DO DOMINGO DE RAMOS AO DOMINGO DE PÁSCOA
Javier Echevarría
DOMINGO DE RAMOS: JESUS ENTRA EM JERUSALÉM
Começa a Semana Santa e recordamos a entrada triunfal de Cristo em Jerusalém. Escreve São Lucas. “Ao aproximar-se de Betfagé e de Betânia, junto ao monte chamado das Oliveiras, enviou dois dos seus discípulos dizendo-lhes: “Ide a essa aldeia que está em frente e, ao entrar, encontrareis um burrico amarrado que nunca ninguém montou. Soltai-o e trazei-o. Se alguém vos perguntar porque o soltais, dir-lhe-eis: o Senhor tem necessidade dele”. Foram e encontraram tudo como o Senhor lhes tinha dito”.
Que pobre montaria Nosso Senhor escolhe! Talvez nós, presunçosos, tivéssemos escolhido um imponente cavalo. Porém, Jesus não se guia por razões meramente humanas, mas por critérios divinos. “Isto sucedeu – anota São Mateus – para que se cumprissem as palavras do profeta: «Dizei à filha de Sião: eis que o teu rei vem a ti, manso e montado sobre um jumento, num burrico, filho de jumenta»”.
Jesus Cristo, que é Deus, contenta-se com um burrico por trono. Nós, que não somos nada, mostramo-nos muitas vezes vaidosos e soberbos: procuramos sobressair, chamar a atenção; tratamos de que os outros nos admirem e louvem. São Josemaria Escrivá, canonizado por João Paulo II há dois anos, ficou cativado com esta cena do Evangelho.
Dizia de si mesmo que era um burrico sarnento, que não valia nada; mas como a humildade é a verdade, reconhecia também que era depositário de muitos dons de Deus; especialmente, da tarefa de abrir caminhos divinos na terra, mostrando a milhões de homens e mulheres que podem ser santos no cumprimento do trabalho profissional e dos deveres ordinários.
Jesus entra em Jerusalém sobre um burrico. Temos de tirar conseqüências desta cena. Cada cristão pode e deve converter-se em trono de Cristo. E aqui servem como anel ao dedo umas palavras de São Josemaria. “Se a condição para que Jesus reinasse na minha alma, na tua alma, fosse contar previamente com um lugar perfeito dentro de nós, teríamos motivos para desesperar. Jesus contenta-se com um pobre animal por trono. (...) Há centenas de animais mais belos, mais hábeis e mais cruéis. Mas Cristo escolheu esse para se apresentar como rei diante do povo que o aclamava. Porque Jesus não sabe o que fazer com a astúcia calculista, com a crueldade dos corações frios, com a formosura vistosa, mas oca. Nosso Senhor ama a alegria de um coração jovem, o passo simples, a voz sem falsete, os olhos limpos, o ouvido atento à sua palavra de carinho. É assim que reina na alma”.
Deixemo-lo tomar posse dos nossos pensamentos, palavras e ações! Afastemos sobretudo o amor-próprio, que é o maior obstáculo ao reinado de Cristo! Sejamos humildes, sem nos apropriarmos de méritos que não são nossos. Imaginais o ridículo em que cairia o burrico, se se tivesse apropriado das aclamações e aplausos que as pessoas dirigiam ao Mestre?
Comentando esta cena evangélica, João Paulo II recorda que Jesus não entendeu a sua existência terrena como procura do poder, como ânsia de êxito e de fazer carreira, ou como vontade de domínio sobre os outros. Pelo contrário, renunciou aos privilégios da sua igualdade com Deus, assumiu a condição de servo, fazendo-se semelhante aos homens, e obedeceu ao projeto do Pai até à morte na Cruz (Homilia, 8-IV-2001).
O entusiasmo das pessoas não costuma ser duradouro. Poucos dias depois, os que o tinham aclamado pedirão aos gritos a sua morte. E nós deixar-nos-emos levar por um entusiasmo passageiro? Se nestes dias notamos o movimento divino da graça de Deus, que passa por nós, podemos dar-lhe lugar nas nossas almas. Estendamos no chão, mais que as palmas ou os ramos de oliveira, os nossos corações. Sejamos humildes. Sejamos mortificados. Sejamos compreensivos com os outros. Esta é a homenagem que Jesus espera de nós.
A Semana Santa oferece-nos a oportunidade de reviver os momentos fundamentais da nossa Redenção. Mas não esqueçamos que – como escreve São Josemaria –, “para acompanhar Cristo na sua glória, no fim da Semana Santa, é necessário que penetremos antes no seu holocausto, e que nos sintamos uma só coisa com Ele, morto sobre o Calvário”. Para isso, nada melhor que caminhar pela mão de Maria. Que Ela nos obtenha a graça de que estes dias deixem uma marca profunda nas nossas almas. Que sejam, para cada uma e cada um, ocasião de aprofundar no Amor de Deus, para assim mostrá-lo aos outros.
QUINTA-FEIRA SANTA: INSTITUIÇÃO DA EUCARISTIA
A liturgia de Quinta-Feira Santa é riquíssima de conteúdo. É o grande dia da instituição da Sagrada Eucaristia, dom do Céu para os homens; o dia da instituição do sacerdócio, nova prenda divina que assegura a presença real e atual do Sacrifício do Calvário em todos os tempos e lugares, tornando possível que nos apropriemos dos seus frutos.
