segunda-feira, 26 de outubro de 2009


BLASFÊMIA E HOMOSSEXUALISMO

Valter de Oliveira






1. O despud
or da cultura da morte.

A Confederação das associações espanholas de defesa dos direitos dos homossexuais (na realidade dos gays, lésbicas, transexuais e bissexuais) de Madri, lançou um “Calendário Laico” que é uma verdadeira bofetada nos católicos e demais cristãos. Nele os santos – e sobretudo Nossa Senhora – aparecem vestidos com trajes de drag queens e adereços sexuais.

O sacrilégio é seguido de uma exigência laicista: seus autores reivindicam que na Espanha laica os feriados santos sejam substituídos por eventos sociais, e que o dia do Natal passe a ser o dia da democracia. (1)

Como se vê – e já comentamos aqui no blog – a mentalidade jacobina da Revolução Francesa, que eliminou o calendário cristão – está mais viva do que nunca. Cada vez mais ousada e totalitária. E nós, cristãos, infelizmente, cada vez mais passivos.


2. Necessidade de Reparação

Diante de tanta sordidez muita coisa temos que fazer. Primeiro, reparação. Deus está sendo barbaramente ofendido. Segundo, rezar mais, porque a luta em defesa da fé e do bem está exigindo cada vez mais de nós. Terceiro, atuar: somos cidadãos e temos que fazer valer nossos direitos. Temos que exigir punição para todos aqueles que não sabem respeitar o próximo. Punição para os falsos defensores do pluralismo democrático que só pensam em impor a degradação humana. Temos elementos legais de sobejo para isso. É só usá-los. E não é só direito nosso. É um dever. Dos leigos, e, principalmente, da Hierarquia Católica. (2) e (5)


3. O processo da cultura da morte

Há quem pense que a cultura da morte seja, apenas, aquela que defende o aborto, a eutanásia, e outros atos que negam e violam a vida humana. É bem mais que isso. É um processo que pretende endeusar o homem rejeitando toda nossa ligação e dependência de um Deus Criador. O que implica na recusa e no ódio à lei natural e divina.

Eis o que nos diz a respeito Gonzalo Redondo, no tomo XIII da História Universal da Universidade de Navarra: (3)

“O neomarxismo recolhe o tema da libertação total do homem; um tema herdado da Ilustração. (...) que entende que a vulgar oposição proletários/capitalistas deve ser substituída pela do saber/poder”.

Depois de explicar que isso vai ser defendido especialmente pela Escola marxista de Frankfurt, Redondo diz que, graças a ela “se produziu a integração do marxismo e do freudismo no âmbito da psicologia social. Aceitaram-se as técnicas da psicoanálise com um fim político: promover a revolução através da transformação da consciência moral e da estrutura da personalidade do indivíduo. A libertação sexual se converteu em um elemento da propaganda e das técnicas subversivas.”

“O homem chave desta postura dentro da escola de Frankfurt foi Wilhelm Reich (1897-1957), um médico psicoanalista, amigo de Freud e Fromm. (...) optou por uma antropologia que implicava o rechaço de toda moral sexual repressiva. Para Reich a sexualidade (...) não necessitava o controle de nenhuma moralidade. Conseqüências lógicas desta opção antropológica eram a defesa da homossexualidade e do amor livre e o menosprezo do matrimônio e de seu caráter indissolúvel.”

A unidade dos marxistas na luta pela cultura da morte é claramente apontada por Gonzalo Redondo quando nos diz que “a política defendida pelo Deutscher Reichsverband für Proletarische Sexual-Politik, uma organização cultural do partido comunista alemão, (...) militou em defesa da legalização do aborto e da tolerância pública da homossexualidade, e que preconizava uma liberação da legislação sobre o divórcio, a venda de contraceptivos, a educação sexual nas escolas, assim como a organização oficial e gratuita da planificação familiar.”

Como se vê a bandeira marxista de 1930 virou moeda corrente. Hoje as idéias de Reich são aceitas tranquilamente pelos mais variados partidos. Só se muda a radicalidade dos projetos.

Isso não é dito apenas por seus críticos. É dito e defendido por eles mesmos. E não é de hoje. A literatura marxista sobre o assunto é enorme. Os partidos, ONGs e movimentos sociais que a propagam não escondem isso de ninguém. Basta querer se informar.(4)


4. A ingenuidade cristã


O que aqui foi dito não é de domínio do grande público. Este é simplesmente a vítima do processo marxista feito em conluio com os laicistas liberais. O que não implica em dizer que não tenham nenhuma responsabilidade pelo crescimento da maré materialista neo-pagã.

A tática marxista é de conhecimento da intelectualidade católica; leiga e clerical. Intelectualidade da qual amplos setores devem ser responsabilizados por omissão ou conivência. Ou ingenuidade.

Ingenuidade, por exemplo, em aceitar o jogo do adversário. Em não perceber que ele manipula e muda o significado de palavras e expressões como dignidade, direitos humanos, liberdade, igualdade, democracia, cidadania. Em não ter sagacidade para perceber que os neo-marxistas, ao sugerir “descriminalizações”, só queriam “companheiros de viagem” para mudar as leis e implantar a cultura da morte.

