O INVEJOSO E O AVARENTO
Valter de Oliveira
“O justo mostra o caminho ao seu próximo, mas o caminho dos injustos extravia a eles próprios” (prov.12, 26).
Conta-se que havia um poderoso rei do Oriente que tinha dois ministros que, apesar de lhe terem prestado bons serviços, começaram a lhe causar preocupações. O primeiro deles foi picado pela mosca da inveja (1). Esta ia crescendo cada vez mais e o ministro foi ficando cada vez mais triste.(2)
O segundo tornou-se escravo da avareza. Queria tudo para si. Desejava loucamente os bens exteriores. Seu coração tornava-se cada vez mais duro, especialmente com os pobres e os fracos.
É fácil ver que, se não se emendassem, poderiam provocar sérios prejuízos ao reino. O rei resolveu fazer-lhes uma oferta, na realidade, uma prova. Quem sabe após ela abririam os olhos.
Os dois ministros foram convocados para comparecer ao Palácio Real. Toda a Corte fora convocada. Apresentaram-se ansiosos, afinal não lhes fora dito a razão de ali estarem. Ao chegarem diante do Monarca ajoelharam-se e colocaram o rosto no chão. Ouviram-no dizer com voz clara e firme:
Levantem-se!
Obedeceram prontamente. Após alguns segundos de profundo silêncio o rei disse as seguintes palavras:
Senhores Ministros.
Há muitos anos os senhores servem o meu reino e, devido a isto, creio que seja o momento de dar-lhes um prêmio especial...
Cada um dos ministros sentiu um calafrio interior: o que ganhariam?
...que cada um de vocês vai escolher. O que quiserem: terras, palácios, jóias, dinheiro... Só há uma condição: o que um escolher o outro receberá em dobro! Vocês têm uma semana para decidir.
E o rei ordenou que se retirassem.
Saíram perplexos, angustiados. Não se preocupavam com o que poderiam ter. Não sentiram gratidão, alegria, entusiasmo. A grande dor era: ele pode vir a ter mais do que eu! “A mente de quem pratica o mal é amarga” (prov.12,20).
Após uma dura semana voltaram a apresentar-se na Corte.
O rei perguntou: Então, decidiram?
O avarento deu um passo à frente, fez uma reverência e disse:
Majestade. Pensei muito. Vi tudo o que me destes nestes anos em que tive a felicidade de vos servir. Que mais posso querer? Será justo pedir mais alguma coisa? Não, meu senhor, não. Estou feliz. Não preciso de absolutamente mais nada.
Deu um passo para trás. Pensou consigo mesmo: Meu colega não terá nada...
Foi a vez do invejoso falar:
Não fez reverências. Olhou para o rei, para toda a Corte, e disse:
Eu quero que o senhor mande furar um de meus olhos...
“Coração tranqüilo é vida para o corpo, mas a inveja é cárie nos ossos” (prov.13, 30).
“A desgraça persegue os pecadores; a paz e o bem perseguem os justos” (prov.13,21).
Notas:
1. “Que é a inveja? Há uma definição de inveja que já é clássica. A inveja é a tristeza sentida diante do bem do outro” (p.5)
2. “A inveja é triste. O invejoso é infeliz. Se deixamos esse vício tomar conta de nós, o coração perde a capacidade de alegria. A pessoa invejosa anda triste, vive amargurada. O seu coração é como um buraco negro, que engole e anula todas as alegrias que lhe batem à porta, todas as luzes de felicidade possível que o convidam a sorrir.
Não há ninguém que, voluntariamente, queira ser invejoso ou deseje passar pelos sofrimentos que a inveja traz consigo, mas infelizmente são muitos, muitíssimos, os que padecem desse mal – mesmo que não o reconheçam de modo algum – e sofrem as suas conseqüências demolidoras.
“Se conseguíssemos extirpar da nossa alma a inveja, seríamos muito mais felizes, os nossos olhos se abririam, e passaríamos a descobrir inúmeras riquezas da vida, do mundo e dos outros que, agora, a inveja nos impede de perceber e desfrutar”. (p.3)
“O invejoso não suporta que os outros estejam acima dele ou sejam mais felizes ou mais queridos, e, por causa disso, dedica-lhes antipatia e até mesmo aversão”.
Essa inveja verdadeira é quase sempre uma tristeza inconformada – queixumenta, soturna ou irada –, que umas vezes leva ao pessimismo e acaba, doentiamente, na depressão e no complexo de inferioridade; outras conduz à revolta: contra Deus e contra o mundo, contra a vida e a sociedade, contra tudo e contra todos; ou ainda precipita numa psicose alucinada de competitividade, que faz a pessoa viver só em função dos outros – das outras –, com comparações contínuas e esforços desesperados para não ficar por baixo desse colega, daquela amiga, dos parentes da mulher, do vizinho de apartamento, do amigo do clube; e, por fim, pode descambar em raiva contra a pessoa invejada: chega-se a odiá-la até ao ponto de lhe desejar ou inclusive de lhe provocar o mal, de ter satisfação ao vê-la em dificuldades, e decepção ao vê-la prosperar” (p.7)
Texto extraídos do livro de Francisco Faus, A INVEJA. Quadrante, São Paulo, 2000. O leitor poderá acessar essa obra integralmente no site padrefaus.googlepages.com. Recomendamos vivamente. Afinal, como diz o autor, suas páginas “sobre a inveja pretendem ser, antes de mais nada, um convite à alegria.
