Depois destas considerações (ver parte 1), poderemos enfrentar as aparentes contradições a que aludimos acima sem nos sentirmos demasiado atemorizados e sem tentarmos encontrar argumentos intelectuais para todos os passos.
O equilíbrio
Onde se encontra, pois, o equilíbrio entre:
1. "Limitar-se a fazer", por um lado, e "deixar as coisas acontecerem", por outro?
2. "Empenhar-se honestamente", e "não exagerar no esforço"?
3. "Ser sincero", sem "levar tudo a sério"?
4. "Deixar que seja Deus quem guie as nossas vidas", e "ter iniciativas próprias"?
5. "Sermos nós mesmos", e "controlar o nosso ego"?
Estas indagações não têm resposta simples em pura lógica: na verdade, a resposta consiste na "sabedoria para conhecer a diferença', ou seja, num sistema de orientação externo a nós mesmos. Muitas pessoas que vivem conforme estamos recomendando, fazem uso habitualmente da Oração da Serenidade:
Senhor, dai-me serenidade
para aceitar aquelas coisas que não puder mudar,
coragem para mudar aquelas que puder,
e sabedoria para conhecer a diferença.
E aí está a nossa resposta: o que importa é pedir continuamente a sabedoria necessária para conhecer a diferença. Ora bem, não se armazena sabedoria somente na cabeça, que é onde guardamos aquelas coisas que estamos continuamente a esquecer. Aliás, a sabedoria não é armazenada de maneira nenhuma; vem à mente e ao coração quando dela necessitamos, e não antes.
Contudo, mesmo que a procuremos, enganar-nos-emos de vez em quando, e era de esperar; mas vamos fazendo a experiência de que o mundo não vem abaixo por causa disso, e assim aprendemos a tomar as nossas próprias decisões e a viver com as consequências. E quando incidimos em algum erro, passamos a ter a capacidade de admiti-lo imediatamente e de retificar o nosso rumo.
E como saberemos que nos estamos afastando do ponto de equilíbrio e deixando de dar ouvidos à "sabedoria para conhecer a diferença"? É que, muito sutilmente, o ego vai-se apossando dos controles e nos leva a voar baixo e a perder velocidade. Mas temos um alarme que dispara nesses momentos: o medo, que nos avisa de que nos distanciamos do nosso Pai e voltamos a pretender dirigir nós mesmos o espetáculo.
Este alarme, no entanto, está longe de constituir um desastre em si mesmo. Pelo contrário, foi instalado em nós para ajudar-nos a evitar os desastres: se deixarmos o Piloto reassumir os comandos, voltaremos à altitude de cruzeiro sem maiores problemas. Em outras palavras, as aparentes contradições que apontamos não devem causar-nos preocupação alguma, pois temos um sinal de alarme embutido que nos ajuda a manter o equilíbrio entre os extremos. Ou seja, não temos necessidade alguma de "conhecer as respostas" das contradições que apontávamos'.
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Até aqui John Nugent mostrou-nos como complicamos nossas vidas "racionalizando tudo". No próximo post ele analisa mais dois complicadores: a tendência ao perfeccionismo e depositarmos em nós expectativas que não são razoáveis.
Realmente gostamos de nos complicar... (V.O.)
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Fonte: Nugent. John D. - Nervos, Preocupações e Depressão - São Paulo: Quadrante, 1992. p. 98-100.
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