terça-feira, 27 de abril de 2010

MINHA PRIMEIRA NEVE

Em meio a tantas notícias ruins que têm vindo à tona a respeito da Igreja Católica, em meio a tanto sofrimento a que tem sido submetido Sua Santidade o Papa Bento XVI e todos nós católicos que amamos esta Igreja por ser única e verdadeira, recebemos esta matéria de uma grande amiga, Carolina Berard, que nos enche de alegria ao ver o amor de Deus impresso nas almas dessas monjas brasileiras que, um dia, entregaram seus corações a Nosso Senhor e agora vão à luta para defender e salvar o catolicismo na Dinamarca.

A frase "Minha primeira neve", mandada num cartão postal por uma delas às outras que aqui permaneceram, tocou-me profundamente. Nessa frase aparentemente simples, mas cheia de conteúdo, elas mostram todo amor que o católico verdadeiro tem pelo apostolado.

A essas queridas monjas todo nosso respeito, admiração e orações para que continuem servindo a Deus e propagando essa Igreja que é Santa, Una, Católica e Apostólica.

Sonia Rosalia


Elas querem salvar o catolicismo na Dinamarca


A história das monjas brasileiras que se mudaram para a Europa e impediram que o último mosteiro dinamarquês fosse fechado
Rodrigo Cardoso


ORIGEM
A abadessa Myriam, do mosteiro de Campos do Jordão:
local de partida das monjas brasileiras

Às 15 horas já não havia mais claridade no horizonte e as luzes do mosteiro do vilarejo de Aasebakken (lê-se “ôzebáken”), situado no município de Birkerod, no norte da Dinamarca, tinham de ser acesas. A temperatura amena proporcionada pelo aquecimento interno do convento – que, até 1942, funcionou como residência de um embaixador – contrastava com o inverno rigoroso observado pela janela. Fazia 30 anos que não nevava tanto na Dinamarca. Em dezembro passado, o mês mais gelado, as monjas brasileiras Amábile Auxiliadora Dias, Maria Jacinta Ramos e Anna Maria Cabral se mudaram para o mosteiro. Nos quatro meses seguintes, os flocos brancos vindos do céu só não foram mais constantes na rotina das novas hóspedes do que as orações. Beneditinas, essas freiras entoam salmos em uníssono sete vezes por dia, em geral, entre 6h30 e 20h30.

O clima gélido do país, a luz natural que some no meio da tarde e a distância da terra natal, porém, não desviam as brasileiras da missão que as fizeram se estabelecer em Aasebakken: salvar o único mosteiro beneditino católico do país, que corre o risco de sumir do mapa. Isso estava prestes a acontecer por falta de novas monjas para ocupar o casarão de 50 cômodos do mosteiro, fundado há quase 70 anos por uma alemã.

NA DINAMARCA
O grupo pioneiro que desembarcou no mosteiro,
em 2006 (apenas a primeira à dir. não é brasileira)

Madre Margarida Hertel, além de responder pela transformação do casarão dinamarquês em convento, estreitou os laços entre as religiosas do Brasil e da Dinamarca ao desembarcar no País e patrocinar a criação dos mosteiros de Nossa Senhora da Glória, em Uberaba (MG), e de São João, em Campos do Jordão (SP), em 1948 e 1964, respectivamente. “Por causa das irmãs de fora, as brasileiras conheciam toda a história da rainha Margarida, do príncipe Frederik, da princesa Alexandra da Dinamarca e por aí vai”, lembra a atual abadessa do mosteiro de São João, Myriam de Castro, 48 anos.

No 40º aniversário do convento de Campos do Jordão – onde as irmãs Amábile, Maria Jacinta e Anna Maria viviam antes de partir para o Hemisfério Norte –, a abadessa escreveu para as irmãs de Aasebakken convidando- as para os festejos. Rompeu-se aí um hiato de 40 anos sem informações entre as religiosas dos dois países. A resposta das estrangeiras as comoveu. “Elas escreveram que a comunidade
estava morrendo e que, por causa do número reduzido de vocações na Europa, a salvação seria o socorro das brasileiras”, conta a irmã Maria de Nazaré, 68 anos, que esteve na Dinamarca em 2006 acompanhando e traduzindo o idioma para o primeiro grupo de três brasileiras que lá desembarcaram.