Aproximava-se o momento em que Jesus ia oferecer a sua vida pelos homens. Tão grande era o seu amor, que na sua Sabedoria infinita encontrou o modo de ir e de ficar, ao mesmo tempo. São Josemaria, ao considerar o comportamento dos que se vêem obrigados a deixar a sua família e a sua casa, para procurar emprego em outro lugar, comenta que o amor humano costuma recorrer aos símbolos. As pessoas que se despedem trocam lembranças entre si, talvez uma fotografia… Jesus Cristo, perfeito Deus e perfeito Homem, não deixa um símbolo, mas uma realidade. Fica Ele mesmo. Embora vá para o Pai, permanece entre os homens. Sob as espécies do pão e do vinho está Ele, realmente presente, com o seu Corpo, o seu Sangue, a sua Alma e a sua Divindade.
Como responderemos a esse amor imenso? Assistindo com fé e devoção à Santa Missa, memorial vivo e atual do Sacrifício do Calvário. Preparando-nos muito bem para comungar, com a alma bem limpa. Visitando Jesus com freqüência, escondido no Sacrário.
A primeira leitura da Missa, recorda o que Deus estabeleceu no Antigo Testamento, para que o povo israelita não se esquecesse dos benefícios recebidos. Desce a muitos detalhes: desde como devia ser o cordeiro pascoal, até aos pormenores que tinham de cuidar para recordar a passagem do Senhor. Se isso se prescrevia para comemorar alguns acontecimentos históricos, que eram só uma imagem da libertação do pecado realizada por Jesus Cristo, como deveríamos comportar-nos agora, quando verdadeiramente fomos resgatados da escravidão do pecado e feitos filhos de Deus!
Esta é a razão por que a Igreja nos inculca um grande esmero em tudo o que se refere à Eucaristia. Assistimos ao Santo Sacrifício todos os domingos e festas de guarda, sabendo que estamos participando numa ação divina?
São João relata que Jesus lavou os pés dos discípulos, antes da Última Ceia. Temos de estar limpos, na alma e no corpo, e aproximarmos para recebê-lo com dignidade. Para isso nos deixou o Sacramento da Penitência.
Comemoramos também a instituição do sacerdócio. É um bom momento para rezar pelo Papa, pelos Bispos, pelos sacerdotes, e para rogar que haja muitas vocações no mundo inteiro. Pediremos melhor na medida em que tenhamos mais diálogo com esse Jesus, que instituiu a Eucaristia e o Sacerdócio. Vamos dizer, com total sinceridade, o que repetia São Josemaria: Senhor, põe no meu coração o amor com que queres que eu te ame.
Na cena de hoje Nossa Senhora não aparece fisicamente, ainda que estivesse em Jerusalém naqueles dias: encontrá-la-emos amanhã ao pé da Cruz. Mas já hoje, com a sua presença discreta e silenciosa, acompanha muito de perto o seu Filho, em profunda união de oração, de sacrifício e de entrega. João Paulo II assinala que, depois da Ascensão do Senhor ao Céu, participaria assiduamente nas celebrações eucarísticas dos primeiros cristãos. E acrescenta o Papa: “aquele corpo, entregue em sacrifício e presente agora nas espécies sacramentais, era o mesmo corpo concebido no seu ventre! Receber a Eucaristia devia significar para Maria quase acolher de novo no seu ventre aquele coração que batera em uníssono com o dEla” (Ecclesia de Eucharistia, 56).
Também agora Nossa Senhora acompanha Cristo em todos os sacrários da terra. Peçamos-lhe que nos ensine a ser almas de Eucaristia, homens e mulheres de fé segura e de piedade forte, que se esforçam por não deixar Jesus só. Que saibamos adorá-lo, pedir-lhe perdão, agradecer os seus benefícios, fazer-lhe companhia.
SEXTA-FEIRA SANTA: CRISTO NA CRUZ
Hoje queremos acompanhar Cristo na Cruz. Recordo umas palavras de São Josemaria, numa Sexta-Feira Santa. Convidava-nos a reviver pessoalmente as horas da Paixão: desde a agonia de Jesus no Horto das Oliveiras até à flagelação, a coroação de espinhos e a morte na Cruz. Dizia: “atada a onipotência de Deus por mão de homem levam o meu Jesus de um lado para outro, entre os insultos e os empurrões da multidão”.
Cada um de nós pode se ver no meio daquela multidão, porque foram os nossos pecados a causa da imensa dor que se abate sobre a alma e o corpo do Senhor. Sim: cada um de nós leva Cristo, convertido em objeto de troça, de uma a outra parte. Somos nós que, com os nossos pecados, reclamamos aos gritos a sua morte. E Ele, perfeito Deus e perfeito Homem, deixa-nos agir. Tinha-o predito o profeta Isaías: maltratado, não abriu a sua boca; como cordeiro levado ao matadouro, como ovelha muda ante os tosquiadores.
É justo que sintamos a responsabilidade dos nossos pecados. É lógico que estejamos muito agradecidos a Jesus. É natural que procuremos a reparação, porque às nossas manifestações de desamor, Ele responde sempre com um amor total. Neste tempo da Semana Santa, vemos o Senhor mais próximo, mais semelhante aos seus irmãos os homens... Meditemos umas palavras de João Paulo II: “Quem crê em Jesus crucificado e ressuscitado leva a Cruz como um triunfo, como prova evidente de que Deus é amor... Mas a fé em Cristo nunca se pode dar por pressuposta. O mistério pascal, que reviveremos nos dias da Semana Santa, é sempre atual” (Homilia, 24-III-2002).
