segunda-feira, 27 de setembro de 2021

JÓ E O SOFRIMENTO

 


JÓ E O SOFRIMENTO

Jó, diz a Sagrada Escritura, era um homem temente a Deus, que tinha recebido inúmeras bênçãos do Senhor. Era rico, tinha toda sorte de bens e uma numerosa descendência. Os antigos acreditavam que tal riqueza era um prêmio por suas virtudes.

Aí surge Satanás que diz a Deus que Jó deixaria de ser bom caso perdesse os bens. O desafio foi aceito. Primeiro ele perdeu os bens materiais, depois os filhos. Continuou louvando ao Altíssimo. O demônio sugere nova prova: a perda de sua saúde. A doença foi duríssima: ele ficou todo chagado. Perdeu a fé? Não. Continuou a abençoar o Senhor.

Francisco Fernando Carvajal comenta:

“O Livro de Jó propõe “o problema do sofrimento do homem inocente com toda a clareza: o do sofrimento sem culpa. Jó não foi castigado; não havia razão para lhe ser infligida uma pena, e não obstante foi submetido a uma prova duríssima”7. Depois desta prova, Jó sairá fortalecido na sua virtude, que não dependia da sua situação confortável nem dos benefícios que tinha recebido de Deus. Mas “o Livro de Jó não é a última palavra da Revelação sobre este tema. De certo modo, é um anúncio da Paixão de Cristo”8, a única que pode trazer luz ao mistério do sofrimento humano, e de modo especial à dor do inocente.

Tanto amou Deus o mundo, que lhe deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna9. A dor muda radicalmente de sinal com a Paixão de Cristo. “É como se Jó a tivesse pressentido quando disse: Eu sei que o meu Redentor vive, e que no último dia [...] verei na minha própria carne o meu Deus (Jó 19, 25); e que para ela tivesse orientado o seu próprio sofrimento, o qual, sem a Redenção, não teria podido revelar-lhe a plenitude do seu significado. Na Cruz de Cristo, não só se realizou a Redenção através do sofrimento, mas também o próprio sofrimento humano foi redimido. Cristo – sem culpa nenhuma própria – tomou sobre si todo o mal do pecado”10. Os padecimentos de Jesus foram o preço da nossa salvação11. Desde então, a nossa dor pode unir-se à de Cristo e assim participar da Redenção de toda a humanidade. “Esta foi a grande revolução cristã: converter a dor em sofrimento fecundo; fazer, de um mal, um bem. Despojamos o diabo dessa arma...; e, com ela, conquistamos a eternidade”12.

A DOR NUNCA PASSA ao nosso lado deixando-nos como antes. Purifica a alma, eleva-a, aumenta o grau de união com a vontade divina, ajuda-nos a desprender-nos dos bens, do excessivo apego à saúde, faz-nos corredentores com Cristo..., ou, pelo contrário, afasta-nos do Senhor e deixa a alma entristecida e entorpecida para as coisas sobrenaturais. Quando Simão Cireneu foi requisitado para ajudar Jesus a carregar a Cruz, submeteu-se a contragosto. Foi forçado13, escreve o Evangelista. Nos primeiros momentos, só olhava para a Cruz, e a Cruz era um simples madeiro pesado e incômodo. Depois, desviou a vista do madeiro para o réu, aquele homem totalmente singular que ia ser condenado. E então tudo mudou: ajudou Jesus com amor e mereceu o prêmio da fé para si e para os seus dois filhos, Alexandre e Rufo14.

Cada um de nós deve também olhar menos para a cruz e mais para Cristo, no meio das suas provas e tribulações. Compreenderemos então que carregar a Cruz tem sentido quando a levamos junto com o Mestre. “O desejo mais ardente do Senhor é acender nos nossos corações essa chama de amor e de sacrifício que abrasa o seu. E por pouco que correspondamos a esse desejo, o nosso coração converter-se-á num foco de amor que consumirá pouco a pouco essas escórias acumuladas pelas nossas culpas e nos transformará em vítimas de expiação, alegres por conseguirmos, à custa de alguns sofrimentos, uma maior pureza, uma união mais estreita com o Amado; alegres também por completarmos a Paixão do Salvador pelo bem da Igreja e das almas (Col 1, 24) [...]. Aos pés do Crucificado, compreendemos que, neste mundo, não é possível amar sem sacrifício, mas que o sacrifício é doce para quem ama”15.

Fonte: Francisco Fernandez Carvajal, Excerto de Falar com Deus, “Jó e o sofrimento”, meditação de 27 de setembro.


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