sábado, 12 de fevereiro de 2022

NÃO COMPLIQUEMOS NOSSAS VIDAS

 Introdução


    

No livro "Nervos, preocupações e depressão, John D. Nugent, em nove capítulos, convida-nos a combater toda forma de negativismo, "e consequentemente à melancolia, apatia, ou depressão". Tudo isso, "quando não têm causas orgânicas" (...) parece derivar de uma atitude até certo ponto pagã, ou mais propriamente de uma compreensão insuficiente do cristianismo, mais em concreto da doutrina da Redenção. Essa espécie de cegueira interior (é assim que ele também denomina esse negativismo que toma conta da pessoa) supera-se, porém, quando há docilidade, isto é, a disposição de aprender mais, de compreender o que Deus quis dizer-nos através dessas mesmas circunstâncias particulares à luz da Revelação Divina. (1)

    No capítulo 1, "Conhecendo-nos" a nós mesmos Nugent revela que foi um homem que por mais de 20 anos teve sérios problemas oriundos de viver focado nos aspectos negativos da vida, reais ou potenciais. Só veio a melhorar quando decidiu a mudar suas atitudes. Certamente isso ocorreu com o auxílio da graça. E ele garante que o milagre que aconteceu com ele também viu em outros que tomaram decisões semelhante à sua. Resolveu apresentar seu caminho aos outros de modo simples, que está relacionado com a fé mas não é propriamente um livro religioso. 

    Não é minha intenção aqui convidar o leitor a ver um resumo da obra. Mais útil, parece-me é que procurem conhece-la. Vale a pena. É um livro pequeno, da Quadrante. 110 páginas que podem ser lidas rapidamente. Contudo, talvez seja mais útil ler e refletir um capítulo por dia. 

    No oitavo capítulo, "Não complique", ele faz observações que são úteis ainda que não tenhamos visto o conjunto da obra. Vou reproduzi-la aqui no blog em duas partes. Os subtítulos são do blog. (V.O.)

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    "De todas as pessoas que existem nesse mundo, nós somos aquelas que mais necessidade têm de carimbar a frase "Não complique" no dorso de nossas mãos. Se tivermos um histórico pessoal que inclua doenças (...), estados de ansiedade ou padrões de pensamento que tendam a tornar-se obsessivos, a razão é que construímos no nosso íntimo o hábito mental de intelectualizar tudo. Olhemos para trás e vejamos de onde se originou esse hábito.

A origem da mentalidade obsessiva (2) 

    Quando éramos crianças, os nossos professores costumavam dizer-nos: "Pense, pense. Use a cabeça". E tinham razão, como é evidente. (...) Mas a verdade é que abusamos dessa recomendação e imaginamos que, se acumulássemos um estoque suficiente de respostas e usássemos a nossa razão, seríamos capazes de resolver qualquer problema que se apresentasse.

    Durante algum tempo, esse método funcionou. Com efeito, conseguimos equacionar todas as questões que enfrentamos - até certo ponto. E então a vida traçou meia dúzia de curvas, o método do "pense, pense, pense", deixou de funcionar, e todas as certezas que tínhamos desfizeram-se em cinzas.

Erramos, e não aprendemos. Complicamo-nos.

    Mas não aprendemos a lição. Fomos continuando a pensar com intensidade ainda maior. Pusemos os nossos cérebros a dar voltas, tentando prever as diversas hipóteses e encontrar a resposta para os nossos problemas. E neste processo tornamo-nos pessoas imensamente complicadas, incapazes de aceitar que há inúmeros problemas nessa vida que não se resolvem apenas com o raciocínio, e que há outros que não têm solução. Não aceitamos que toda a realidade é um entrelaçado de coisas materiais e espirituais, cuja solução não se encontra exclusivamente no plano humano. Agora temos de reverter todo o processo e aprender a usar a nossa cabeça de maneira mais razoável. 

    O que fomos descobrindo até agora são verdades revestidas de uma bela simplicidade. Mas o fato de serem "simples" não significa necessariamente que sejam fáceis. ; significa apenas que não são complicadas. Nelas encontramos, porém, algumas contradições aparentes, que teremos de resolver, se ainda nos sobra paciência suficiente para enfrentarmos mais algumas contradições...; e, para resolvê-las - acredite se quiser - , teremos de pensar sobre a maneira como pensamos.

Indios: " O homem branco é louco. Pensa com a cabeça.

    Os índios Pueblos do Novo México deixaram perplexo o psiquiatra Carl Jung ao afirmarem que consideravam o homem branco louco por pensar com a cabeça. Com efeito, parece-me que não é à toa que nos referimos a gente com "a cabeça desarranjada", ou que damos pancadinhas na testa quando encontramos alguém mais doido do que nós mesmos. O índio pensa com o coração, e as tribos mais primitivas até mesmo com o estômago... E se observarmos o caos crescente em que a Civilização Ocidental vem mergulhando, não estaria inteiramente fora de propósito perguntarmo-nos se, afinal de contas, esses povos não teriam alguma razão. 

E a intuição?  

  

 Na medida em que crescemos, todos vamos desenvolvendo um certo respeito pelo "outro lado" de nossas mentes. Começamos a utilizar o lado receptivo e intuitivo - também receptivo em relação às luzes de Deus-; apendemos que boa parte de nosso "pensamento" pode ser tranquilamente confiado aos juízos habituais da nossa boa consciência, e que podemos apoiar-nos com segurança na intuição que nos diz quando pegar ou largar. Passamos a enfrentar a vida com renovada confiança em que, se deixarmos de lado os furiosos questionamentos cerebrinos, o nosso eu "sonhador" terá mais liberdade para desempenhar bem o seu papel no palco; e descobriremos assim que a mente humana é um instrumento muito mais sofisticado e perfeito do que jamais ousamos acreditar. Por fim, experimentaremos também que um coração simples e reto, é mais fácil sintonizar com a verdade simples e reta de Deus.

    Depois dessas considerações, poderemos enfrentar as aparentes contradições a que aludimos acima sem nos sentirmos demasiado atemorizados e sem tentarmos encontrar para todos os passos." (3)

    Neste ponto John Nugent pergunta onde se encontra o equilíbrio, tão importante para nossa alma?

    É o que veremos na postagem de amanhã. 


Fonte: Nugent, John D.  Nervos, Preocupação e Depressão. trad. Henrique Elfes. São Paulo: Quadrante, 1992.

Notas do blog:

1. Op. cit. p. 3,4

2. Cada um de nós pode ficar obcecado com várias coisas.  Quais  quais são nossos "problemas"? O que  nos aflige? A covid? A saúde de modo geral? O perigo de perder o emprego? As dificuldades causadas pelos outros? os sonhos que não podemos realizar? A suposição que conseguimos planejar toda a nossa vida?  A crise da Igreja? As preocupações políticas?  Essas e outras são dificuldades que podem ser transformar em obsessões que podem fazer que mergulhemos no pessimismo. Obsessões que tiram nossa paz e até a dos outros.

3. Op.cit. p. 96-98

Obs: o destaque no texto, em itálico, é do blog.

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