Peçamos a Jesus, nesta Semana Santa, que desperte na nossa alma a consciência de ser homens e mulheres verdadeiramente cristãos, para que vivamos de cara a Deus e, com Deus, voltados a todas as pessoas.
Não deixemos que o Senhor leve a Cruz sozinho. Acolhamos com alegria os pequenos sacrifícios diários.
Aproveitemos a capacidade de amar, que Deus nos concedeu, para concretizar propósitos, mas sem ficarmos num mero sentimentalismo. Digamos sinceramente: Senhor, nunca mais! Nunca mais! Peçamos com fé para que nós e todas as pessoas da terra descubramos a necessidade de ter ódio ao pecado mortal e de repelir o pecado venial deliberado, que tantos sofrimentos causaram ao nosso Deus.
Que grande é o poder da Cruz! Quando Cristo é objeto de riso e de escárnio para todo o mundo; quando está no Madeiro sem querer arrancar os cravos; quando ninguém daria nem um centavo pela sua vida, o bom ladrão – um como nós – descobre o amor de Cristo agonizante, e pede perdão. Hoje estarás comigo no Paraíso. Que força tem o sofrimento, quando se aceita junto de Nosso Senhor! É capaz de tirar – das situações mais dolorosas – momentos de glória e de vida. Esse homem que se dirige a Cristo agonizante, encontra a remissão dos seus pecados, a felicidade para sempre.
Nós temos de fazer o mesmo. Se perdermos o medo da Cruz, se nos unirmos a Cristo na Cruz, receberemos a sua graça, a sua força, a sua eficácia. E encher-nos-emos de paz.
Ao pé da Cruz descobrimos Maria, Virgem fiel. Peçamos-lhe, nesta Sexta-Feira Santa, que nos empreste o seu amor e a sua força, para que também nós saibamos acompanhar Jesus. Dirigimo-nos a Ela com umas palavras de São Josemaria, que ajudaram milhões de pessoas. Diz: Minha Mãe (tua, porque és seu por muitos títulos), que o teu amor me ate à Cruz do teu Filho; que não me falte a Fé, nem a valentia, nem a audácia, para cumprir a vontade do nosso Jesus.
SÁBADO SANTO: SILÊNCIO E CONVERSÃO
Hoje é um dia de silêncio na Igreja: Cristo jaz no sepulcro e a Igreja medita, admirada, o que fez este Senhor nosso por nós. Guarda silêncio para aprender do Mestre, ao contemplar o seu corpo destroçado.
Cada um de nós pode e deve unir-se ao silêncio da Igreja. E ao considerar que somos responsáveis por essa morte, esforçar-nos-emos para que as nossas paixões, as nossas rebeldias, tudo o que nos afaste de Deus, guardem silêncio. Mas sem estarmos meramente passivos: é uma graça que Deus nos concede quando a pedimos diante do Corpo morto do seu Filho, quando nos empenhamos por tirar da nossa vida tudo o que nos afasta dEle.
O Sábado Santo não é um dia triste. O Senhor venceu o demônio e o pecado, e dentro de poucas horas vencerá também a morte com a sua gloriosa Ressurreição. Reconciliou-nos com o Pai celestial: já somos Filhos de Deus! É necessário fazer propósitos de agradecimento, que tenhamos a segurança de superar todos os obstáculos, sejam de que tipo for, se nos mantivermos bem unidos a Jesus pela oração e pelos sacramentos.
O mundo tem fome de Deus, ainda que muitas vezes não o saiba. As pessoas estão desejando que se lhes fale desta realidade gozosa – o encontro com o Senhor –, e para isso viemos nós os cristãos. Tenhamos a valentia daqueles dois homens – Nicodemos e José de Arimateia –, que durante a vida de Jesus Cristo mostravam respeitos humanos, mas que, no momento definitivo, se atrevem a pedir a Pilatos o corpo morto de Jesus, para lhe dar sepultura. Ou a daquelas mulheres santas que, sendo Cristo já um cadáver, compram aromas e acodem para embalsamá-lo, sem ter medo dos soldados que guardam o sepulcro.
À hora da debandada geral, quando todo o mundo se sentiu com direito de insultar, rir e mofar-se de Jesus, eles vão dizer: dá-nos esse Corpo, que nos pertence. Com que cuidado o desceriam da Cruz e iriam olhando as suas Chagas! Peçamos perdão e digamos, com palavras de São Josemaria: “eu subirei com eles ao pé da Cruz, apertar-me-ei ao Corpo frio, cadáver de Cristo, com o fogo do meu amor..., despregá-Lo-ei com os meus desagravos e mortificações..., envolvê-Lo-ei com o lençol novo da minha vida limpa e enterrá-Lo-ei no meu peito de rocha viva, onde ninguém mo poderá arrancar; e, aí, Senhor, descansai!”
Compreende-se que pusessem o corpo morto do Filho nos braços da Mãe, antes de dar-lhe sepultura. Maria era a única criatura capaz de lhe dizer que entende perfeitamente o seu Amor pelos homens, pois Ela não foi causadora dessas dores. A Virgem Puríssima fala por nós; mas fala para nos fazer reagir, para que experimentemos a sua dor, feita uma só coisa com a dor de Cristo.
Tiremos propósitos de conversão e de apostolado, de identificar-nos mais com Cristo, de estar totalmente centrados nas almas. Peçamos ao Senhor que nos transmita a eficácia salvadora da sua Paixão e da sua Morte. Consideremos o panorama que se nos apresenta por diante. As pessoas que nos rodeiam esperam que nós os cristãos lhes descubramos as maravilhas do encontro com Deus. É necessário que esta Semana Santa – e depois todos os dias – seja para nós um salto de qualidade, um dizer ao Senhor que se meta totalmente nas nossas vidas. É preciso comunicar a muitas pessoas a Vida nova que Jesus Cristo nos conseguiu com a Redenção.
