domingo, 3 de maio de 2009

S. Bernardo, o Conde e o Criminoso

Valter de Oliveira


Adeptos da teologia da libertação, e marxistas em geral, consideram que os criminosos não são os principais responsáveis pelos crimes que cometem. A grande culpada seria a estrutura do sistema capitalista. Enquanto este perdurar, dizem eles, pouco pode ser feito para evitar a proliferação e expansão do crime.

Esta ideologia também se manifesta na noção errada que têm sobre os direitos humanos. Normalmente são muito ciosos em defender os criminosos. Em relação às vítimas são praticamente insensíveis. Choram ao ver assassinos condenados a penas severas (1) e não derramam uma lágrima quando se trata do genocídio de fetos inocentes. Pior ainda, não só o defendem, mas lutam por ele.

Com esta mentalidade o trabalho de regeneração de criminosos – que é o que se propõe que ocorra nas prisões – é praticamente impossível. Especialmente quando se lhes diz – como ocorre com freqüência – que são mais vítimas do que algozes da sociedade.

Não pensavam assim os primeiros cristãos. Vivendo em sociedades muito mais injustas que as nossas, nas quais imperava a escravidão e a desvalorização da mulher, por exemplo, com fé inabalável e uma caridade ardente contribuíram para criar condições para se desenvolver uma nova sociedade, muito mais humana e impregnada dos valores da Fé. E para isso não promoveram nenhuma luta de classes. Ninguém esperou que as estruturas da sociedade mudassem para pregar Cristo morto na cruz e sua vitória sobre a morte e o pecado.

Um belo exemplo disso vemos em um episódio da vida de S. Bernardo (2):

“Certo dia, quando S. Bernardo se dirigia para a corte do Conde Teobaldo, deparou-se-lhe um grupo de soldados que conduziam um prisioneiro ao cadafalso. Vendo a cena, apoderou-se o Abade da corda com que era conduzido o condenado, e fez esta estranha proposta aos verdugos: “Entregai-me este criminoso e executá-lo-ei com as minhas próprias mãos”.

Naquele momento aproximou-se o conde. O seu espanto foi profundo ao ver o santo, que estimava como pai, entre o assassino e os oficiais de justiça. Ficara perplexo ao escutar a petição do amigo. Disse-lhe: “Venerável pai, que significa isto? Por que pretendeis salvar a vida de um homicida que merece a morte centenas de vezes? É um filho de satanás incorrigível, e o melhor serviço que podemos prestar-lhe é privá-lo da vida; os interesses da sociedade exigem a sua morte”.

O início da resposta do santo seria hoje execrada por ser tida como politicamente incorreta: “Sei que este homem é merecedor de morte, replicou o santo, e não tenciono deixá-lo partir sem punição. Ao contrário, quero submetê-lo a um castigo severo e perpétuo. Vós suspendê-lo-eis ao cadafalso onde em breve escaparia ao vosso poder (pela morte), mas eu o amarrarei a uma cruz onde sofrerá muitos anos”.

Não formulando Teobaldo objeções, Bernardo colocou seu capuz sobre o malfeitor, ao qual deu o nome de Constantino, levando-o para o monastério.

Após 30 anos de severas penitências, o Bem-Aventurado Constantino morreu. Sua festa é celebrada no dia 16 de março.

É isso. Quem tem fé e vive unido a Deus obtém de Deus milagres de conversões inimagináveis. Quem não tem faz discurso contra as estruturas. (3) E os pobres miseráveis continuam emaranhados no mal, sentindo o gosto amargo da revolta. Não lhes cortam os grilhões do pecado. Não lhes dão as asas da verdadeira liberdade e seus olhos não se abrem para Cristo...

É verdade que S. Teresa diz que nos salvamos em cachos, e que precisamos uns dos outros para percorrer o caminho para o Céu. Mas também é verdade que a salvação vem de Deus e da resposta individual de cada um de nós às graças que recebemos.

Que S. Bernardo nos dê a graça de amarmos e lutarmos de verdade por todos os nossos irmãos que estão longe de Deus. Eles estão em muitos lugares aguardando por nós e dizendo: “Tenho sede”...


Notas

1. Lei proposta por Glória Perez e aprovada por nosso legislativo estabelecia que autores de crimes hediondos não tivessem mais direito à progressividade da pena (ou seja, se fora condenado a 20 anos de cadeia teria que cumpri-la integralmente e não ter a pena diminuída como acontece atualmente). Após alguns anos em vigor a lei proposta por Glória foi revogada. Celso Mello, um dos que a rejeitou, afirmou que o fazia porque considerava a manutenção da pena integral um castigo cruel, e este tipo de pena é proibido por nossa Carta Magna...

2. Extraída da obra de Ailbe Luddy, Bernardo de Claraval, Editora Áster.

3. Não negamos que haja muita injustiça em nossa sociedade. Até apontamos diversas delas. É verdade também que o meio no qual a pessoa vive contribui para que ela seja melhor ou pior. Entretanto, normalmente falando, não a priva de sua liberdade. E cada um é responsável pelo uso que faz dela. Finalmente a teologia nos ensina que todo homem tem graça suficiente para evitar o mal, especialmente no que se refere aos preceitos primários e universais do direito natural.

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