Todos os anos, no último domingo de maio, Aasebakken é tomada por duas mil pessoas. Depois de caminhar por uma floresta em companhia dos sacerdotes de suas paróquias, rezando o terço naquela que é conhecida como a maior romaria católica da Dinamarca, elas lotam o gramado ao redor do casarão. Quatro anos atrás, esse centro de peregrinação composto por 11 alqueires de terra – palco de uma missa celebrada por João Paulo II, em 1989, quando esteve em solo dinamarquês em visita oficial – era ocupado por apenas cinco freiras. Esse número já foi de 30 no século passado. “A Dinamarca possuía cerca de 50 mosteiros. Com a reforma luterana, os católicos passaram a sofrer grandes pressões, as monjas foram morrendo e só restou Aasebakken”, explica o biblista e cônego Celso Pedro da Silva, reitor do Centro Universitário Assunção (Unifai).




Atualmente, residem no convento quatro brasileiras e uma dinamarquesa. “Estamos iniciando uma refundação. Por enquanto somos uma presença silenciosa orante”, conta a irmã Anna Maria, que se tornou a primeira brasileira com o título de superiora dentro da casa. No mês que vem, a abadessa Myriam desembarcará na Dinamarca acompanhada de uma quinta brasileira para Aasebakken. Com 27 anos, natural do Ceará, a irmã Rafaela da Silva está ansiosa para contribuir. “O que Deus criou nada vai destruir. É uma alegria, uma realização poder ajudar”, diz.

Pelo acordo feito entre as religiosas, a abadessa brasileira terá de visitar Aasebakken anualmente durante três anos para avaliar se a empreitada está valendo a pena. Os progressos, segundo Myriam, já são visíveis. “Houve a retomada do louvor divino. Elas conseguiram celebrar a Páscoa e já há uma candidata dinamarquesa a se tornar freira, o que é um sinal de que há uma esperança de vida religiosa lá”, conta ela.

NA NEVE
“Estamos iniciando uma refundação”, diz a irmã Anna
Maria, superiora no convento

Três das quatro brasileiras fazem aulas de dinamarquês. São cinco horas de estudos, três vezes por semana. Por viver na Dinamarca desde 2006, a irmã Maria Vitória Nascimento está adiantada em relação ao idioma. Brincam suas colegas religiosas que, de tão adaptada ao país nórdico, Maria Vitória, uma negra de 50 anos, só falta adquirir olhos azuis. O cônego Pedro da Silva lembra de uma passagem que viveu na Dinamarca, quando lá esteve visitando as monjas brasileiras. “Estávamos almoçando no refeitório dos hóspedes e a irmã Maria Vitória entrou carregando uma cerveja”, conta. “Aí, ela disse: ‘Quando são os padres delas (dinamarquesas) que nos visitam, elas põem cerveja na mesa. Então, para os nossos, também vai ter’.”

Além dos estudos, as monjas cuidam da limpeza dos cômodos da casa principal, da hospedaria dos visitantes e de outros trabalhos caseiros. E estão se adaptando à solidão do lugar. Em Campos do Jordão, elas tinham bastante contato com a população da cidade. Em Birkerod, tudo é muito isolado, distante do contato com as pessoas. Nas estradas e parques não se encontra gente com frequência . Mais: não há muitos católicos. Com cinco milhões de habitantes, a Dinamarca é um país luterano: 90% da população segue essa doutrina. Os católicos somam 35 mil (0,7%), enquanto os muçulmanos, 150 mil (3%). “Muitos leigos, no entanto, têm nos procurado para desfrutar do silêncio do mosteiro”, conta a irmã Anna Maria.

E, assim, as portas do mosteiro de Aasebakken seguem abertas. Para leigos, religiosos, dinamarqueses ou brasileiros como a irmã Amábile, 32 anos, que, feliz na Dinamarca, enviou uma foto para as monjas que ficaram no Brasil com o seguinte título: “Minha primeira neve.”



quarta-feira, 21 de abril de 2010



ESCÂNDALOS NA IGREJA
REPARAÇÃO. FIDELIDADE. PROVIDÊNCIA


Valter de Oliveira


No último mês a mídia fez uma série de denúncias sobre atos de pedofilia e homossexualismo praticados por membros do clero católico. As denúncias apontam crianças e jovens molestados na América e na Europa e, recentemente, no Brasil. Episcopados foram acusados de omissos, coniventes e cúmplices. Nem mesmo o Santo Padre Bento XVI foi poupado. Toda a Igreja foi criticada.