Recorramos a Santa Maria: Virgem da Solidão, Mãe de Deus e Mãe nossa, ajuda-nos a compreender – como escreve São Josemaria – que é preciso fazer vida nossa a vida e a morte de Cristo. Morrer pela mortificação e pela penitência, para que Cristo viva em nós pelo Amor. E seguir então os passos de Cristo, com ânsia de corredimir todas as almas. Dar a vida pelos outros. Só assim se vive a vida de Jesus Cristo e nos fazemos uma só coisa com Ele.
DOMINGO DE PÁSCOA: JESUS VENCEU
Transcorrido o sábado, Maria Madalena, Maria a Mãe de Tiago, e Salomé, compraram perfumes para ir embalsamar Jesus. Muito de madrugada, no primeiro dia da semana, ao nascer do sol, dirigiram-se ao sepulcro. Assim começa São Marcos a narração do sucedido naquela madrugada de há dois mil anos, na primeira Páscoa cristã.
Jesus tinha sido sepultado. Aos olhos dos homens, a sua vida e a sua mensagem tinham terminado com o mais profundo dos fracassos. Os seus discípulos, confusos e atemorizados, tinham-se dispersado. As próprias mulheres que acodem para realizar um gesto piedoso, perguntam-se umas às outras: quem nos tirará a pedra da entrada do sepulcro? “No entanto, faz notar São Josemaria, seguem adiante... Tu e eu, como andamos de vacilações? Temos esta decisão santa, ou temos de confessar que sentimos vergonha ao contemplar a decisão, a intrepidez, a audácia destas mulheres?”
Cumprir a Vontade de Deus, ser fiéis à lei de Cristo, viver coerentemente a nossa fé, pode parecer às vezes muito difícil. Apresentam-se obstáculos que parecem insuperáveis. No entanto, não é assim. Deus vence sempre.
A epopéia de Jesus de Nazaré não termina com a sua morte ignominiosa na Cruz. A última palavra é a da Ressurreição gloriosa. E os cristãos, no Batismo, somos mortos e ressuscitados com Cristo: mortos para o pecado e vivos para Deus. “Oh Cristo – dizemos com o Santo Padre João Paulo II –, como não te dar graças pelo dom inefável que nos ofereces nesta noite! O mistério da tua Morte e da tua Ressurreição infunde-se na água batismal que acolhe o homem velho e carnal, e o faz puro, com a mesma juventude divina” (Homilia, 15-IV-2001).
Hoje a Igreja, cheia de alegria, exclama: este é o dia que o Senhor fez: regozijemo-nos e alegremo-nos com ele! Grito de júbilo que se prolongará durante cinqüenta dias, ao longo do tempo pascal, como um eco das palavras de São Paulo: posto que vós ressuscitastes com Cristo, procurai os bens do alto, onde está Cristo sentado à direita de Deus. Ponham todo o coração nos bens do céu, não nos da terra; porque morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.
É lógico pensar – e assim o considera a Tradição da Igreja – que Jesus Cristo, uma vez ressuscitado, apareceu em primeiro lugar à sua Santíssima Mãe. O fato de que não apareça nos relatos evangélicos, com as outras mulheres, é – como assinala João Paulo II – um indício de que Nossa Senhora já havia se encontrado com Jesus.
“Esta dedução ficaria confirmada também – acrescenta o Papa – pelo fato de que as primeiras testemunhas da ressurreição, por vontade de Jesus, foram as mulheres, as quais permaneceram fiéis ao pé a Cruz e, portanto, mais firmes na fé” (Audiência, 21-V-1997). Só Maria tinha conservado plenamente a fé, durante as horas amargas da Paixão; por isso é natural que o Senhor tivesse aparecido a Ela em primeiro lugar.
Temos de permanecer sempre junto à Nossa Senhora, mas mais ainda no tempo de Páscoa, e aprender dEla. Com que ânsias tinha esperado a Ressurreição! Sabia que Jesus tinha vindo salvar o mundo e que, portanto, devia padecer e morrer; mas também conhecia que não podia ficar sujeito à morte, porque Ele é a Vida.
Uma boa forma de viver a Páscoa consiste em esforçar-nos por fazer os outros participantes da vida de Cristo, cumprindo com primor o mandamento novo da caridade, que o Senhor nos deu na véspera da sua Paixão: nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros. Cristo ressuscitado repete agora a cada um de nós. Diz-nos: amem-se de verdade uns aos outros, esforcem-se todos os dias por servir os outros, estejam atentos aos detalhes mais pequenos, para fazer a vida agradável aos que convivem convosco.
Mas voltemos ao encontro de Jesus com a sua Santíssima Mãe. Que contente estaria Nossa Senhora, ao contemplar aquela Humanidade Santíssima – carne da sua carne e vida da sua vida – plenamente glorificada! Peçamos-lhe que nos ensine a sacrificar-nos pelos outros sem o fazer notar, sem esperar sequer que nos agradeçam: que tenhamos fome de passar inadvertidos, para assim possuirmos a vida de Deus e comunicá-la a outros. Hoje, dirigimos-lhe a oração do Regina Caeli, saudação própria do tempo pascal. “Rainha do Céu alegrai-vos, aleluia / Porque aquele que merecestes trazer em vosso seio, aleluia / Ressuscitou como disse, aleluia. / Rogai por nós a Deus, aleluia. / Exultai e alegrai-vos, ó Virgem Maria, aleluia / Porque o Senhor ressuscitou verdadeiramente, aleluia”.