Pena que os pseudo-otimistas não percebam.



Notas:

1. Conforme noticiado pela mídia o presidente Lula não aceitou colocar no acordo feito com a Santa Sé a manutenção do Natal como feriado...

2. A ousadia da cultura da morte não se limita àquela que já foi a gloriosa Espanha. É um processo mundial. No Brasil mesmo a parada gay tem usado e abusado da blasfêmia. A mídia não destaca muito. E os cristãos estão preocupados com outras coisas...

3. REDONDO, Gonzalo. História Universal, tomo XIII, Las Libertades y las Democracias, Ediciones Universidad de Navarra (EUNSA), Pamplona, 1989.págs 63,64.

4. Artigo do site do PSTU, de um professor da USP, confirma totalmente o que é dito pelo livro da Universidade de Navarra. Vamos comenta-lo em próximo artigo.


5. Notícia de "O Estado de São Paulo" afirma que "Alguns fiéis já se sentem ofendidos. O grupo católico Religião e Liberdade, disse à BBC Brasil que o calendário é uma "ofensa clara e inconstitucional".

Citando o Código Penal, o vice-presidente da associação, Raúl Mayoral, alega que a publicação vulnera o artigo que prevê penas de oito a doze meses de prisão para quem ofenda os sentimentos dos membros de uma confissão religiosa.

Para os representantes da Plataforma Hazte oír (Faz-te ouvir), uma das organizadoras dos protestos nas ruas de Madri contra o aborto e contra o casamento entre gays, o calendário laico ataca os ícones e valores católicos, mas não surpreende.

"Estamos fartos de ver estes tipos de agressões. Essa inquisição rosa é constante porque os homossexuais espanhóis aproveitam qualquer oportunidade para soltar qualquer barbaridade em nome da liberdade de expressão", disse à BBC Brasil Nicolás Susena, coordenador da plataforma.

"Depois de ver cartazes na parada do orgulho gay com fotos do Papa Bento XVI e a frase 'cuidado com o pastor alemão' o que vamos esperar desta gente? É revoltante e me dá vergonha de ser espanhol numa sociedade deste nível." (O Estado de São Paulo, 19 de outubro de 2009)

segunda-feira, 12 de outubro de 2009



SÃO LUÍS IX, REI DA FRANÇA

Parte II


Valter de Oliveira




1245. O Concílio de Lion, na França, convocado por Inocêncio IV conclama os cristãos para nova cruzada. Mais uma vez iria se tentar a libertação da Terra Santa. Na mesma assembléia o Papa excomunga o imperador Frederico II. O resultado foi trágico. A luta entre o Papado e o Império irá crescer ainda mais.


Papa Inocêncio IV preside Concílio em 1245

Com efeito, diz François Michaud, a crise que já era grae foi aprofundada. A "cólera que animava o imperador e o Papa passou para o espírito do povo: corria-se às armas em todas as províncias da Alemanha e da Itália". Nesse clima talvez não tivéssemos tido uma nova cruzada caso não tivesse surgido "um monarca poderoso e respeitado": Luis IX, rei da França. (1)

Como isso se deu?

Um ano antes Luis havia caído gravemente enfermo. Espalhou-se a notícia que ele havia morrido. Toda a França estava imersa em profunda dor. Entretanto, continua Michaud, parece que o Céu não conseguiu resistir às orações e lágrimas do povo. Milagrosamente o rei voltou à vida, e a primeira coisa que fez foi "pedir a cruz e anunciar sua determinação de libertar a Terra Santa". Determinação que foi combatida por clérigos e nobres do círculo real. Seus argumentos foram infrutíferos. Restava uma última cartada: anunciar o fato à rainha Branca.

"Então a rainha sua mãe ouviu dizer que a palavra lhe tinha voltado, e ela mostrou por isso alegria tão grande quanto pôde. E quando soube que ele se tinha feito cruzado, assim que ele mesmo o contou, mostrou tão grande tristeza como se o visse morto".

São Luís embarca para as Cruzadas

O historiador francês pergunta: "Por que essa dor tão grande e tão espetacular? Duas angústias muito fortes se unem nela. Uma é simplesmente, ela o confessa, seu amor materno. Reverá ela algum dia o filho tão amado?"(...) Outra continua o autor, refere-se aos deveres do rei: "O afastamento para uma cruzada é compatível com "os deveres do soberano e as obrigações que lhe impõe a salvação do reino? (2)

Luis ficou comovido. Chorando, lançou-se nos braços da mãe. Depois, "retomando um ar calmo e sereno, disse: "Meus amigos, vós sabeis que minha resolução já é conhecida de toda a cristandade (...) Escrevi a todos os reis da Europa (...). Anunciei aos cristãos da Palestina que iria socorrê-los em pessoa (...). Que me propondes agora? Mudar projetos tão publicamente proclamados e nada fazer do que eu prometi (...); enganar ao mesmo tempo as esperanças da Igreja, dos cristãos da Palestina e de minha fiel nobreza?"