Como era de se esperar o Vaticano respondeu. Leigos e religiosos de todo o mundo procuraram dar suas explicações e defender a causa católica. Muitos simplesmente declararam solidariedade ao Papa. (1) Outros reafirmaram sua fé, mas exigiram providências mais enérgicas da hierarquia da Igreja. O que pensar disso tudo?

1. Os fatos

Que houve muitos casos de abuso não há nenhuma dúvida. O Papa e toda a Igreja reconhecem. Basta ver a seguinte declaração do padre Federico Lombardi S.J., em seu briefing de apresentação aos jornalistas da carta do Papa endereçada aos católicos da Irlanda.

“Com relação aos casos de abusos por parte de sacerdotes, Bento XVI esteve sempre empenhado contra a cultura do silêncio”

“Verdade”, “consciência”, “dor”, “conversão”, “empenho”: estas são as palavras-chave com as quais o porta-voz falou do documento.

“É um documento que não procura por desculpas, é honesto e sincero” – explicou o padre Lombardi. “A carta pastoral permanece muito honesta e lealmente concentrada sobre a Igreja, sobre as responsabilidades dos membros da Igreja, sobre os sofrimentos causados, e não tenta se eximir do problema”. (2)

Sobre o número de sacerdotes acusados e de jovens molestados peço que leiam o artigo de Massimo Introvigne que publicamos em nosso site.(3) O autor também analisa se os casos ocorridos são mais freqüentes na Igreja Católica do que em outras instituições.

Claro que para nós, católicos, não é nenhum grande consolo se as estatísticas mostram que isso ocorre menos entre nós do que com outros. É uma defesa verdadeira e legítima. Respeito quem a usa. Não sei se é o melhor caminho. Pode talvez dar a impressão que se quer minimizar o problema. Afinal todos sabemos que o iceberg não é só o que vemos. Crimes reais, apesar de delatados nem sempre são provados. Crimes ocorridos são em número maior do que os denunciados.


Para um católico o que importa é uma verdade cada vez mais esquecida: todo pecado é uma ofensa a Cristo, pior ainda se é grave. Cada um deles aumentou o sofrimento de Nosso Senhor no Horto, pouco antes de sua prisão, quando previu nossos pecados com sua pré-ciência divina. Nossa miséria O fez suar sangue, ser açoitado, coroado de espinhos. Fez com que levasse sua cruz ao Calvário e morresse por nós.

O pecado nunca é um ato isolado. Marca nossas almas, repercute no mundo. Causa escândalos, afasta muitos da Fé. Lamentavelmente.

2. O que fazer? Como encarar tais fatos?

Devemos encará-los como o faz o Papa. Reconhecê-los, deplorá-los, sobretudo repará-los. “A justiça de Deus exige que prestemos contas das nossas ações sem nada esconder”. (4) São pecados e crimes que exigem perdão e reparação pelo mal feito, medidas duras para evitá-los, punição para quem os cometeu sem descuidar da verdadeira caridade.

3. A resposta carola pusilânime

É uma aparente defesa da Igreja. Tem mais preocupação em “defender” uma certa imagem da Igreja do que em procurar a verdade. Mistura carolice com corporativismo. É feita por pessoas que respondem quando forçadas. Então reconhecem os erros dos maus sacerdotes e religiosos mas minimizam o mal que estes fazem. Se têm autoridade mostram-se mais preocupados em salvar a pele dos religiosos indignos. Afirmam que é preocupação com os filhos. Fingem não ver que muitos outros filhos estão sendo destruídos, mortos, dilacerados... “Punem” os lobos transferindo-os para outros redis...

Não são esses que irão ajudar o Papa em sua missão.

4. Os católicos rigorosos

Como contraste encontramos na mídia artigos de católicos que são mais duros em suas análises. Exigem punição aos que praticaram escândalos e aos bispos que foram omissos ou coniventes. A questão não seria apenas de “alguns” ou uma “minoria” de um ou dois por cento dos clérigos e religiosos. A chaga seria bem maior do que se fala. Em um artigo que li o autor chega a pedir que o Pontífice aproveite a ocasião para afastar um enorme número de bispos!

