da mãe. Depois, "retomando um ar calmo e sereno, disse: "Meus amigos, vós sabeis que minha resolução já é conhecida de toda a cristandade (...) Escrevi a todos os reis da Europa (...). Anunciei aos cristãos da Palestina que iria socorrê-los em pessoa (...). Que me propondes agora? Mudar projetos tão publicamente proclamados e nada fazer do que eu prometi (...); enganar ao mesmo tempo as esperanças da Igreja, dos cristãos da Palestina e de minha fiel nobreza?"

"No entretanto, como pensais que eu não estava em uso da razão quando tomei a cruz de além-mar, eu vo-la devolvo: ei-la a cruz que vos causa tantas apreensões e que eu recebi, como dizeis, num momento de delírio. Mas, hoje que estou plenamente no uso de minha razão, eu vo-la peço de novo e vos declaro que não tomarei nenhuma espécie de alimento antes que ela me seja restituída" (3)

E depois de convocar os ouvintes a apoiá-lo, lembrando que Deus velaria por seus filhos e pelo reino, que confiava na regência de sua mãe, que já salvara o Estado de tantos perigos, S. Luis completa:

"Deixai-me então manter todas as promessas que fiz diante de Deus e dos homens e não vos esqueçais de que há obrigações que são sagradas para mim e que devem ser sagradas para vós: o juramento de um cristão e a palavra de um rei".

Michaud completa: "Assim falou Luis IX. A Rainha Branca e o Bispo de Paris e os outros conselheiros do rei, ficaram em religioso silêncio; só pensaram em secundar o monarca em seus projetos e em apressar a execução de um empreendimento que parecia vir de Deus." (4)

Passou-se um certo tempo. As lutas entre o Papa e o Imperador continuavam. Luis quase teve êxito em levar a paz aos dois contendores. Ambos reconheciam a grandeza, o equilíbrio e o senso de justiça do rei franco. Entretanto, tais qualidades não foram suficientes para que se reconciliassem.

Com a crise na Europa a França era o único país onde todos se ocupavam seriamente da cruzada. A piedade e o zelo de Luís reanimavam a todos. Nobres e plebeus, clérigos e leigos, deram exemplos comoventes de desprendimento e de grandeza. O amor dos franceses por seu rei era impressionante. Comove-nos ainda hoje, após sete séculos.

É o que veremos no próximo artigo.


Notas:


1. MICHAUD, Joseph François. História das Cruzadas, Vol. IV, Ed. das Américas, São Paulo, 1956, p. 333

2 LE GOFF. Jacques. São Luís. Record, Rio de Janeiro, 1999. p. 632

3. MICHAUD, op. cit. p. 342

4. MICHAUD, op. cit. p. 343

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