"No entretanto, como pensais que eu não estava em uso da razão quando tomei a cruz de além-mar, eu vo-la devolvo: ei-la a cruz que vos causa tantas apreensões e que eu recebi, como dizeis, num momento de delírio. Mas, hoje que estou plenamente no uso de minha razão, eu vo-la peço de novo e vos declaro que não tomarei nenhuma espécie de alimento antes que ela me seja restituída" (3)

E depois de convocar os ouvintes a apoiá-lo, lembrando que Deus velaria por seus filhos e pelo reino, que confiava na regência de sua mãe, que já salvara o Estado de tantos perigos, S. Luis completa:

"Deixai-me então manter todas as promessas que fiz diante de Deus e dos homens e não vos esqueçais de que há obrigações que são sagradas para mim e que devem ser sagradas para vós: o juramento de um cristão e a palavra de um rei".

Michaud completa: "Assim falou Luis IX. A Rainha Branca e o Bispo de Paris e os outros conselheiros do rei, ficaram em religioso silêncio; só pensaram em secundar o monarca em seus projetos e em apressar a execução de um empreendimento que parecia vir de Deus." (4)

Passou-se um certo tempo. As lutas entre o Papa e o Imperador continuavam. Luis quase teve êxito em levar a paz aos dois contendores. Ambos reconheciam a grandeza, o equilíbrio e o senso de justiça do rei franco. Entretanto, tais qualidades não foram suficientes para que se reconciliassem.

Com a crise na Europa a França era o único país onde todos se ocupavam seriamente da cruzada. A piedade e o zelo de Luís reanimavam a todos. Nobres e plebeus, clérigos e leigos, deram exemplos comoventes de desprendimento e de grandeza. O amor dos franceses por seu rei era impressionante. Comove-nos ainda hoje, após sete séculos.

É o que veremos no próximo artigo.


Notas:


1. MICHAUD, Joseph François. História das Cruzadas, Vol. IV, Ed. das Américas, São Paulo, 1956, p. 333

2 LE GOFF. Jacques. São Luís. Record, Rio de Janeiro, 1999. p. 632

3. MICHAUD, op. cit. p. 342

4. MICHAUD, op. cit. p. 343

segunda-feira, 5 de outubro de 2009



A MAIOR FALTA DO APÓSTOLO É O MEDO


João Paulo II

“Permanecem na minha memória as palavras pronunciadas pelo cardeal Stefan Wyszinski no dia 11 de maio de 1946 (...): “Ser bispo traz em si alguma coisa da Cruz, por isso a Igreja põe a Cruz no peito do bispo. Na Cruz é preciso morrer para si mesmo: sem isso não há plenitude de sacerdócio” (...)


“A esses pensamentos o cardeal voltou ainda numa outra ocasião: “Para um bispo a falta de fortaleza é o início da derrota” (1)


Também são suas estas palavras:

A maior falta do apóstolo é o medo. O que desencadeia o medo é a falta de confiança na força do Mestre; é esta que oprime o coração e aperta a garganta. O apóstolo para então de professar. Permanece apóstolo? Os discípulos que abandonaram o Mestre aumentaram a coragem dos algozes. Quem se cala perante os inimigos de uma causa, os fortalece. O temor do apóstolo é o primeiro aliado dos inimigos da causa. “Obrigar a calar através do medo” é o primeiro passo da estratégia dos ímpios.(2)

O terror utilizado em toda ditadura é calculado em base ao medo dos apóstolos. O silêncio possui sua eloqüência apostólica apenas quando não afasta o rosto de quem nele bate. Assim, calando, fez Cristo. Mas com aquele gesto demonstrou a própria fortaleza. Cristo não se deixou aterrorizar pelos homens. Saindo ao encontro da multidão disse, com coragem: “Sou eu” (3).


Realmente, não se pode voltar as costas à verdade, parar de anuncia-la, esconde-la, mesmo se se trata de uma verdade difícil, cuja revelação traz consigo uma grande dor. “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jó 8,32): aí está nossa tarefa e, ao mesmo tempo, nosso suporte! Aí não há espaço para cedências nem para um recurso oportunista à diplomacia humana. É preciso dar testemunho da verdade, mesmo a preço de perseguições, até a custo de sangue, como fez o próprio Cristo e como outrora fez também meu santo predecessor em Cracóvia, o bispo Stanislao di Szczepanów.


Seguramente encontraremos provações. Não há nada de extraordinário nisso, faz parte da vida de fé. Ás vezes as provas são leves, às vezes muito difíceis ou absolutamente dramáticas. Na provação podemos nos sentir sozinhos, mas a graça divina, a graça de uma fé vitoriosa não nos abandona nunca. Por isso podemos confiar que superaremos vitoriosamente toda provação, até a mais dura.” (4)


Notas:

1. Stefan Wyszynski, Zapiski wiezienne. Parigi: 1982, p. 251.
2. Os destaques são do blog claraval.
3. Stefan Wyszynski, Zapiski. Id., p.94.
4. João Paulo II. Levantai-vos! Vamos! São Paulo, Editora Planeta, 2004, p.185-187.