Quais seriam os efeitos colaterais de tal remédio? E se são tantos, qual a força que têm dentro da Igreja?

5. Bento XVI e a crise na Igreja

Há quem pense que a crise na Igreja restringiu-se ao período pós-conciliar. A atuação de João Paulo II e agora a de Bento XVI teriam colocado a casa em ordem.

Em parte a afirmação é verdadeira. Novas graças florescem na Igreja. Muitas almas estão ávidas por espiritualidade e santidade. Nos meios religiosos e entre os leigos.

Por outro lado também é verdade que nenhum dos dois papas jamais afirmou que a tempestade acabou. (5) Convidam-nos para a esperança. E nos dizem: há muito para renovar. E convidam-nos para a reevangelização.

Ora, se o mundo ocidental abandonou suas raízes somos responsáveis por termos deixado a cultura da morte ampliar seu nefasto raio de ação.

No documento à Igreja da Irlanda Bento XVI aponta as causas dos escândalos que ocorreram por décadas. Nós o colocamos na íntegra em nosso site. O Papa põe o dedo na chaga e nos mostra inúmeros erros cometidos.

Também pedimos a atenção para a reflexão feita pelo frei Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia, em sua terceira pregação da Quaresma, proferida na presença de Bento XVI e seus colaboradores da Cúria Romana. A idéia básica é altamente significativa: “Tepidez do clero é pior que os escândalos”.


6. Os escândalos exigem mais fé e amor

Na tempestade temos que ter fé que Cristo está sempre conosco. Lembremos suas palavras a S. Pedro: homens de pouca fé, por que duvidais?

Não é abandonando o barco que nos salvaremos. É com nossa vida fiel nele que contribuiremos para que o mundo seja mais puro e, dentro do humanamente possível, uma antecipação da Jerusalém Celeste.


Notas

1. Comunicado do CELAM. www.celam.org
3. Massimo Introvigne, sociólogo italiano
4. Carta aos irlandeses.
5. “Ninguém pense que esta dolorosa situação se resolverá em pouco tempo”. (Carta aos irlandeses)


segunda-feira, 12 de abril de 2010


IGREJA -
INFORMAÇÃO VERSUS CAMPANHA


Carlos Alberto Di Franco



A imprensa brasileira tem noticiado a respeito da crise que fustiga a Igreja Católica com razoável serenidade e equilíbrio. Os casos de abuso sexual protagonizados por clérigos são, de fato, matéria jornalística inescapável. O que me impressiona, e muito, é a perda do sentido informativo e o inequívoco tom de campanha assumido por alguns jornais norte-americanos.

Infelizmente, os casos reais de abuso sexual, ocorridos nas últimas décadas, mesmo que tenham sido menos numerosos do que fazem supor certas reportagens, são inescusáveis. Nada pode justificar nem atenuar crimes abomináveis como o estupro e a pedofilia. Um só caso de pedofilia, praticado na Igreja Católica por um padre, um religioso ou uma religiosa, é sempre demais, é inqualificável. Mas jornalismo não pode ser campanha. Devemos, sem engajamentos ou editorialização da notícia, trabalhar com fatos. Só isso nos engrandece. Só isso dá ao nosso ofício credibilidade e prestígio social. Pois bem, amigo leitor, vamos aos fatos.

O Vaticano recebeu 3 mil denúncias de abuso sexual praticado por sacerdotes nos últimos 50 anos. Segundo monsenhor Scicluna, chefe da comissão da Santa Sé para apuração dos delitos, 60% dos casos estão relacionados com práticas homossexuais, 30% com relações heterossexuais e 10% dos casos podem ser enquadrados como crimes de pedofilia. Os números reais de casos de pedofilia na Igreja são, portanto, muito menores.

Os abusos têm sido marcadamente de caráter homossexual e refletem um grave problema de idoneidade para o exercício do sacerdócio. Afinal, uma instituição que há séculos defende o celibato sacerdotal tem o direito de estabelecer os seus critérios de idoneidade, o seu manual de instruções para a seleção de candidatos. Quem entra sabe a que veio. É tudo muito transparente. Quem assume o compromisso o faz livremente. O que não dá, por óbvio, é para ficar com um pé em cada canoa. E foi exatamente isso o que aconteceu. A Igreja está enfrentando as consequências de anos e anos de descuido, covardia e negligência dos bispos na seleção e formação do clero.

