O HOMEM RESPEITADOR
Dietrich Von Hildebrand
(...)
"O homem respeitador encara o mundo de uma maneira inteiramente diferente" (do homem insolente ou do ávido desbotado). Descontraído, sem espasmos, livre da soberba e da avidez, longe de encher o mundo com o seu "eu" , cede ao que existe a sua "vez", para deixá-lo desenvolver-se na sua peculiaridade. Percebe a dignidade e a nobreza do que existe, simplesmente por existir em face do nada; percebe o valor que possui cada pedra, cada fio de água, cada talo de erva, enquanto é real, enquanto criação que possui o seu ser próprio; percebe que cada coisa é o que é, que é algo independente da pessoa do observador e subtraído ao seu arbítrio, ao contrário de qualquer simples quimera ou aparência.
Esta atitude de abertura ao existente com tal (...) faz do homem um vidente de valores. A quem há de se abrir a sublime beleza de um por-de-sol ou de uma nona sinfonia de Beethoven (...).
O respeito é o pressuposto imprescindível de todo o conhecimento profundo, e sobretudo o deixar-se enriquecer e elevar pelos valores, de toda a subordinação à sua majestade. Assim no-lo pode confirmar o comportamento moral nas mais diversas esferas da vida.
(...)
Só o indivíduo respeitador pode descobrir toda a magnitude e profundidade de cada homem enquanto homem espiritual, enquanto ser livre e responsável (...) Como há de alguém abrir-se realmente a um outro, como há de sacrificar-se por ele, senão faz ideia da preciosidade e da abundancia que se encerram numa alma humana, se não tem nenhum respeito por essa criação?
Além disso, esta atitude fundamental de respeito é pressuposto de todo o verdadeiro amor, sobretudo do amor ao próximo, porque nenhum amor é possível sem a compreensão dos valores que a pessoa traz consigo (...).
Que seria do amor de mãe sem o respeito pela criança em formação, por todas as possibilidades de valor nela latentes, pelas preciosidades de sua alma! (...) O respeito pelo vizinho é por sua vez o fundamento de toda a verdadeira convivência, da reta incorporação no matrimônio, na família, na nação, no Estado, na humanidade; é ainda o fundamento da submissão à autoridade legítima (...). A falta de respeito rompe e corrompe a comunidade.
Mas o respeito é também a alma do reto comportamento ético noutras esferas da vida. É o que sucede, por exemplo, na esfera da pureza. O respeito pelo segredo da união conjugal, pela profundidade, delicadeza e caráter rotundamente definitivo dessa intimíssima entrega, constitui o pressuposto da pureza. (...)
Onde quer que se ponham os olhos, onde quer que no homem deva florescer a vida moral, o respeito é sempre o fundamento e simultaneamente um elemento essencial dessa vida.
Sem essa atitude fundamental, não há nenhum amor verdadeiro, nenhuma justiça, nenhuma consideração, nenhuma auto-educação, nenhuma pureza, nenhuma veracidade; mas, sobretudo, nenhuma profundidade.
Sem o respeito o homem torna-se mesmo trivial e fútil, porque não entende a profundidade que se esconde nos seres, porque para ele não há no mundo algum por trás ou acima do visivelmente palpável.
Respeito e religião
Por isso, também só para o homem respeitador se abre a esfera da religião. O sentido e o valor que se encerram no mundo como um todo, só aos seus olhos se revelam. Assim, o respeito surge como atitude ética fundamental, no início de todo conhecimento, de toda a vida moral, de toda a religião. O respeito é, portanto, a base de todo o comportamento reto do homem para consigo mesmo, para com o próximo, para com todas as esferas da criação e sobretudo para com Deus"
Fonte: Von Hildebrand. Dietrich. Atitudes éticas fundamentais, São Paulo, Quadrante, 1988, p. 8-12.
Nota: o título e o subtítulo são do blog.
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