Javier Echevarría
Prelado do Opus Dei
Fonte: www.quadrante.com.br
www.opusdei.org
Que pobre montaria Nosso Senhor escolhe! Talvez nós, presunçosos, tivéssemos escolhido um imponente cavalo. Porém, Jesus não se guia por razões meramente humanas, mas por critérios divinos. “Isto sucedeu – anota São Mateus – para que se cumprissem as palavras do profeta: «Dizei à filha de Sião: eis que o teu rei vem a ti, manso e montado sobre um jumento, num burrico, filho de jumenta»”.
Jesus Cristo, que é Deus, contenta-se com um burrico por trono. Nós, que não somos nada, mostramo-nos muitas vezes vaidosos e soberbos: procuramos sobressair, chamar a atenção; tratamos de que os outros nos admirem e louvem. São Josemaria Escrivá, canonizado por João Paulo II há dois anos, ficou cativado com esta cena do Evangelho.
Dizia de si mesmo que era um burrico sarnento, que não valia nada; mas como a humildade é a verdade, reconhecia também que era depositário de muitos dons de Deus; especialmente, da tarefa de abrir caminhos divinos na terra, mostrando a milhões de homens e mulheres que podem ser santos no cumprimento do trabalho profissional e dos deveres ordinários.
Jesus entra em Jerusalém sobre um burrico. Temos de tirar conseqüências desta cena. Cada cristão pode e deve converter-se em trono de Cristo. E aqui servem como anel ao dedo umas palavras de São Josemaria. “Se a condição para que Jesus reinasse na minha alma, na tua alma, fosse contar previamente com um lugar perfeito dentro de nós, teríamos motivos para desesperar. Jesus contenta-se com um pobre animal por trono. (...) Há centenas de animais mais belos, mais hábeis e mais cruéis. Mas Cristo escolheu esse para se apresentar como rei diante do povo que o aclamava. Porque Jesus não sabe o que fazer com a astúcia calculista, com a crueldade dos corações frios, com a formosura vistosa, mas oca. Nosso Senhor ama a alegria de um coração jovem, o passo simples, a voz sem falsete, os olhos limpos, o ouvido atento à sua palavra de carinho. É assim que reina na alma”.
Deixemo-lo tomar posse dos nossos pensamentos, palavras e ações! Afastemos sobretudo o amor-próprio, que é o maior obstáculo ao reinado de Cristo! Sejamos humildes, sem nos apropriarmos de méritos que não são nossos. Imaginais o ridículo em que cairia o burrico, se se tivesse apropriado das aclamações e aplausos que as pessoas dirigiam ao Mestre?
Comentando esta cena evangélica, João Paulo II recorda que Jesus não entendeu a sua existência terrena como procura do poder, como ânsia de êxito e de fazer carreira, ou como vontade de domínio sobre os outros. Pelo contrário, renunciou aos privilégios da sua igualdade com Deus, assumiu a condição de servo, fazendo-se semelhante aos homens, e obedeceu ao projeto do Pai até à morte na Cruz (Homilia, 8-IV-2001).
O entusiasmo das pessoas não costuma ser duradouro. Poucos dias depois, os que o tinham aclamado pedirão aos gritos a sua morte. E nós deixar-nos-emos levar por um entusiasmo passageiro? Se nestes dias notamos o movimento divino da graça de Deus, que passa por nós, podemos dar-lhe lugar nas nossas almas. Estendamos no chão, mais que as palmas ou os ramos de oliveira, os nossos corações. Sejamos humildes. Sejamos mortificados. Sejamos compreensivos com os outros. Esta é a homenagem que Jesus espera de nós.
A Semana Santa oferece-nos a oportunidade de reviver os momentos fundamentais da nossa Redenção. Mas não esqueçamos que – como escreve São Josemaria –, “para acompanhar Cristo na sua glória, no fim da Semana Santa, é necessário que penetremos antes no seu holocausto, e que nos sintamos uma só coisa com Ele, morto sobre o Calvário”. Para isso, nada melhor que caminhar pela mão de Maria. Que Ela nos obtenha a graça de que estes dias deixem uma marca profunda nas nossas almas. Que sejam, para cada uma e cada um, ocasião de aprofundar no Amor de Deus, para assim mostrá-lo aos outros.
QUINTA-FEIRA SANTA: INSTITUIÇÃO DA EUCARISTIA
A liturgia de Quinta-Feira Santa é riquíssima de conteúdo. É o grande dia da instituição da Sagrada Eucaristia, dom do Céu para os homens; o dia da instituição do sacerdócio, nova prenda divina que assegura a presença real e atual do Sacrifício do Calvário em todos os tempos e lugares, tornando possível que nos apropriemos dos seus frutos.
Aproximava-se o momento em que Jesus ia oferecer a sua vida pelos homens. Tão grande era o seu amor, que na sua Sabedoria infinita encontrou o modo de ir e de ficar, ao mesmo tempo. São Josemaria, ao considerar o comportamento dos que se vêem obrigados a deixar a sua família e a sua casa, para procurar emprego em outro lugar, comenta que o amor humano costuma recorrer aos símbolos. As pessoas que se despedem trocam lembranças entre si, talvez uma fotografia… Jesus Cristo, perfeito Deus e perfeito Homem, não deixa um símbolo, mas uma realidade. Fica Ele mesmo. Embora vá para o Pai, permanece entre os homens. Sob as espécies do pão e do vinho está Ele, realmente presente, com o seu Corpo, o seu Sangue, a sua Alma e a sua Divindade.
