quarta-feira, 21 de abril de 2010



ESCÂNDALOS NA IGREJA
REPARAÇÃO. FIDELIDADE. PROVIDÊNCIA


Valter de Oliveira


No último mês a mídia fez uma série de denúncias sobre atos de pedofilia e homossexualismo praticados por membros do clero católico. As denúncias apontam crianças e jovens molestados na América e na Europa e, recentemente, no Brasil. Episcopados foram acusados de omissos, coniventes e cúmplices. Nem mesmo o Santo Padre Bento XVI foi poupado. Toda a Igreja foi criticada.

Como era de se esperar o Vaticano respondeu. Leigos e religiosos de todo o mundo procuraram dar suas explicações e defender a causa católica. Muitos simplesmente declararam solidariedade ao Papa. (1) Outros reafirmaram sua fé, mas exigiram providências mais enérgicas da hierarquia da Igreja. O que pensar disso tudo?

1. Os fatos

Que houve muitos casos de abuso não há nenhuma dúvida. O Papa e toda a Igreja reconhecem. Basta ver a seguinte declaração do padre Federico Lombardi S.J., em seu briefing de apresentação aos jornalistas da carta do Papa endereçada aos católicos da Irlanda.

“Com relação aos casos de abusos por parte de sacerdotes, Bento XVI esteve sempre empenhado contra a cultura do silêncio”

“Verdade”, “consciência”, “dor”, “conversão”, “empenho”: estas são as palavras-chave com as quais o porta-voz falou do documento.

“É um documento que não procura por desculpas, é honesto e sincero” – explicou o padre Lombardi. “A carta pastoral permanece muito honesta e lealmente concentrada sobre a Igreja, sobre as responsabilidades dos membros da Igreja, sobre os sofrimentos causados, e não tenta se eximir do problema”. (2)

Sobre o número de sacerdotes acusados e de jovens molestados peço que leiam o artigo de Massimo Introvigne que publicamos em nosso site.(3) O autor também analisa se os casos ocorridos são mais freqüentes na Igreja Católica do que em outras instituições.

Claro que para nós, católicos, não é nenhum grande consolo se as estatísticas mostram que isso ocorre menos entre nós do que com outros. É uma defesa verdadeira e legítima. Respeito quem a usa. Não sei se é o melhor caminho. Pode talvez dar a impressão que se quer minimizar o problema. Afinal todos sabemos que o iceberg não é só o que vemos. Crimes reais, apesar de delatados nem sempre são provados. Crimes ocorridos são em número maior do que os denunciados.


Para um católico o que importa é uma verdade cada vez mais esquecida: todo pecado é uma ofensa a Cristo, pior ainda se é grave. Cada um deles aumentou o sofrimento de Nosso Senhor no Horto, pouco antes de sua prisão, quando previu nossos pecados com sua pré-ciência divina. Nossa miséria O fez suar sangue, ser açoitado, coroado de espinhos. Fez com que levasse sua cruz ao Calvário e morresse por nós.

O pecado nunca é um ato isolado. Marca nossas almas, repercute no mundo. Causa escândalos, afasta muitos da Fé. Lamentavelmente.

2. O que fazer? Como encarar tais fatos?

Devemos encará-los como o faz o Papa. Reconhecê-los, deplorá-los, sobretudo repará-los. “A justiça de Deus exige que prestemos contas das nossas ações sem nada esconder”. (4) São pecados e crimes que exigem perdão e reparação pelo mal feito, medidas duras para evitá-los, punição para quem os cometeu sem descuidar da verdadeira caridade.

3. A resposta carola pusilânime

É uma aparente defesa da Igreja. Tem mais preocupação em “defender” uma certa imagem da Igreja do que em procurar a verdade. Mistura carolice com corporativismo. É feita por pessoas que respondem quando forçadas. Então reconhecem os erros dos maus sacerdotes e religiosos mas minimizam o mal que estes fazem. Se têm autoridade mostram-se mais preocupados em salvar a pele dos religiosos indignos. Afirmam que é preocupação com os filhos. Fingem não ver que muitos outros filhos estão sendo destruídos, mortos, dilacerados... “Punem” os lobos transferindo-os para outros redis...

Não são esses que irão ajudar o Papa em sua missão.

4. Os católicos rigorosos

Como contraste encontramos na mídia artigos de católicos que são mais duros em suas análises. Exigem punição aos que praticaram escândalos e aos bispos que foram omissos ou coniventes. A questão não seria apenas de “alguns” ou uma “minoria” de um ou dois por cento dos clérigos e religiosos. A chaga seria bem maior do que se fala. Em um artigo que li o autor chega a pedir que o Pontífice aproveite a ocasião para afastar um enorme número de bispos!

Quais seriam os efeitos colaterais de tal remédio? E se são tantos, qual a força que têm dentro da Igreja?

5. Bento XVI e a crise na Igreja

Há quem pense que a crise na Igreja restringiu-se ao período pós-conciliar. A atuação de João Paulo II e agora a de Bento XVI teriam colocado a casa em ordem.

Em parte a afirmação é verdadeira. Novas graças florescem na Igreja. Muitas almas estão ávidas por espiritualidade e santidade. Nos meios religiosos e entre os leigos.

Por outro lado também é verdade que nenhum dos dois papas jamais afirmou que a tempestade acabou. (5) Convidam-nos para a esperança. E nos dizem: há muito para renovar. E convidam-nos para a reevangelização.

Ora, se o mundo ocidental abandonou suas raízes somos responsáveis por termos deixado a cultura da morte ampliar seu nefasto raio de ação.

No documento à Igreja da Irlanda Bento XVI aponta as causas dos escândalos que ocorreram por décadas. Nós o colocamos na íntegra em nosso site. O Papa põe o dedo na chaga e nos mostra inúmeros erros cometidos.

Também pedimos a atenção para a reflexão feita pelo frei Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia, em sua terceira pregação da Quaresma, proferida na presença de Bento XVI e seus colaboradores da Cúria Romana. A idéia básica é altamente significativa: “Tepidez do clero é pior que os escândalos”.


6. Os escândalos exigem mais fé e amor

Na tempestade temos que ter fé que Cristo está sempre conosco. Lembremos suas palavras a S. Pedro: homens de pouca fé, por que duvidais?

Não é abandonando o barco que nos salvaremos. É com nossa vida fiel nele que contribuiremos para que o mundo seja mais puro e, dentro do humanamente possível, uma antecipação da Jerusalém Celeste.


Notas

1. Comunicado do CELAM. www.celam.org
3. Massimo Introvigne, sociólogo italiano
4. Carta aos irlandeses.
5. “Ninguém pense que esta dolorosa situação se resolverá em pouco tempo”. (Carta aos irlandeses)


Um comentário:

  1. ...Ah! Que saudade das fogueiras medievais! Tais pecados estão muitíssimo além das quedas habituais de todo homem. Há algo mais por traz dessas maldades. Não são maldades "comuns". Poder-se-ia fazer um teste empírico para verificar a eficiência. Quem sabe dá certo. Vamos queimar alguns deles em praça pública.
    Católico não mente. Se mente não é católico. Da mesma forma podemos dizer: católico não é pedófilo. Se é pedófilo não é católico. Então que se queime logo alguns deles. Até porque se não fizermos isso agora, dia desses os maus, a partir de tal pretexto, queimaram incluse os bons.

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