Philip Jenkins, um especialista não católico de grande prestígio, publicou o estudo mais sério sobre a crise. Pedophiles and Priests: Anatomy of a Contemporary Crisis (Oxford, 214 págs.) é o mais exaustivo estudo sobre os escândalos sexuais que sacudiram a Igreja Católica nos Estados Unidos durante a década de 1990. Segundo Jenkins, mais de 90% dos padres católicos envolvidos com abusos sexuais são homossexuais. O problema, portanto, não foi ocasionado pelo celibato, mas por notável tolerância com o homossexualismo, sobretudo nos seminários dos anos 70, quando foram ordenados os predadores sexuais que sacudiram a credibilidade da Igreja.

O autor não nega o óbvio: que existiram graves desvios; e, mais, que os bispos fracassaram no combate aos delitos. Jenkins, no entanto, mostra como os crimes foram amplificados com o objetivo de desacreditar a Igreja. A análise isenta dos números confirma essa percepção. Na Alemanha, por exemplo, existiram, desde 1995, 210 mil denúncias de abusos. Dessas 210 mil, 300 estavam ligadas a padres católicos, menos de 0,2%. Por que só as 300 denúncias contra a Igreja repercutem? E as outras 209 mil denúncias? Trata-se, sem dúvida, de um escândalo seletivo.

As interpretações e as manchetes, em tom de campanha, não batem com o rigor dos fatos. Vamos a um exemplo local. Reportagem publicada no jornal O Estado de S. Paulo, de 18/5/2009, página C4, abria com o seguinte título: Triplica o número de vítimas de abuso atendidas nas zonas sul e leste. E acrescentava ao título: Desde outubro, a média de novos casos passou de dez por mês para um por dia. Mesmo que o estudo se cinja às zonas leste e sul da cidade de São Paulo, por somarem milhões de habitantes, não deixa de ser uma amostra muito expressiva.

Trata-se de uma pesquisa realizada por várias ONGs de provada seriedade. Aponta como "novidade desconcertante" o fato de que "pais biológicos são a maioria entre agressores e, agora, avós também começam a aparecer neste grupo". No elenco da Rede Criança de Combate à Violência Doméstica, todos ou a quase totalidade dos agressores sexuais são casados. Por que então o empenho em fazer crer que os principais protagonistas de abusos sexuais são padres, e em atribuir a causa dos crimes ao seu compromisso celibatário?

Tentou-se, recentemente, atingir o próprio papa. Como lembrou John Allen, conhecido vaticanista e autor do livro The Rise of Benedict XVI, em recente artigo no The New York Times, o papa fez da punição aos casos de abuso uma prioridade de seu pontificado. "Um de seus primeiros atos foi submeter à disciplina dois clérigos importantes contra os quais pesavam denúncias de abuso sexual há décadas, mas que tinham sido protegidos em níveis bastante altos. Ele também foi o primeiro papa da história que tratou abertamente da crise." Bento XVI tem sido, de fato, firme e contundente.

Em recente carta ao Corriere della Sera, o senador italiano Marcello Pera, um laico no mais genuíno sentido italiano da palavra, assumiu a defesa do papa e foi ao cerne da polêmica. "Desencadeou-se uma guerra. Não propriamente contra a pessoa do papa, pois seria inviável. Bento XVI tornou-se invulnerável por sua imagem, sua serenidade, sua clareza e firmeza." A guerra continuará, "entre outras razões, porque um papa como Bento XVI, que sorri, mas não retrocede um milímetro, alimenta o embate".

Precisamos informar com o rigor dos fatos. Mas devemos, sobretudo, entender o que se esconde por trás de algumas manchetes e de certas interpretações.


