domingo, 23 de agosto de 2020

PESSOAS ETERNAMENTE INFANTIS

 Rafael Llano Cifuentes


"Imaturidade – I

A imaturidade é difícil de ser definida, mas há manifestações que ajudam a entendê-la. Vejamos uma primeira manifestação: o infantilismo.
“A imaturidade deve-se, em primeiro lugar, a uma espécie de paralisação, de “fixação” numa determinada época da vida — infância, adolescência, primeira juventude… — que retarda o desenvolvimento normal da personalidade. *Um adulto acriançado* que se encontre, por exemplo, na faixa dos trinta anos continuará a procurar a solução dos seus problemas de adulto por meio dos recursos infantis; ou seja, procurará, por um procedimento pueril, infantilizado, resolver conflitos que só podem ser superados de maneira adulta.
Uma criança costuma aprender muito cedo que é capaz de obter o que deseja gritando, batendo o pé, chegando até a engasgar e a corar para amedrontar e dobrar os pais. Se tiver pais bem orientados, pode ser ajudada a superar esse modo infantil de lidar com os problemas. Mas, se tiver pais insensatos, que cedem mil e uma vezes às suas exigências impositivas, acabará por utilizar, quando for um quarentão, métodos equivalentes ao processo de gritar ou bater o pé: terá explosões periódicas, reagirá às naturais dificuldades de relacionamento no trabalho como se fossem ofensas pessoais, recorrerá aos amuos e às mágoas e, ao ver que isso já não produz o efeito desejado, refugiar-se-á no ressentimento.
Vejamos um caso. Um garotinho que precisava de atenção e carinho aprendeu que as pessoas riam quando ele deixava outros em situação ridícula. Ainda não tinha a capacidade de entender o que significava magoar alguém. Interessava-lhe apenas obter o que desejava: chamar atenção ou mostrar-se superior. Mas não conseguiu superar essa atitude mais tarde e ficou incrustado na infância, de forma que aos quarenta anos o vemos fazer gozações e pregar peças infantis como outrora… Barrigudinho e careca, com um sorriso de triunfo vazio nos lábios, permanece até o fim dos seus dias um moleque que nunca cresceu. Parou no tempo.
Na mesma linha, todos conhecemos esses indivíduos que assumiram o papel de perpétuos “engraçadinhos”, e que em todo lugar querem roubar a cena com um interminável repertório de piadas. Ou esses cinquentões que querem retornar aos seus vinte e cinco anos tingindo o cabelo, assumindo ares esportistas de uma elasticidade completamente ridícula… Ou ainda essas socialites que dão festas de aniversário para o seu poodle como se ainda fossem menininhas agarradas ao seu bichinho de pelúcia, ou essas senhoras que não aceitam a inexorável passagem do tempo e gastam fortunas com plásticas complicadas…
Tudo isso acontece bem ao nosso lado, e talvez bem dentro de nós mesmos… É possível que se encontrem nessa situação os nossos filhos, os nossos irmãos, os nossos amigos… ou os nossos chefes e dirigentes. Temos de ter a coragem de corrigi-los fraternalmente.
O mundo necessita desesperadamente de maturidade: não sejamos nós também imaturos diante da imaturidade reinante. Todos temos de ajudar-nos mutuamente a progredir, começando por nós mesmos”.

Extraído do livro “Maturidade”, de Rafael Llano Cifuentes. Editora Quadrante.
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