Como responderemos a esse amor imenso? Assistindo com fé e devoção à Santa Missa, memorial vivo e atual do Sacrifício do Calvário. Preparando-nos muito bem para comungar, com a alma bem limpa. Visitando Jesus com freqüência, escondido no Sacrário.
A primeira leitura da Missa, recorda o que Deus estabeleceu no Antigo Testamento, para que o povo israelita não se esquecesse dos benefícios recebidos. Desce a muitos detalhes: desde como devia ser o cordeiro pascoal, até aos pormenores que tinham de cuidar para recordar a passagem do Senhor. Se isso se prescrevia para comemorar alguns acontecimentos históricos, que eram só uma imagem da libertação do pecado realizada por Jesus Cristo, como deveríamos comportar-nos agora, quando verdadeiramente fomos resgatados da escravidão do pecado e feitos filhos de Deus!
Esta é a razão por que a Igreja nos inculca um grande esmero em tudo o que se refere à Eucaristia. Assistimos ao Santo Sacrifício todos os domingos e festas de guarda, sabendo que estamos participando numa ação divina?
São João relata que Jesus lavou os pés dos discípulos, antes da Última Ceia. Temos de estar limpos, na alma e no corpo, e aproximarmos para recebê-lo com dignidade. Para isso nos deixou o Sacramento da Penitência.
Comemoramos também a instituição do sacerdócio. É um bom momento para rezar pelo Papa, pelos Bispos, pelos sacerdotes, e para rogar que haja muitas vocações no mundo inteiro. Pediremos melhor na medida em que tenhamos mais diálogo com esse Jesus, que instituiu a Eucaristia e o Sacerdócio. Vamos dizer, com total sinceridade, o que repetia São Josemaria: Senhor, põe no meu coração o amor com que queres que eu te ame.
Na cena de hoje Nossa Senhora não aparece fisicamente, ainda que estivesse em Jerusalém naqueles dias: encontrá-la-emos amanhã ao pé da Cruz. Mas já hoje, com a sua presença discreta e silenciosa, acompanha muito de perto o seu Filho, em profunda união de oração, de sacrifício e de entrega. João Paulo II assinala que, depois da Ascensão do Senhor ao Céu, participaria assiduamente nas celebrações eucarísticas dos primeiros cristãos. E acrescenta o Papa: “aquele corpo, entregue em sacrifício e presente agora nas espécies sacramentais, era o mesmo corpo concebido no seu ventre! Receber a Eucaristia devia significar para Maria quase acolher de novo no seu ventre aquele coração que batera em uníssono com o dEla” (Ecclesia de Eucharistia, 56).
Também agora Nossa Senhora acompanha Cristo em todos os sacrários da terra. Peçamos-lhe que nos ensine a ser almas de Eucaristia, homens e mulheres de fé segura e de piedade forte, que se esforçam por não deixar Jesus só. Que saibamos adorá-lo, pedir-lhe perdão, agradecer os seus benefícios, fazer-lhe companhia.
SEXTA-FEIRA SANTA: CRISTO NA CRUZ
Hoje queremos acompanhar Cristo na Cruz. Recordo umas palavras de São Josemaria, numa Sexta-Feira Santa. Convidava-nos a reviver pessoalmente as horas da Paixão: desde a agonia de Jesus no Horto das Oliveiras até à flagelação, a coroação de espinhos e a morte na Cruz. Dizia: “atada a onipotência de Deus por mão de homem levam o meu Jesus de um lado para outro, entre os insultos e os empurrões da multidão”.
Cada um de nós pode se ver no meio daquela multidão, porque foram os nossos pecados a causa da imensa dor que se abate sobre a alma e o corpo do Senhor. Sim: cada um de nós leva Cristo, convertido em objeto de troça, de uma a outra parte. Somos nós que, com os nossos pecados, reclamamos aos gritos a sua morte. E Ele, perfeito Deus e perfeito Homem, deixa-nos agir. Tinha-o predito o profeta Isaías: maltratado, não abriu a sua boca; como cordeiro levado ao matadouro, como ovelha muda ante os tosquiadores.
É justo que sintamos a responsabilidade dos nossos pecados. É lógico que estejamos muito agradecidos a Jesus. É natural que procuremos a reparação, porque às nossas manifestações de desamor, Ele responde sempre com um amor total. Neste tempo da Semana Santa, vemos o Senhor mais próximo, mais semelhante aos seus irmãos os homens... Meditemos umas palavras de João Paulo II: “Quem crê em Jesus crucificado e ressuscitado leva a Cruz como um triunfo, como prova evidente de que Deus é amor... Mas a fé em Cristo nunca se pode dar por pressuposta. O mistério pascal, que reviveremos nos dias da Semana Santa, é sempre atual” (Homilia, 24-III-2002).
Peçamos a Jesus, nesta Semana Santa, que desperte na nossa alma a consciência de ser homens e mulheres verdadeiramente cristãos, para que vivamos de cara a Deus e, com Deus, voltados a todas as pessoas.
Não deixemos que o Senhor leve a Cruz sozinho. Acolhamos com alegria os pequenos sacrifícios diários.