DOUTOR EM COMUNICAÇÃO PELA UNIVERSIDADE DE NAVARRA, PROFESSOR DE ÉTICA, É DIRETOR DO MASTER EM JORNALISMO (WWW.MASTEREMJORNALISMO.ORG.BR)

E DA DI FRANCO - CONSULTORIA EM ESTRATÉGIA DE MÍDIA (WWW.CONSULTORADIFRANCO.COM)




segunda-feira, 5 de abril de 2010


A DOR, AS TREVAS, A LUZ






Valter de Oliveira

Quinta feira. Última ceia do Senhor.

Tudo foi preparado cuidadosamente. Jesus recita os salmos serenamente, com voz suave e firme.

Ali estavam seus discípulos, com quem Ele desejara ardentemente passar sua última Páscoa. O que faziam eles?

O Evangelho narra que começaram a discutir qual deles seria o maior...

Senhor, eles estavam em uma ceia testamentária, afetuosa, imensamente triste. Não viam, não percebiam a sublimidade do que ali se passava. Estavam voltados para si mesmos.

Como nós, Senhor. Como eu. Perdoai-nos.

Discutiam ninharias. O que fizestes? Destes uma imensa lição de humildade e amor. De joelhos lavastes os pés de quem Vos esquecia...

E o que mais? Instituístes a Eucaristia! É a Vossa presença entre nós até o fim dos tempos! É Vosso amor por nós.

Perdoai-nos, Senhor. E obrigado. Mil vezes obrigado.

Depois fostes preso. Os apóstolos fugiram. Vosso santo calvário começava logo após a Ceia. Vão atar Vossas mãos. Simplesmente porque faziam o bem.


Sexta-feira: toda Vossa dor. Devido a nossos pecados...

Já fostes traído por Judas. Espancado, cuspido, caluniado diante do Sumo Sacerdote. E confirmastes que sois o Cristo, o Filho de Deus bendito.

Logo depois Pedro Vos traiu, como predissestes.

Pilatos não viu em Vós culpa alguma. E mandou Vos açoitar...

Depois veio a coroação de espinhos e a via Sacra.

Na Cruz entregastes Vossa Santa Mãe a João. Assim recebemos a Virgem como Mãe de todos nós.

Finalmente Vos crucificaram. E Jesus, “dando um grande brado” expirou.

As trevas caíram sobre a Terra.

Ao cair da tarde José de Arimatéia, corajosamente, apresentou-se a Pilatos e pediu vosso Sacratíssimo Corpo. O governador romano consentiu.

O Evangelho de S. Marcos nos diz: “José, tendo comprado um lençol, tirando-O da cruz, envolveu-O no lençol, depositou-o num sepulcro, que estava aberto na rocha, e rolou uma pedra para diante da entrada do sepulcro. Entretanto, Maria Madalena e Maria, mãe de José, estavam observando onde era depositado”. (Mc 15, 46,47).


Sábado: a Fé da Virgem.

Os apóstolos estavam sós. Desnorteados esqueceram-se do que o Mestre lhes ensinara. As trevas da sexta-feira permanecia em suas almas. Deixaram de ver.

A tradição nos diz que em uma alma a luz permaneceu. Maria Santíssima permaneceu plenamente fiel. Confiante que as promessas de seu Divino Filho iriam se realizar. Sabia que a Redenção fora concluída. Por um grande preço. Por um preço infinito. Por todos nós.

É doce lembrar que foi a Virgem que “protegeu com a sua fé, com a sua esperança e o seu amor esta Igreja nascente, débiul e assustada. Assim nasceu a Igreja: ao abrigo de nossa Mãe. Já desde o princípio Maria foi a Consoladora dos Aflitos”. (1) (Carvajal, Francisco Fernandes. Falar com Deus, Quadrante, São Paulo, 1990, p. 235).


Domingo: A alegria da Ressurreição.

As trevas desaparecem. A morte é derrotada. Cristo ressuscita. A luz invade o mundo e as almas.

A liturgia de entrada da Missa da segunda-feira do tempo pascal nos diz:

O Senhor ressuscitou dos mortos, como havia anunciado, alegremo-nos e regozijemo-nos todos, porque Ele reina para sempre. Aleluia!

A Páscoa é nossa maior festa. Dia de imensa alegria.

A alegria cristã vem da Fé. Vem da vitória de Cristo sobre a morte e o pecado.

Que a Virgem ajude a todos nós a levar até os confins da Terra, em todos os momentos, em todas as situações, a alegria dos filhos de Deus.