O segundo tornou-se escravo da avareza. Queria tudo para si. Desejava loucamente os bens exteriores. Seu coração tornava-se cada vez mais duro, especialmente com os pobres e os fracos.
É fácil ver que, se não se emendassem, poderiam provocar sérios prejuízos ao reino. O rei resolveu fazer-lhes uma oferta, na realidade, uma prova. Quem sabe após ela abririam os olhos.
Os dois ministros foram convocados para comparecer ao Palácio Real. Toda a Corte fora convocada. Apresentaram-se ansiosos, afinal não lhes fora dito a razão de ali estarem. Ao chegarem diante do Monarca ajoelharam-se e colocaram o rosto no chão. Ouviram-no dizer com voz clara e firme:
Levantem-se!
Obedeceram prontamente. Após alguns segundos de profundo silêncio o rei disse as seguintes palavras:
Senhores Ministros.
Há muitos anos os senhores servem o meu reino e, devido a isto, creio que seja o momento de dar-lhes um prêmio especial...
Cada um dos ministros sentiu um calafrio interior: o que ganhariam?
...que cada um de vocês vai escolher. O que quiserem: terras, palácios, jóias, dinheiro... Só há uma condição: o que um escolher o outro receberá em dobro! Vocês têm uma semana para decidir.
E o rei ordenou que se retirassem.
Saíram perplexos, angustiados. Não se preocupavam com o que poderiam ter. Não sentiram gratidão, alegria, entusiasmo. A grande dor era: ele pode vir a ter mais do que eu! “A mente de quem pratica o mal é amarga” (prov.12,20).
Após uma dura semana voltaram a apresentar-se na Corte.
O rei perguntou: Então, decidiram?
O avarento deu um passo à frente, fez uma reverência e disse:
Majestade. Pensei muito. Vi tudo o que me destes nestes anos em que tive a felicidade de vos servir. Que mais posso querer? Será justo pedir mais alguma coisa? Não, meu senhor, não. Estou feliz. Não preciso de absolutamente mais nada.
Deu um passo para trás. Pensou consigo mesmo: Meu colega não terá nada...
Foi a vez do invejoso falar:
Não fez reverências. Olhou para o rei, para toda a Corte, e disse:
Eu quero que o senhor mande furar um de meus olhos...
“Coração tranqüilo é vida para o corpo, mas a inveja é cárie nos ossos” (prov.13, 30).
“A desgraça persegue os pecadores; a paz e o bem perseguem os justos” (prov.13,21).
Notas:
1. “Que é a inveja? Há uma definição de inveja que já é clássica. A inveja é a tristeza sentida diante do bem do outro” (p.5)
2. “A inveja é triste. O invejoso é infeliz. Se deixamos esse vício tomar conta de nós, o coração perde a capacidade de alegria. A pessoa invejosa anda triste, vive amargurada. O seu coração é como um buraco negro, que engole e anula todas as alegrias que lhe batem à porta, todas as luzes de felicidade possível que o convidam a sorrir.
Não há ninguém que, voluntariamente, queira ser invejoso ou deseje passar pelos sofrimentos que a inveja traz consigo, mas infelizmente são muitos, muitíssimos, os que padecem desse mal – mesmo que não o reconheçam de modo algum – e sofrem as suas conseqüências demolidoras.
“Se conseguíssemos extirpar da nossa alma a inveja, seríamos muito mais felizes, os nossos olhos se abririam, e passaríamos a descobrir inúmeras riquezas da vida, do mundo e dos outros que, agora, a inveja nos impede de perceber e desfrutar”. (p.3)
“O invejoso não suporta que os outros estejam acima dele ou sejam mais felizes ou mais queridos, e, por causa disso, dedica-lhes antipatia e até mesmo aversão”.
Essa inveja verdadeira é quase sempre uma tristeza inconformada – queixumenta, soturna ou irada –, que umas vezes leva ao pessimismo e acaba, doentiamente, na depressão e no complexo de inferioridade; outras conduz à revolta: contra Deus e contra o mundo, contra a vida e a sociedade, contra tudo e contra todos; ou ainda precipita numa psicose alucinada de competitividade, que faz a pessoa viver só em função dos outros – das outras –, com comparações contínuas e esforços desesperados para não ficar por baixo desse colega, daquela amiga, dos parentes da mulher, do vizinho de apartamento, do amigo do clube; e, por fim, pode descambar em raiva contra a pessoa invejada: chega-se a odiá-la até ao ponto de lhe desejar ou inclusive de lhe provocar o mal, de ter satisfação ao vê-la em dificuldades, e decepção ao vê-la prosperar” (p.7)
Texto extraídos do livro de Francisco Faus, A INVEJA. Quadrante, São Paulo, 2000. O leitor poderá acessar essa obra integralmente no site padrefaus.googlepages.com. Recomendamos vivamente. Afinal, como diz o autor, suas páginas “sobre a inveja pretendem ser, antes de mais nada, um convite à alegria.
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