Aproveitemos a capacidade de amar, que Deus nos concedeu, para concretizar propósitos, mas sem ficarmos num mero sentimentalismo. Digamos sinceramente: Senhor, nunca mais! Nunca mais! Peçamos com fé para que nós e todas as pessoas da terra descubramos a necessidade de ter ódio ao pecado mortal e de repelir o pecado venial deliberado, que tantos sofrimentos causaram ao nosso Deus.
Que grande é o poder da Cruz! Quando Cristo é objeto de riso e de escárnio para todo o mundo; quando está no Madeiro sem querer arrancar os cravos; quando ninguém daria nem um centavo pela sua vida, o bom ladrão – um como nós – descobre o amor de Cristo agonizante, e pede perdão. Hoje estarás comigo no Paraíso. Que força tem o sofrimento, quando se aceita junto de Nosso Senhor! É capaz de tirar – das situações mais dolorosas – momentos de glória e de vida. Esse homem que se dirige a Cristo agonizante, encontra a remissão dos seus pecados, a felicidade para sempre.
Nós temos de fazer o mesmo. Se perdermos o medo da Cruz, se nos unirmos a Cristo na Cruz, receberemos a sua graça, a sua força, a sua eficácia. E encher-nos-emos de paz.
Ao pé da Cruz descobrimos Maria, Virgem fiel. Peçamos-lhe, nesta Sexta-Feira Santa, que nos empreste o seu amor e a sua força, para que também nós saibamos acompanhar Jesus. Dirigimo-nos a Ela com umas palavras de São Josemaria, que ajudaram milhões de pessoas. Diz: Minha Mãe (tua, porque és seu por muitos títulos), que o teu amor me ate à Cruz do teu Filho; que não me falte a Fé, nem a valentia, nem a audácia, para cumprir a vontade do nosso Jesus.
SÁBADO SANTO: SILÊNCIO E CONVERSÃO
Hoje é um dia de silêncio na Igreja: Cristo jaz no sepulcro e a Igreja medita, admirada, o que fez este Senhor nosso por nós. Guarda silêncio para aprender do Mestre, ao contemplar o seu corpo destroçado.
Cada um de nós pode e deve unir-se ao silêncio da Igreja. E ao considerar que somos responsáveis por essa morte, esforçar-nos-emos para que as nossas paixões, as nossas rebeldias, tudo o que nos afaste de Deus, guardem silêncio. Mas sem estarmos meramente passivos: é uma graça que Deus nos concede quando a pedimos diante do Corpo morto do seu Filho, quando nos empenhamos por tirar da nossa vida tudo o que nos afasta dEle.
O Sábado Santo não é um dia triste. O Senhor venceu o demônio e o pecado, e dentro de poucas horas vencerá também a morte com a sua gloriosa Ressurreição. Reconciliou-nos com o Pai celestial: já somos Filhos de Deus! É necessário fazer propósitos de agradecimento, que tenhamos a segurança de superar todos os obstáculos, sejam de que tipo for, se nos mantivermos bem unidos a Jesus pela oração e pelos sacramentos.
O mundo tem fome de Deus, ainda que muitas vezes não o saiba. As pessoas estão desejando que se lhes fale desta realidade gozosa – o encontro com o Senhor –, e para isso viemos nós os cristãos. Tenhamos a valentia daqueles dois homens – Nicodemos e José de Arimateia –, que durante a vida de Jesus Cristo mostravam respeitos humanos, mas que, no momento definitivo, se atrevem a pedir a Pilatos o corpo morto de Jesus, para lhe dar sepultura. Ou a daquelas mulheres santas que, sendo Cristo já um cadáver, compram aromas e acodem para embalsamá-lo, sem ter medo dos soldados que guardam o sepulcro.
À hora da debandada geral, quando todo o mundo se sentiu com direito de insultar, rir e mofar-se de Jesus, eles vão dizer: dá-nos esse Corpo, que nos pertence. Com que cuidado o desceriam da Cruz e iriam olhando as suas Chagas! Peçamos perdão e digamos, com palavras de São Josemaria: “eu subirei com eles ao pé da Cruz, apertar-me-ei ao Corpo frio, cadáver de Cristo, com o fogo do meu amor..., despregá-Lo-ei com os meus desagravos e mortificações..., envolvê-Lo-ei com o lençol novo da minha vida limpa e enterrá-Lo-ei no meu peito de rocha viva, onde ninguém mo poderá arrancar; e, aí, Senhor, descansai!”
Compreende-se que pusessem o corpo morto do Filho nos braços da Mãe, antes de dar-lhe sepultura. Maria era a única criatura capaz de lhe dizer que entende perfeitamente o seu Amor pelos homens, pois Ela não foi causadora dessas dores. A Virgem Puríssima fala por nós; mas fala para nos fazer reagir, para que experimentemos a sua dor, feita uma só coisa com a dor de Cristo.
Tiremos propósitos de conversão e de apostolado, de identificar-nos mais com Cristo, de estar totalmente centrados nas almas. Peçamos ao Senhor que nos transmita a eficácia salvadora da sua Paixão e da sua Morte. Consideremos o panorama que se nos apresenta por diante. As pessoas que nos rodeiam esperam que nós os cristãos lhes descubramos as maravilhas do encontro com Deus. É necessário que esta Semana Santa – e depois todos os dias – seja para nós um salto de qualidade, um dizer ao Senhor que se meta totalmente nas nossas vidas. É preciso comunicar a muitas pessoas a Vida nova que Jesus Cristo nos conseguiu com a Redenção.
