sexta-feira, 8 de maio de 2020

ATITUDES ÉTICAS FUNDAMENTAIS



O RESPEITO


Dietrich Von Hildebrand



"Os valores éticos são o que há de mais elevado entre todos os valores naturais. Acima da genialidade, da sensatez, da vida próspera, acima da formosura da natureza e da arte, acima da estrutura perfeita e da força de um Estado, estão a bondade, a pureza, a veracidade e a humildade do homem. Um ato de autêntico perdão, uma renúncia magnânima, um amor ardentemente abnegado encerram um significado e magnitude, uma transcendência e perenidade muito maiores do que todos os valores da nossa civilização. Os valores éticos são o âmago do mundo, a sua negação, o pior dos males: pior do que o sofrimento, a doença ou a morte, pior do que a ruína das culturas mais florescentes.

(...)

Os valores morais são sempre valores da pessoa. Inerentes unicamente ao homem, só no homem se podem realizar (...).

Só o homem, como ser livre, no uso da sua responsabilidade, pode ser moralmente bom ou mau na sua ação e nos seus negócios, no seu querer e no seu esforço,no seu amor e ódio, na sua alegria e tristeza, e nas suas atitudes fundamentais duradouras. Eis por que o ser do próprio homem, a personalidade penetrada de valores éticos - o homem humilde, puro, veraz, fiel, justo, dedicado - é mais transcendente do que a criação de bens culturais.

Mas de que modo chega o homem a participar desses valores morais? Acaso se formam por si sós, como a beleza do semblante, como a inteligência de que foi dotado, como um temperamento vivo? Não: têm origem em atitudes livres e conscientes; exigem uma colaboração essencial. A sua presença depende de uma dedicação consciente e livre. E quanto mais o homem se abrir aos valores éticos, quanto mais pura e incondicionalmente se dedicar a eles, tanto mais rico será também ele próprio em valores morais.

Um homem é incapaz de ser moralmente bom se estiver cego para o valor moral das outras pessoas, se não distinguir o valor inerente á verdade do não-valor inerente ao erro, se não entender o valor que há numa vida humana ou o não-valor de uma injustiça. (...)

(...)

(...) O que é valioso (...) exige de nós uma resposta afirmativa, assim como o não-valioso nos exige uma recusa.

Aqui já não se pode adotar um comportamento qualquer; impõe-se dar a resposta correta. Ajudar alguém que passa necessidade não é uma questão de gosto; quem não o faz torna-se culpado de ignorar o valor objetivo da ajuda. Só o homem que entende que há coisas belas e boas em si mesmas é que capta a exigência sublime dos valores, o seu apelo a deixar-se guiar por eles e a submeter-se à sua lei (...). Só esse homem pode tornar-se propriamente portador de valores éticos.

Ora, isso só se verifica no homem respeitador.

O respeito é aquela atitude fundamental que, por assim dizer, se pode apontar como mãe de toda vida moral, porque é ela que, antes de mais nada, permite abeirar-se do mundo e abrir os olhos para os valores que encerra (...).


Fonte: Hildebrand, Dietrich Von. Atitudes éticas fundamentais. São Paulo, Quadrante, 1988, p. 3-6. 

PS: continua. 



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