Valter de Oliveira
Hoje cedo li um artigo de um amigo no FB no qual ele discutia a tão falada desigualdade entre os homens. Na verdade ele comentava artigo publicado no Estado de São Paulo onde um jornalista lamentava a tremenda desigualdade existente entre os mais ricos e os mais pobres. (1) É isso um mal? Necessariamente não. Não é a existência de ricos que provoca a pobreza, a miséria, a fome. As causas são muitas. A desigualdade, porém, é tida pelo progressismo na Igreja e pelo esquerdismo, na sociedade, como um mal em si mesmo. Eles denunciam a pobreza existente para tentar nos convencer que devemos lutar por uma sociedade igualitária. Nesta, acreditam, todos teriam dignidade humana, os bens necessários para viver, enfim, um belo mundo, com um novo homem, no qual imperaria a justiça social.
Defensor que sou da DSI (Doutrina Social da Igreja) lembrei-me que há inúmeros documentos pontifícios que afirmam que há uma desigualdade natural entre os homens e que tal desigualdade não só é permitida por Deus mas também desejada. Ainda que não houvesse pecado original. Pobreza, miséria, exploração, crimes, barbáries são consequência do mau uso da liberdade humana, acompanhadas ou não de causas naturais que ocorreram - e ocorrem -em todo o transcorrer da história humana.
Lembrei-me, então, que ainda nos meus tempos de adolescente, para ser preciso com 17 anos, meu professor de sociologia havia dado uma aula explicando que a questão da desigualdade entre os homens tinha sido muito bem tratada por S. Tomás de Aquino.
Na verdade, o grande doutor que estudou Aristóteles, que também defendeu que há uma desigualdade natural entre os homens, aprofundou a questão e a conciliou com a Fé Católica.
Alguém pode me perguntar: -"Mas, não há autores que dizem que o Cristianismo contribuiu para a civilização e o bem do homem ensinando o princípio da Igualdade?"
É verdade. Lembro que um autor de Ciência Política, Leslie Lipson, dedica um capítulo para defender tal ideia. (2)
Uma das primeiras coisas que ele faz é mostrar a origem bíblica da Igualdade. Podemos ver em São Paulo: "Não há mais judeu ou grego, escravo ou livre, homem ou mulher, pois todos vós sois um só, em Cristo Jesus". Gálatas 3:28. Frase semelhante encontramos na epístola do Apóstolo aos Colossences: "onde não há grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, servo ou livre, mas Cristo é tudo em todos" (Colossences 3.11).
Deus criou a todos nós. Somos todos criados por Ele, à sua imagem e semelhança. Ademais Cristo também morreu por todos os homens, cada um de nós, sem exceção.
Esta é a chamada igualdade fundamental de todos os homens.
Explicando a questão em linguagem Aristotélica-tomista e incorporada pela DSI:
Todo ser tem essência e acidente. Temos uma essência comum: todos somos "homens" criaturas racionais dotadas de inteligência, vontade, sensibilidade, indivíduos racionais dotados de corpo e alma. Nisso somos todos iguais. Os direitos que decorrem dessa igualdade deveriam ser proporcionados a todos os homens. Tarefa difícil. Falta muito para obtermos a também chamada igualdade substancial.
Acontece que não somos apenas "homens" entendido de forma puramente abstrato. Eu sou um homem, essencialmente igual a minha esposa Sonia. Mas, em concreto, somos diferentes, somos acidentalmente diferentes. Quais são os acidentes? Tipo de inteligência, grau de sensibilidade, força ou fraqueza física, enfim as mil particularidades que diferem um ser humano de outro. Entende-se assim toda a variedade e beleza dos seres humanos. (3)
Saber respeitar as desigualdades acidentais legítimas, as que podem provocar direitos, também é uma questão que o homem não sabe lidar bem.
Como disse antes tais desigualdades entre nós existiriam ainda que não tivesse havido o pecado original. Deus começou diferenciando homem e mulher. E também dizendo que deveríamos amar uns aos outros.
Tal desigualdade, ensina S. Tomás e a Igreja, está presente também no Céu. A Virgem Maria é a mais excelsa das criaturas e suplanta até os anjos. Estes formam nove coros angélicos, cada um com sua finalidade. Quanto aos homens que tiverem a graça de viver no Paraíso eles serão plenamente felizes mas, não no mesmo grau. Há santos maiores que outros. Uns são uma grande taça, outros serão menores. Todos felizes, sem inveja, enlevados de admiração, na companhia eterna de Deus.
Concluindo
Os seres humanos são iguais e diferentes. Uma imagem que pode ajudar é a de três triangulos equiláteros. Um tem 5 cm de lado; outro tem 4cm e outro tem 2cm. São iguais? Na forma (essência) sim, nas medidas (acidentes), não. Em matemática se diz que são semelhantes. Assim acontece conosco. Daí que era muito comum, até passado recente, dizer-se que os homens são semelhantes.
Ao lutarmos pela humanidade peçamos a Deus, com toda a alma que procuremos dar a cada um o que ele devevia ter em essência e, ao mesmo tempo, defender com amor e entusiasmo, tudo o que nos faz únicos e diferentes.
Só aí haverá verdeira justiça conforme Deus.
É possível neste mundo?
Notas:
1. O artigo se chama "Como mentir com estatística 1". Veja blog de Marcelo Guterman. https://www.facebook.com/@marcelo.guterman
2. LIPSON, Leslie. Os grandes problemas da ciência política: uma introdução à ciência política. Trad. Thomas Newlands Neto. Rio de Janeiro: Zahar. 1967. Ver capítulo sobre a igualdade.
3. Santo Agostinho se pergunta porque Deus fez tantas criaturas. Ele responde que todo o universo e os homens são imagens de Deus. Cada ser, a seu modo, deve refletir uma perfeição divina para termos uma idéia da infinitude das perfeições divinas.