Recorramos a Santa Maria: Virgem da Solidão, Mãe de Deus e Mãe nossa, ajuda-nos a compreender – como escreve São Josemaria – que é preciso fazer vida nossa a vida e a morte de Cristo. Morrer pela mortificação e pela penitência, para que Cristo viva em nós pelo Amor. E seguir então os passos de Cristo, com ânsia de corredimir todas as almas. Dar a vida pelos outros. Só assim se vive a vida de Jesus Cristo e nos fazemos uma só coisa com Ele.
DOMINGO DE PÁSCOA: JESUS VENCEU
Transcorrido o sábado, Maria Madalena, Maria a Mãe de Tiago, e Salomé, compraram perfumes para ir embalsamar Jesus. Muito de madrugada, no primeiro dia da semana, ao nascer do sol, dirigiram-se ao sepulcro. Assim começa São Marcos a narração do sucedido naquela madrugada de há dois mil anos, na primeira Páscoa cristã.
Jesus tinha sido sepultado. Aos olhos dos homens, a sua vida e a sua mensagem tinham terminado com o mais profundo dos fracassos. Os seus discípulos, confusos e atemorizados, tinham-se dispersado. As próprias mulheres que acodem para realizar um gesto piedoso, perguntam-se umas às outras: quem nos tirará a pedra da entrada do sepulcro? “No entanto, faz notar São Josemaria, seguem adiante... Tu e eu, como andamos de vacilações? Temos esta decisão santa, ou temos de confessar que sentimos vergonha ao contemplar a decisão, a intrepidez, a audácia destas mulheres?”
Cumprir a Vontade de Deus, ser fiéis à lei de Cristo, viver coerentemente a nossa fé, pode parecer às vezes muito difícil. Apresentam-se obstáculos que parecem insuperáveis. No entanto, não é assim. Deus vence sempre.
A epopéia de Jesus de Nazaré não termina com a sua morte ignominiosa na Cruz. A última palavra é a da Ressurreição gloriosa. E os cristãos, no Batismo, somos mortos e ressuscitados com Cristo: mortos para o pecado e vivos para Deus. “Oh Cristo – dizemos com o Santo Padre João Paulo II –, como não te dar graças pelo dom inefável que nos ofereces nesta noite! O mistério da tua Morte e da tua Ressurreição infunde-se na água batismal que acolhe o homem velho e carnal, e o faz puro, com a mesma juventude divina” (Homilia, 15-IV-2001).
Hoje a Igreja, cheia de alegria, exclama: este é o dia que o Senhor fez: regozijemo-nos e alegremo-nos com ele! Grito de júbilo que se prolongará durante cinqüenta dias, ao longo do tempo pascal, como um eco das palavras de São Paulo: posto que vós ressuscitastes com Cristo, procurai os bens do alto, onde está Cristo sentado à direita de Deus. Ponham todo o coração nos bens do céu, não nos da terra; porque morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.
É lógico pensar – e assim o considera a Tradição da Igreja – que Jesus Cristo, uma vez ressuscitado, apareceu em primeiro lugar à sua Santíssima Mãe. O fato de que não apareça nos relatos evangélicos, com as outras mulheres, é – como assinala João Paulo II – um indício de que Nossa Senhora já havia se encontrado com Jesus.
“Esta dedução ficaria confirmada também – acrescenta o Papa – pelo fato de que as primeiras testemunhas da ressurreição, por vontade de Jesus, foram as mulheres, as quais permaneceram fiéis ao pé a Cruz e, portanto, mais firmes na fé” (Audiência, 21-V-1997). Só Maria tinha conservado plenamente a fé, durante as horas amargas da Paixão; por isso é natural que o Senhor tivesse aparecido a Ela em primeiro lugar.
Temos de permanecer sempre junto à Nossa Senhora, mas mais ainda no tempo de Páscoa, e aprender dEla. Com que ânsias tinha esperado a Ressurreição! Sabia que Jesus tinha vindo salvar o mundo e que, portanto, devia padecer e morrer; mas também conhecia que não podia ficar sujeito à morte, porque Ele é a Vida.
Uma boa forma de viver a Páscoa consiste em esforçar-nos por fazer os outros participantes da vida de Cristo, cumprindo com primor o mandamento novo da caridade, que o Senhor nos deu na véspera da sua Paixão: nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros. Cristo ressuscitado repete agora a cada um de nós. Diz-nos: amem-se de verdade uns aos outros, esforcem-se todos os dias por servir os outros, estejam atentos aos detalhes mais pequenos, para fazer a vida agradável aos que convivem convosco.
Mas voltemos ao encontro de Jesus com a sua Santíssima Mãe. Que contente estaria Nossa Senhora, ao contemplar aquela Humanidade Santíssima – carne da sua carne e vida da sua vida – plenamente glorificada! Peçamos-lhe que nos ensine a sacrificar-nos pelos outros sem o fazer notar, sem esperar sequer que nos agradeçam: que tenhamos fome de passar inadvertidos, para assim possuirmos a vida de Deus e comunicá-la a outros. Hoje, dirigimos-lhe a oração do Regina Caeli, saudação própria do tempo pascal. “Rainha do Céu alegrai-vos, aleluia / Porque aquele que merecestes trazer em vosso seio, aleluia / Ressuscitou como disse, aleluia. / Rogai por nós a Deus, aleluia. / Exultai e alegrai-vos, ó Virgem Maria, aleluia / Porque o Senhor ressuscitou verdadeiramente, aleluia”.
Javier Echevarría
Prelado do Opus Dei
Fonte: www.quadrante.com.br
www.opusdei.org
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