terça-feira, 28 de janeiro de 2020

A HERESIA AINDA EXISTE NA IGREJA



Fico admirado com a habilidade dos teólogos que conseguem defender justamente o oposto do que se encontra claramente escrito nos documentos do Magistério

Joseph cardeal Ratzinger

Em 1985 foi publicado no Brasil o livro "A fé em crise? O cardeal Ratzinger se interroga. Nele, o então Prefeito da Sagrada Congregação para a doutrina da Fé (desde janeiro de 1982), discute abertamente, com seu entrevistador Vitorio Messori, a preocupante crise da Igreja. 

Como sabemos, se um organismo está em crise, é porque um ou vários de seus órgãos não cumprem com suas funções. Se há crise na Igreja é porque há leigos e eclesiásticos que se afastaram de suas missões. Obviamente a questão é mais grave se as disfunções ocorrem na hierarquia que, nos velhos tempos,era chamada de Igreja docente. 

Disfunção na hierarquia pode significar carreirismo, busca pelo poder, acomodação, covardia,  burguesismo, corrupção. Independe de tendência teológica. Pode significar também heresia, nas palavras e nos gestos. Sobre o tema disse Messori:

"A ouvidos modernos, as palavras "heresia" e "herético" são de tal modo insólitos que se é obrigado a escrevê-las entre aspas". Então perguntou ao cardeal: "Eminência... ainda existem realmente "hereges", existem ainda "heresias"?

O cardeal cita, então, o artigo 751 do direito canônico recém reformado, onde se lê: Chama-se heresia a negação obstinada, após a recepção do batismo, de alguma verdade em que se deve crer por fé divina e católica, ou a dúvida obstinada sobre ela".(...)

A fé é um bem comum. Defender a ortodoxia é obra social em favor de todos os fiéis.

Ratzinger continua: "A palavra da Escritura é atual para a Igreja de todos os tempos, assim como é sempre atual para o homem a possibilidade de cair em erro. Portanto também hoje é atual a advertência da segunda epístola de Pedro, acerca do cuidado "com os falsos profetas e falsos mestres que introduzirão heresias perniciosas" (2, 1). O erro não é complemento da verdade. Não se esqueça que, para a Igreja, a fé é um "bem comum", uma riqueza de todos, a começar pelos pobres, os mais indefesos perante os desvios. Portanto, defender a ortodoxia é, para a Igreja, obra social em favor de todos os fiéis.

Finalmente, o cardeal admite que há hereges na Igreja, "numa época espiritualmente complexa como a nossa" "só que não pretendem aparecer como tais"(destaque nosso). Quase sempre se oporão as próprias hipóteses teológicas ao Magistério, dizendo que este não expressa a fé da Igreja, mas apenas a "arcaica teologia romana". Dir-se-á que não é a Congregação para a Fé, e sim eles, os heréticos, que percebem o sentido "autêntico" da fé transmitida. Onde ainda existe um laço eclesial um pouco mais forte, deparamos com um fenômeno diferente, porém ligado ao primeiro: eu fico cada vez mais admirado com a habilidade dos teólogos que conseguem defender justamente o oposto do que se encontra claramente escrito nos documentos do Magistério. E, no entanto, aquelas deturpações são apresentadas através de hábeis artifícios dialéticos, como o "verdadeiro" significado do documento em questão". 

Nota: os subtítulos e os destaques em negrito foram colocados pelo claravalcister.com

Fonte: Ratzinger, Joseph. A fé em crise? O cardeal Ratzinger se interroga. trad. Fernando José Guimarães.São Paulo, EPU, 1985. p 13;14. 



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